“Sentada em frente à televisão e com o controlo remoto na mão, vou fazendo zapping por todos os canais até encontrar algo que me desperte a atenção. Foi quando vi, numa reapresentação do Programa Roda Viva, o filósofo esloveno Slavoj Zizek que veio ao Brasil, em Outubro de 2008, para o lançamento do seu livro “Visão em Paralaxe”. Ele apresenta num nervosismo típico de quem pensa muito mais rápido do que suas palavras possam alcançar. Dentre os diversos assuntos ali questionados um em especial chamou-me a atenção, quando ele fala que hoje em nossa sociedade a palavra de ordem e politicamente correcta é TOLERÂNCIA. Tolerância, para este filósofo, é um logro. Ele diz que derrubamos o muro de Berlim, mas erguemos outros muros invisíveis, citando como exemplo, os palestinianos e o impedimento da entrada dos mexicanos nos EUA. Na realidade o que querem dizer com tolerância seria “Não se aproxime de mim, fique onde está e estará tudo bem”. Trazendo o tema para outros campos onde a intolerância impera, como no campo religioso, étnico, das identidades sexuais, etc...vemos que a frase acima denota a realidade nua e crua. Disfarçamo-nos de tolerantes quando somos, na realidade, intolerantes com o diferente. Para os grupos sociais a verdade sempre está com aquele grupo. Entre o multiculturalismo e o universalismo, qual seria a solução? Para o filósofo, nenhuma das duas correntes é solução para o conflito. Mas , a grande resposta deste filósofo está na solução através da política. Ninguém precisa de “tolerar” o outro, o que nos dá uma ideia de superioridade acima daquele que eu tolero. Mas, necessariamente, saber que os direitos do outro são iguais aos meus. Se você tem o direito de ser e estar em uma religião e exercê-la, o outro também o tem. Se você tem o direito de expressar a sua opinião, de ter suas opções sexuais, o outro também tem esse direito. “O mesmo processo de falsificação do problema acontece com o racismo, que cada vez mais passa a ser tratado como uma questão de tolerância. O pensador afirmou que Martin Luther King Jr. – importante activista americano dos direitos civis dos negros – falava de problemas económicos e sociais para abordar o racismo e não de intolerância. E comparou a questão com a luta das mulheres por direitos iguais: “Imagina se elas reivindicassem tolerância dos homens?” Quando ele falou tão assustadoramente inquieto sobre este tema focando-o desta forma, realmente tirou dos meus ombros o peso de carregar este fardo. Eu sentia mas não sabia o que era. Incomodava-me essa coisa de ‘tolerarmos’ os outros. Não, nós não precisamos de tolerar os outros. Temos que aceitar, querendo ou não, observando que os direitos são iguais.”(Texto adaptado).
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Imagem da autoria de Attenya
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