sábado, 6 de dezembro de 2014

A Ação Humana - Ficha Formativa 04


"Suponhamos que apanhei o comboio e paguei o meu bilhete. Durante o  percurso vou distraído, pensando nas minhas coisas, sem me dar conta de que brinco com o pedacito de cartão, enrolo-o e desenrolo-o, até que finalmente o atiro descuidadamente pela janela aberta. Nessa altura aparece-me o cobrador e pede-me o bilhete: desespero e provavelmente vou levar uma multa. Posso apenas murmurar para me desculpar: " Atirei-o da janela...sem me aperceber." O revisor, que é também um pouco filósofo, comenta: "Bom, se não se apercebeu do que estava do que estava a fazer, não pode dizer que o tenha atirado pela janela. É como se ele tivesse caído".

Mas eu não estou disposto a aceitar essa restrição: "Desculpe, mas uma coisa é que me tenha caído o bilhete e outra tê-lo atirado, mesmo que o tenha feito inadvertidamente." Parece que esta discussão agrada mais ao revisor do que multar-me: " Veja, "deitar fora" o bilhete é uma ação, algo diferente de que nos caia, que é apenas uma dessas coisas que acontecem. Quando alguém faz uma ação é porque uma dessas coisas que acontecem. Quando alguém faz uma ação é porque quer fazê-la, não é verdade? Mas em contrapartida as coisas acontecem sem querer. De maneira que como você quis atirar o bilhete podemos dizer que na realidade ele lhe caiu.". Revolto-me contra esta interpretação mecanicista: "Não e não! Poderíamos dizer que o bilhete me tinha caído se eu tivesse adormecido, por exemplo, ou até se uma rabanada de vento mo tivesse atrancado da mão. Mas eu estava bem acordado, não fazia vento e o que acontece é que atirei o bilhete sem querer." "Basta disse o revisor riscando o seu caderno com um lápis -, E se não o quis fazer, como é você sabe que foi você, exactamente você, quem atirou? Porquê "atirar" uma coisa é fazer uma coisa e ninguém pode fazer uma coisa se não quiser fazê-lo." "Pois sabe o que lhe digo? Atirei a porcaria do bilhete porque me deu na realíssima gana!"

A verdade é que existe uma diferença entre o que simplesmente me acontece (viro um copo com um safanão na mesa ao ir buscar o sal), o que faço sem me dar conta e sem querer ( o belo do bilhete atirado pela janela), o que faço sem me dar conta mas segundo uma rotina adquirida voluntariamente (como meter os pés nos chinelos quando me levanto da cama meio adormecido) e o que faço apercebendo-me e querendo (atirar o revisor bruscamente pela janela para que vá buscar o bilhete). Parece que a palavra "ação" é uma palavra que apenas convém à última destas possibilidades. É evidente que ainda existem outros gestos difíceis de classificar mas que à partida parecem qualquer coisa menos "ações": por exemplo, fechar os olhos e levantar o braço quando alguém me atira alguma coisa à cara ou procurar algo a que me agarrar quando estou quase a cair. Não decididamente um "ação" é apenas o que eu não teria feito se não tivesse querido fazê-lo: chamo ação a um ato voluntário. O "finado" revisor tinha portanto razão...

Mas como podemos saber se um ato é voluntário ou não? Porque talvez antes de o levar a cabo pondero entre várias possibilidades e finalmente decido-me por uma delas.
Claro que não é o mesmo "decidir-me a fazer algo" que "fazê-lo”. “Decidir-se" é por fim a uma deliberação mental sobre o que quero realmente fazer. Mas uma vez decidido, tenho ainda que fazer. O que decido é o objectivo ou fim da minha ação, mas talvez não a própria acção. Por exemplo decido apanhar o copo e estendo o braço para o apanhar. O que é que decidi realmente fazer, apanhar o copo ou estender o braço? E qual é a verdadeira ação: apanhar o copo ou estender o braço? Se estendo o braço e deixo fora o copo posso dizer que agi ou não ? Ou agi a meias?"
Fernando Savater, As Perguntas da Vida

Responda às seguintes questões colocadas no texto:

1. Como podemos saber se um ato é voluntário ou não?

2. Decido apanhar o copo e estendo o braço para o apanhar. O que é que decidi realmente fazer, apanhar o copo ou estender o braço? E qual é a verdadeira ação: apanhar o copo ou estender o braço?


Correção (clique no link abaixo para aceder):


A Ação Humana - Ficha Formativa 03




Texto 1
O João deseja herdar uma fortuna. O seu pai é muito rico, mas nunca o ajudou, sempre foi distante e desinteressado pelo filhos. É até provável que o pai acabe por deserdá-lo.  Quando se dirigia para o trabalho ao volante do seu carro, preocupado com o facto de já estar atrasado, acelera para tentar ganhar tempo, ao mesmo tempo que lhe vem à ideia que e o melhor a fazer para resolver de vez todos os seus problemas seria matar o seu pai abastado. Mas este pensamento põe-no ainda mais nervoso que, ao conduzir desajeitadamente o seu carro, mata um peão que atravessava na passadeira depois de se ter acendido o sinal verde para os peões. Quando sai do carro descobre que o peão que acabava de atropelar é o seu pai!

1. O João deve ser julgado e condenado por parricídio? Ele, de facto, assassinou o seu pai?

2. Os membros de uma família estão sentados à mesa a comer uma feijoada. Estão todos a fazer a mesma ação ou ações diferentes? Justifique com base na rede conceptual da ação.



Correção:

1. A atribuição da responsabilidade depende de determinarmos se a morte de seu pai constitui, ou não, uma ação do João.
Temos, então, de procurar qual é o aspeto que nos permite dizer que um acontecimento é uma ação.
Será a sua associação a um ser humano? Mas há acontecimentos que envolvem pessoas, mas que claramente não são ações – por exemplo, escorregar.
Será a existência de movimentos corporais? Mas há ações sem movimento corporal (estar imóvel a estudar) e há movimentos corporais que não são ações (respirar).
Uma outra resposta a este problema afirmaria que a intenção é aquilo que distingue os acontecimentos que contam como ações:
Um acontecimento é uma ação apenas no caso de ser possível descrevê-lo de forma a exibir a presença de uma intenção no agente.
Neste caso, o João não tinha a intenção de atropelar alguém, muito menos o seu pai (a hipótese de poder matá-lo para herdar a fortuna não passou de uma ideia sem nexo, como tantas que nos ocorrem e que acabamos por considerar absurdas). O atropelamento é, assim, um ato involuntário, não é o resultado de uma deliberação da vontade do João.
Logo, o João não assassinou o seu pai: de facto, ele nem sabia que se tratava do seu pai. Contudo, o João é responsável pela condução imprudente, mas isso é outra questão, fosse quem fosse que atravessasse a passadeira naquele momento seria atropelado, quis o acaso que fosse o seu pai.

2. Por um lado, podemos dizer que todos os familiares estão a comer a mesma coisa, no mesmo local e à mesma hora.
Por outro lado, cada pessoa poderá possuir uma intenções diferentes ao comer (apenas matar a fome, regozijar-se com o sabor dos feijões, etc.) e os seus movimentos físicos não são inteiramente coincidentes nem no espaço nem no tempo.
Pode dizer-se que aquelas pessoas estão a praticar ações diferentes. Isto se olharmos apenas ao ato de comer. Contudo, se aquela refeição tivesse um objectivo que transcendesse a ingestão dos alimentos, a coisa pode mudar de figura: pode tratar-se de uma festa de aniversário.
Nesse caso todos estariam ali com a mesma intenção: celebrar o aniversário de um familiar. É que há ações que só podem fazer-se através da cooperação entre diversos agentes. Mas mesmo assim cada um estaria a agir de forma voluntária e em cada um a ação assumiria uma tonalidade diferente.


A Rede Conceptual da Ação




Texto 1 - O homem e o Animal

      “Os animais (para já não falar nos minerais e nas plantas) não podem evitar ser como são e fazer aquilo que naturalmente estão programados para fazer. Não se lhes pode censurar que o façam nem aplaudi‑los pelo que fazem, porque não sabem comportar‑se de outro modo. As suas disposições obrigatórias poupam‑lhes sem dúvida muitas dores de cabeça.
Em certa medida, de início, nós, os homens, também estamos programados pela Natureza. Estamos feitos para beber água, e não lixívia, e tomemos as precauções que tomarmos, mais cedo ou mais tarde, morreremos. E de modo menos imperioso mas análogo, o nosso programa cultural, é também determinante: o nosso pensamento é condicionado pela linguagem que lhe dá forma (uma linguagem que nos é imposta de fora e que não inventámos para nosso uso pessoal) e somos educados em certas tradições, hábitos, formas de comportamento, lendas...; numa palavra, são‑nos inculcadas desde o berço certas fidelidades e não outras. Tudo isto pesa muito e faz com que sejamos bastante previsíveis.
     Com os homens nunca podemos ter bem a certeza, ao passo que com os animais, ou outros seres naturais, sim. Os castores fazem represas nos ribeiros e as abelhas favos com alvéolos hexagonais:
não há castores que se sintam tentados a fazer alvéolos de favos, nem abelhas que se dediquem à engenharia hidráulica. No seu meio natural cada animal parece saber perfeitamente o que é bom e o que é mau para ele, sem discussões nem dúvidas.
     Por grande que seja a nossa programação biológica ou cultural, nós, seres humanos, podemos acabar por optar por algo que não está no programa (pelo menos que lá não está totalmente). Podemos dizer «sim» ou «não», «quero» ou «não quero». Por muito apertados que nos vejamos pelas circunstâncias, nunca temos um só caminho, mas sempre vários.”                                        
Fernando Savater, Ética para um jovem.(Texto adaptado)

Texto 2 - Nem todos os atos do homem são atos humanos

"Deixando de lado alguns usos puramente técnicos da palavra ‘ação’ (por exemplo, ação como participação no capital de uma empresa), o núcleo significativo da palavra assenta na produção ou causação de um efeito. A palavra ‘ação’ emprega-se às vezes para falar de animais não humanos (diz-se que a ação das cigarras é benéfica para a agricultura) ou, inclusive, de objetos inanimados (diz-se que a gravitação é uma forma de ação à distância ou que a toda a ação exercida sobre um corpo corresponde uma ação igual de sentido contrário). Mas sobretudo usamos a palavra ‘ação’ para nos referirmos ao que fazem os humanos. Aqui só nos interessa este tipo de ação, a ação humana.
As nossas ações são (algumas das) coisas que fazemos. Na realidade o verbo ‘fazer’ cobre um campo semântico bastante mais amplo que o substantivo ‘ação’. O latim distingue o agere do facere (aos quais corresponde em português agir e fazer). Ao substantivo latino actio, derivado de agere, corresponde o substantivo ação. Assim, até de um ponto de vista etimológico, ‘ação’ só carrega a carga semântica de ‘agir’ e não propriamente de ‘fazer’.
Tudo quanto realizamos é parte da nossa conduta, mas nem tudo o que realizamos constitui uma ação. Enquanto dormimos realizamos muitas coisas: respiramos, suamos, damos voltas, apertamos a cabeça contra a almofada, sonhamos, talvez ressonemos alto ou falemos em voz alta ou andemos sonâmbulos pela casa. Todas estas coisas as realizamos inconscientemente, enquanto dormimos. Realizamo-las mas não damos conta delas, não temos consciência de que as realizamos. A estas coisas que fazemos inconscientemente não lhes vamos chamar ações. Vamos reservar o termo ‘ação’ para as coisas que realizamos conscientemente, dando-nos conta de que as fazemos.
Há, no entanto, coisas que fazemos conscientemente, dando-nos conta delas, mas sem que à sua realização corresponda uma intenção nossa. Damo-nos conta dos nossos ‘tiques' e de muitos dos nossos atos reflexos, mas realizamo-los involuntariamente, constatamo-los como espectadores, não os efetuamos como agentes. (A palavra ‘agente’ é outra das palavras derivadas do verbo latino agere). Por algo que sentimos depois de comer damo-nos conta de que estamos a fazer a digestão. Mas fazer a digestão não constitui (normalmente) uma ação. Pelos sorrisos dos que nos observam damo-nos conta de que estamos a ser ridículos. Mas ser ridículo (praticar atos ridículos) não é uma ação, mas uma reação, algo que nos passa despercebido e que lamentamos (a não ser que o façamos de propósito, como provocação; neste caso já seria uma ação). Também não chamamos ação a esses aspectos da nossa conduta de que nos damos conta, mas que não efectuados intencionalmente. No presente estudo limitar-nos-emos às ações humanas conscientes e voluntárias, às que daqui em diante chamaremos ações (sem mais).
Uma ação é uma interferência consciente e voluntária de um homem ou de uma mulher (o agente) no normal decurso das coisas, que sem a sua interferência haveriam seguido um caminho distinto do que por causa da ação seguiram. Uma ação consta, pois, de um evento que sucede graças à interferência de um agente e de um agente que tinha a intenção de interferir para conseguir que tal evento sucedesse.
Jesús MOSTERÍN - Racionalidad y Acción Humana.


Texto 3 - Os elementos constitutivos da ação

“Para compreendermos o que é a ação, e para a podermos distinguir dos outros atos do homem, temos que ter em conta os diversos elementos que a constituem.
 Graças a eles podemos compreender porque é que alguém agiu de determinada forma, o que é que essa pessoa queria efetivamente realizar com a sua acção, quais as consequências dessa ação e qual a sua responsabilidade face a essas consequências. É isso que acontece, por exemplo, na investigação criminal, mas não é preciso ir tão longe: em qualquer situação em que nos deparemos com uma ação, se não conhecemos todos os seus contornos, somos levados a levantar as seguintes questões:

1. Quem agiu (‘quem fez isto?’)?
2. Porquê? Com que motivo?
3. Para quê? Com que intenção? Com que finalidade?
4. Quais as consequências dessa acção? Todas elas foram ponderadas pelo agente?

A primeira questão remete-nos para o autor da ação, para o agente. Ora para que alguém seja agente de uma ação, é necessário que estejamos perante um ser dotado de consciência racional e de uma vontade livre. Assim, o agente é responsável pelas ações que pratica, porque estas são atos voluntários que resultam de uma deliberação. Podemos então concluir que todos os atos que nascem da nossa liberdade são da nossa responsabilidade. E responsabilidade, a este nível, significa que é o agente quem responde pelas suas cções e pelas respectivas consequências (sejam elas boas ou más), porque não há ninguém acima da sua liberdade: o agente age porque quer, ele é dotado de uma vontade soberana, ele é senhor das suas ações.
A segunda questão refere-se ao motivo da ação. Toda a ação é motivada, ou seja tem que existir uma causa, interna ou externa, que leve o agente a tomar a decisão de agir. Se não tivermos uma motivação para fazermos algo, não o fazemos. Assim, o motivo é a causa que suscita no agente a vontade de agir, que o leva, num dado momento, a preferir fazer uma coisa e não outra. Uma pessoa pode estar confortavelmente sentada a ouvir música, mas se sentir fome, pode decidir ir à cozinha fazer um lanche, por sentir fome. Pode, também, decidir ir estudar, por ter que realizar testes de avaliação na escola. Ou pode decidir desligar a aparelhagem por começar a sentir dores de cabeça.
A terceira questão tem a ver com a intenção do agente. Há quem considere que a intenção é a chave para a compreensão de uma ação. De facto, se nos situarmos num ponto de vista moral, para sabermos se uma ação é boa ou má, temos que conhecer a intenção do agente, temos que saber o que é que ele queria alcançar com a sua ação, quais os fins que ele queria atingir, enfim, o que é que ele projetou quando decidiu agir daquela forma. Por exemplo, se acontecer um incêndio de grandes proporções, e se as autoridades descobrirem que esse incêndio começou devido à ação de um determinado indivíduo, só poderão saber se esse indivíduo, que é responsável pelas suas ações, é criminalmente  responsável  pelo incêndio, depois de descobrirem qual a intenção desse indivíduo. Se ele acendeu uma pequena fogueira para assar sardinhas, e se uma rajada de vento espalhou as brasas ateando o incêndio, esse indivíduo pode não  ser criminalmente responsável pelo incêndio, apesar de, em última instância, ser o causador do mesmo. Caso tenha havido incúria, ou o desrespeito por uma proibição de atear fogo nesse local, então, nesse caso, o agente será criminalmente responsável, mesmo se a sua intenção não era provocar um incêncio. Mas se, por outro lado, se apurar que esse indivíduo agiu com a intenção de, através do incêndio, provocar danos a terceiros, motivado pelo ódio, então ele é duplamente responsável: ele é responsável por ser o causador do incêndio, e é criminalmente responsável, porque a sua intenção era criminosa.
Por fim, em relação à quarta questão, temos as consequências da ação. E elas existem porque todas as ações têm um impacto sobre o real, o agente interfere com a realidade, a sua ação é um acontecimento que dá origem a outros acontecimentos que, por sua vez, podem ter efeitos positivos ou negativos na vida das outras pessoas. O agente é, direta ou indiretamente, responsável pelas consequências das suas ações, mas a sua responsabilidade moral, só pode ser aferida tendo em conta a intenção que presidir a cada uma dessas ações. Isto faz com que o agente tenha o dever de pensar nas consequências das suas ações, antes de as pôr em prática. E, mesmo assim, podem acontecer resultados imprevistos, porque nós temos o poder de decidir fazer algo, mas não controlamos a forma como a realidade se vai comportar em relação às  nossas ações.”


Atividades:

1. De acordo com o texto 1, o que é que distingue o homem dos outros animais? Justifique a sua resposta.

2. Todos os atos do homem são ações? O que é necessário para considerarmos um ato do homem uma ação? Justifique a sua resposta.

3. Pode dizer-se que os animais agem? Justifique a sua resposta.

4. Identifique e caracterize, por palavras suas, os elementos constitutivos da ação.

5. Comente a seguinte afirmação do texto 3: “E responsabilidade, a este nível, significa que é o agente quem responde pelas suas acções e pelas respectivas consequências (sejam elas boas ou más)”.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A Ação Humana - Ficha Formativa 02

Escolha apenas uma opção em cada item.
Deve escolher a opção mais correta.

1. Os atos involuntários:

A. São sempre conscientes e são específicos do ser humano;
B. são sempre inconscientes e são específicos dos animais;
C. podem ser conscientes ou inconscientes e são comuns aos homens e aos animais;
D. são sempre inconscientes e são específicos do ser humano.

2. O que distingue os atos voluntários dos atos involuntários:

A. É que os primeiros são conscientes e os segundos, inconscientes;
B. é que os primeiros são inconscientes e os segundos são conscientes;
C. é que os primeiros são causados pela vontade do agente;
D. é que os segundos são causados pela vontade do agente.

3. Os atos involuntários:

A. Estão dependentes do mecanismo do estímulo-resposta;
B. dependem da vontade do agente;
C. são atos intencionais;
D. não são motivados.

4. Os atos voluntários são próprios do homem. Esta afirmação é:

A. Verdadeira, porque só o homem possui liberdade;
B. falsa, porque os animais têm liberdade;
C. verdadeira, porque só os homens têm uma programação biológica;
D. falsa, só o homem possui liberdade.

5. O comportamento humano não é totalmente previsível, porque:

A. Os seres humanos podem sempre escolher fazer o que não está 'programado';
B. os seres humanos nascem programados biologicamente;
C. os seres humanos, para além de uma programação biológica têm uma programação cultural;
D. o comportamento humano é fruto do acaso.

6. Segundo o determinismo radical:

A. O ser humano é livre de escolher o seu destino;
B. todos os comportamentos, mesmo os dos seres humanos, dependem da causalidade natural;
C. a liberdade é uma característica fundamental da natureza humana;
D. os seres humanos não estão totalmente dependentes da causalidade natural.

7. 'O João sentiu fome. Como estava em casa foi ao frigorífico e reparou que tinha todos os ingredientes para fazer uma sandes de fiambre. Decidiu, então comer uma sandes e beber um copo de leite. Depois deste lanche sentiu-se saciado.' 
Das seguintes opções, escolha a que melhor identifica os elementos constitutivos desta ação:

A. Agente: o João; Motivo: a fome; Intenção: a decisão de comer uma sandes e beber um copo de leite; Consequência(s) da ação: a saciedade;
B. Agente: o João; Motivo: a decisão de comer uma sandes e beber um copo de leite; Intenção: a fome ; Consequência(s) da ação: a saciedade;
C. Agente: o João; Motivo: o sentir-se saciado; Intenção: a fome ; Consequência(s) da ação: a decisão de comer uma sandes e beber um copo de leite;
D. Agente: o João; Motivo: a decisão de comer uma sandes e beber um copo de leite; Intenção: a saciedade; Consequência(s) da ação:  a fome.

8. Nem tudo o que fazemos é uma ação. Esta afirmação é...

A. falsa, porque tudo o que envolve um agente é uma ação;
B. verdadeira, porque só existe uma ação se o sujeito tiver a intenção de fazer algo;
C. falsa, porque tudo o que o sujeito faz de forma consciente é uma ação;
D. verdadeira, porque há acontecimentos que não envolvem sujeitos.

9. Todas as ações resultam de uma decisão. Esta afirmação é...

 A. verdadeira, porque fazer algo intencionalmente implica sempre uma escolha;
 B. falsa, porque os atos involuntários não resultam de decisão;
 C. verdadeira, porque a ação é voluntária e consciente;
 D. Falsa, porque a decisão implica escolha, tendo consciência de que há ações alternativas.

10. Se não há intenção, então não há ação. Esta afirmação é...

A. verdadeira, porque não há ação sem o propósito ou objetivo de fazer algo;
B. falsa, porque pode haver intenção sem ação;
C. verdadeira, porque a intenção faz parte da rede conceptual da ação;
D. falsa, porque existem ações que não se explicam.

11. O motivo é...

 A. a crença que acompanha a ação;
 B. o objetivo a alcançar com a ação;
 C. a justificação ou o porquê da ação;
 D. a relação entre a deliberação e a decisão da ação.

12. Não fazer nada, pode ser uma ação. Esta afirmação é...

A. verdadeira, porque o agente pode estar intencionalmente a não fazer nada;
B. falsa, porque só existe ação se o sujeito realiza algo;
C. verdadeira, porque não fazer nada é um acontecimento;
D.  Falsa, porque não fazer nada é sempre uma ação.

13. A ação é um acontecimento...

 A. porque ocorre, de forma involuntária, no espaço e no tempo;
 B. porque é algo que é feito por alguém;
 C. que um agente realiza intencionalmente;
 D. quando o sujeito tem consciência do que faz

Correção:

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Questões filosóficas - 10ºD (2014/2015)

1.      O que é a felicidade?
2.      Temos a obrigação de viver? Temos a obrigação de viver, mesmo sofrendo?
3.      Temos o direito de tirar a vida a alguém (eutanásia)?
4.      O que é a vida?
5.      Será que estamos a viver um filme?
6.      Será que vale a pena lutar por uma coisa que nos poderá matar?
7.      O que é a força de vontade?
8.      O que é a coragem?
9.      Será que o ser humano é um perigo para si próprio?
10.   O que é a valorização (de alguém)?
11.   Porque é que se matam os animais que estão em sofrimento e às pessoas não?
12.   Devemos enfrentar os nossos medos?
13.   Escolher morrer (no caso da eutanásia)  implica coragem?
14.   Deverá existir igualdade nos desportos?
15.   Porque é que os seres humanos sentem necessidade de se 'prenderem' a alguém?
16.   O que é o medo?
17.   O que é o sonho?
18.   Temos o direito de apressar a morte?
19.   Será que morremos quando morremos?
20.   Será que existe uma força superior ao ser humano?
21.   Temos o dever de pensar nos nossos familiares quando ponderarmos a eutanásia?
22.   O que é ter um rosto? Os animais têm um rosto?
23.   Porque é que morremos?
24.   Será que o sofrimento nos faz amadurecer?


quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A Ação Humana - Ficha Formativa 01

UNIDADE 1
A ACÇÃO HUMANA – ANÁLISE E COMPREENSÃO DO AGIR.
1.    A REDE CONCEPTUAL DA ACÇÃO

1. O que é uma acção?

2. Por que razão uma acção é um acontecimento?

3. Todas as acções são acontecimentos. Por que razão nem todos os acontecimentos são acções?

4. Imaginemos que, inadvertidamente, escorrego numa casca de banana e acabo por entornar uma garrafa de Coca-Cola em cima do livro de um colega que estudava comigo no bar da escola. Sujar o livro do colega foi algo que eu fiz. Mas será isto uma acção?

5. Uma acção é um acontecimento intencionalmente causado por um agente. Esclareça e dê exemplos.

6. O que se entende por rede conceptual da acção?

7. O que é a intenção?

8. Que relação existe entre a intenção e a explicação de uma acção?

9. Que relação existe entre intenções, desejos e crenças?

10. O que é o motivo de uma acção?

11. Que relação existe entre motivo e intenção?

12.O que é a deliberação?

13. O que é a decisão?

14. O que são as consequências de uma acção?

15. Considere a seguinte acção: Vou à farmácia comprar um medicamento para tratar uma dor de cabeça. Tente descrevê – la e explicá – la usando os conceitos fundamentais que a tornam inteligível ou compreensível (deliberação, decisão, intenção, motivo).

16.Consideremos os dois seguintes acontecimentos: a) José vai a uma clínica médica fazer um exame de rotina e b) um ribeiro transborda e inunda as ruas de uma cidade. Será que podem ser explicadas

17. Em que consiste a responsabilidade (moral)?

18. Em que condições é que uma pessoa é moralmente responsável? Em que condições pode ser considerada moralmente responsável por um acontecimento? Em que condições atribuímos responsabilidade moral a um agente?

19. O que significa dizer que um agente podia não ter feito o que fez?

20. Que relação há entre agir livremente e ser moralmente reponsabilizado pelo que se faz?

21. Por que razão o problema do livre - arbítrio é um problema importante do ponto de vista prático?





Respostas:


1. O que é uma acção?

Uma acção é um acontecimento cujo autor (ou origem) é um agente que o causa voluntaria e intencionalmente. Uma acção é um acontecimento desencadeado pela vontade e intenção de um agente. Não é um simples acontecimento, não é simplesmente algo que um agente faz, é algo que um agente faz acontecer intencional ou propositadamente.

2. Por que razão uma acção é um acontecimento?

Um acontecimento é algo que se verifica num certo momento e num certo lugar. Em linguagem mais técnica, é um evento espacio – temporalmente enquadrado. Imaginemos que o João decide ir à praia. Tem de ir a uma praia situada num certo lugar – Vilamoura no Algarve, Portinho da Arrábida em Setúbal ou Praia do Castelo na Costa da Caparica – e num determinado momento - normalmente no Verão, de manhã ou de tarde. Ficaríamos muito surpreendidos se João dissesse que foi a uma praia em momento algum e que não ficasse em lado nenhum.

3. Todas as acções são acontecimentos. Por que razão nem todos os acontecimentos são acções?

Nem tudo o que acontece é uma acção, ou seja, se todas as acções são acontecimentos nem todos os acontecimentos são acções. Um furacão – uma tempestade, um raio de sol, o arco-íris, etc, - é um acontecimento mas não uma acção porque não tem carácter voluntário ou intencional. Uma acção é algo que acontece devido à vontade e intenção consciente de um sujeito.

4. Imaginemos que, inadvertidamente, escorrego numa casca de banana e acabo por entornar uma garrafa de Coca-Cola em cima do livro de um colega que estudava comigo no bar da escola. Sujar o livro do colega foi algo que eu fiz. Mas será isto uma acção?

Não, porque não tive intenção de sujar o livro do meu colega, não o fiz de propósito. Estamos perante algo que eu fiz sem querer e assim sendo o livro foi estragado pelo que me aconteceu e não propriamente por mim. Ter sujado o livro do meu colega nada tem de voluntário. O agente não o podia evitar.

5. 'Uma acção é um acontecimento intencionalmente causado por um agente'. Esclareça e dê exemplos.

Uma acção tal como é habitualmente definida é um comportamento desencadeado, dirigido e controlado por um agente. O que fazemos involuntariamente – seja de forma consciente ou inconsciente – não conta como acção.
 Os exemplos são muitos: empurrar alguém para que caia na piscina, estudar para o teste de modo a obter bom resultado, cozinhar, treinar intensamente para ser campeão olímpico, ser fiel para não destruir o casamento, etc.

6. O que se entende por rede conceptual da acção?

A rede conceptual da acção é o conjunto de conceitos que usados nas frases que descrevem e explicam acções nos permitem compreender e explicar as acções. Os conceitos mais importantes a este respeito são conceitos como agente, motivo, intenção e consequências da ação.

7. O que é a intenção?

A intenção é o propósito ou o objectivo da acção. Voltando a um exemplo dado: alguém escorrega e deixa cair a comida do tabuleiro em cima dos livros de um colega, danificando – os. O agente deste acontecimento pode alegar que não tinha a intenção – que não era seu propósito ou objectivo – causar esses estragos. Não foi para isso que se desequilibrou.

8. Que relação existe entre a intenção e a explicação de uma acção?

Explicar uma acção é indicar a sua causa. A causa de uma acção é a intenção ou o propósito do agente ao realizá – la. Se poupo dinheiro com o objectivo de inscrever o meu filho no Instituto Britânico, essa intenção é que explica a minha acção.

9. Que relação existe entre intenções, desejos e crenças?

As intenções são estados mentais frequentemente associados a outros estados psicológicos que são as crenças e os desejos do agente. Voltemos ao exemplo anterior: poupo dinheiro com o objectivo de inscrever o meu filho no Instituto Britânico, essa intenção é que explica a minha acção. Na origem da minha intenção está um desejo que pretendo realizar – quero inscrever o meu filho no I.B. Poupo dinheiro para isso porque acredito – crença – que esse e não um empréstimo bancário ou a ajuda de um familiar é o melhor meio para atingir esse fim ou objectivo. O desejo de inscrever o meu filho no I.B. é condição necessária para ter a intenção de fazer tal inscrição. Mas não chega, não é condição suficiente para explicar a acção. Com efeito, há outros institutos onde inscrever o meu filho para aprender Inglês. Aqui entra em jogo outro factor psicológico: a crença ou convicção.
É por acreditar que a melhor forma de aprender Inglês é inscrever o meu filho no I.B. que opto por fazê – lo em vez de o matricular noutros institutos.

10. O que é o motivo de uma acção?

O motivo é a justificação, o porquê ou a razão de ser da acção. Tenho a intenção de inscrever o meu filho no I.B. e desejo fazê – lo julgando que é onde aprenderá melhor essa língua. Qual é a razão de ser fundamental da acção, qual a sua motivação? Podemos supor que é a crença de que dominar a língua inglesa é um requisito essencial no actual mundo do trabalho e da investigação científica - «Não vai longe se não souber bem Inglês» - e o desejo de que o meu filho seja bem sucedido profissionalmente, de que não lhe falte um instrumento de trabalho muito importante. Este desejo e esta crença acompanham e esclarecem o motivo da minha acção, explicam – na, dão a conhecer a sua razão de ser. Como se vê as crenças e os desejos do sujeito estão associados à intenção e à motivação do sujeito que age.
NOTA - Por vezes é difícil distinguir entre o que me move a agir (o motivo) e o que quero conseguir ao agir (o fim). Há quem resolva o problema distinguindo o motivo como causa do motivo como fim. Motivo como causa: o motivo pelo qual vou ao multibanco levantar dinheiro é o facto de não ter dinheiro nenhum na carteira; o motivo pelo qual entro num restaurante é o facto de ter fome. Motivo como fim: o motivo pelo qual vou levantar dinheiro ao multibanco é querer comprar um par de sapatos; o motivo pelo qual entro num restaurante é o de, ao almoço, ir tratar de um negócio importante com um cliente da minha empresa.

11. Que relação existe entre motivo e intenção?

A relação é a seguinte: saber qual o motivo da acção, o seu porquê ou razão de ser, clarifica a intenção do agente, torna possível e é necessário para que compreendamos a intencionalidade da acção. Se um agente tem a intenção de fazer algo – inscrever o filho no I.B. – saber o que o motiva torna mais claro o seu propósito e esclarece – nos quanto a opções que podia tomar e não tomou. Teremos por outras palavras a justificação da intenção. As noções de motivo e de intenção estão extremamente próximas umas da outra porque só falamos de acções intencionais se elas forem determinadas por um motivo ou razão que as justifique: uma acção é realizada intencionalmente quando é realizada por algum motivo.
A íntima ligação entre motivo e intenção pode exemplificar-se: dizer que o motivo pelo qual Miguel quer ser actor de cinema é viver uma vida mais plena é aproximadamente o mesmo que dizer que a sua intenção é a de exercer uma profissão que lhe permitirá ser ele próprio e, ao mesmo tempo, sob a forma de representação, outros seres humanos. Quando perguntamos "0 que quer fazer aquele que age?", referimo-nos à intenção, ao que o agente pretende ser ou fazer. A intenção de Miguel é ser actor de cinema.
Quando perguntamos "Por que razão quer Miguel ser actor de cinema", a resposta apresentar-nos-á o motivo dessa decisão, tomando-a inteligível ou compreensível: quer ser actor de cinema por esta ou por aquela razão (porque satisfaz o seu desejo de fantasia, de libertação face à rotina da vida real ou comum).

12. O que é a deliberação?

A deliberação é um processo reflexivo que, em princípio, ou seja, em muitos casos antecede a decisão. Orientados por determinadas razões, ponderamos qual a melhor opção a tomar entre várias alternativas possíveis. Quero que o meu filho aprenda Inglês num instituto de línguas. O motivo que esclarece essa intenção é: tenho dinheiro para pagar a despesa (motivo como causa) ou quero que esteja bem preparado para enfrentar o mundo do trabalho (motivo como fim). Há várias alternativas, ou seja, vários institutos onde pode aprender. Ao deliberar pondero os prós e os contras da decisão que vou tomar. Escolho o I.B. após deliberar e concluir que esse instituto é o melhor para o efeito pretendido.

13. O que é a decisão?

A decisão é um acto que resulta frequentemente de um processo denominado deliberação. O motivo pelo qual agimos ou a intenção que nos orienta para um determinado fim implica também a decisão de o alcançar. Na maior parte dos casos, decidir supõe escolher entre vários rumos possíveis de acção, entre várias possibilidades ou alternativas.
É o que acontece com alguém que no momento de decidir o seu futuro profissional decide tornar-se aquilo que escolheu (ser actor de cinema), considerando isso preferível a outra possibilidade em aberto (ser gestor de empresas). A decisão incide no que é possível ao agente, no que está ao seu alcance e é realizável.

14. O que são as consequências de uma acção?

As consequências de uma acção são o modo como o resultado da nossa acção afecta os outros e também a nós próprios.
Alguém quis tornar – se actor de cinema e tornou - se um actor de cinema famoso. Que consequências teve esse facto? Tomou-se admirado quer no estrangeiro quer no seu país, saiu (por boas razões) do anonimato a que milhões de seres humanos parecem destinados, recebeu vários convites para trabalhar no seu país, etc.
E nele próprio, o que aconteceu? Podemos imaginar que sentiu que valeu a pena, que tomou a opção correcta, ao não seguir quem lhe dizia "Vem por aqui". E, por que não, sentiu orgulho em si próprio.

15. Considere a seguinte acção: Vou à farmácia comprar um medicamento para tratar uma dor de cabeça. Tente descrevê – la e explicá – la usando os conceitos fundamentais que a tornam inteligível ou compreensível (deliberação, decisão, intenção, motivo).

 - Devo ir à farmácia ou não? Será que não há alguém que possa ir por mim? A aspirina não irá fazer – me mal ao estômago? Se calhar isto passa sem tomar medicamentos, dormindo um pouco. Trata – se do momento da deliberação que antecede habitualmente a decisão e consiste em ponderar diferentes possibilidades de acção.
Vou à farmácia. Esta dor de cabeça tem de ser tratada com medicamentos e não vou poder dormir. Não acredito que duas ou três aspirinas me vão causar problemas de estômago. E quero mesmo ver – me livre desta dor incómoda. Tenho de trabalhar.
Trata – se da decisão, do momento em que se escolhe uma das alternativas ou possibilidades de acção, preferindo uma delas.

O que pretendo com a acção? Neste caso a intenção é tratar uma dor de cabeça. Quando perguntamos "O que quer fazer aquele que age?", referimo-nos à intenção, ao que o agente pretende ser ou fazer.

"Por que razão quero ir à farmácia comprar um medicamento para tratar uma dor de cabeça?» A resposta apresentar-nos-á o motivo dessa decisão, tomando-a compreensível. O motivo pode ser acabar com o desconforto físico e poder trabalhar em melhores condições.

16.Consideremos os dois seguintes acontecimentos: a) José vai a uma clínica médica fazer um exame de rotina e b) um ribeiro transborda e inunda as ruas de uma cidade. Será que podem ser explicadas da mesma maneira?
Em a) descreve – se uma acção. Em b) descreve – se um acontecimento natural. Sabemos que uma acção é um acontecimento. Acreditamos também que se o acontecimento natural descrito acima tem uma causa – choveu muito, por exemplo – a acção descrita também terá uma causa. Ninguém vai a uma clínica médica por nada. Mas será que explicamos os dois acontecimentos da mesma forma? Será que a causalidade que está na origem da acção é idêntica à que provoca um acontecimento natural?
 Uma coisa é falar da causa dos eclipses do Sol e da Lua, da queda dos corpos ou dos tsunamis. Outra bem diferente é falar das causas de acções realizadas por nós. No primeiro caso, dizemos que foram as leis da natureza. No segundo caso, procuramos outro tipo de explicação. Vários filósofos como, por exemplo, John Searle e Donald Davidson acreditam que as acções são causadas, ou seja, que acontecem por alguma razão. Assim, as acções são causadas pelas intenções, desejos e crenças dos agentes, são acontecimentos intencionais cuja razão de ser são as crenças e desejos de quem age. Voltemos ao exemplo a). José vai a uma clínica médica fazer um exame de rotina. A que se deve a sua acção? Qual a sua causa ou razão de ser? O que o fez ir à clínica? Dizer por que razão aconteceu este facto – José foi à clínica fazer um exame – é associar a acção a uma intenção: José foi à clínica fazer um exame com o propósito ou objectivo de saber como está a sua saúde. É também referir que há uma ou mais crenças na base dessa acção: aquela clínica presta um bom atendimento ou é aconselhável estar a par do modo como o nosso organismo está a funcionar (se bem, se mal). Pode – se apresentar também como razão explicativa da acção o desejo de saber que se está em forma ou o de tratar a tempo algum problema de saúde se for esse o caso.
Passemos ao exemplo b) um ribeiro transborda e inunda as ruas de uma cidade. Para o explicar basta pensar, por exemplo, numa precipitação intensa que aumentou muitíssimo o caudal do ribeiro. Não falamos neste caso de intenção do ribeiro, nem de desejos e crenças que estivessem na origem do que aconteceu. Por outras palavras, ir à clínica é algo que o José faz acontecer. Transbordar é algo que acontece ao ribeiro mas não algo que ele faz intencionalmente. As acções são acontecimentos mas nem tudo o que acontece é uma acção. A diferença, para quem defende uma explicação causal da acção, está no modo como um acontecimento é causado. Se um acontecimento é causado por intenções, desejos e crenças temos uma acção. E só nesse caso se pode falar de acção.

17.Em que consiste a responsabilidade moral?
A responsabilidade moral é a capacidade que um agente tem de responder pelos seus actos, de assumir a sua autoria, assumindo as suas consequências e efeitos. Em suma não se demite de prestar contas pelo que faz e pelos resultados dos seus actos.
A responsabilidade designa a possibilidade de imputarmos uma acção a alguém que consideramos ser seu autor, que teve a última palavra na decisão que desencadeou a acção.

18. Em que condições é que uma pessoa é moralmente responsável? Em que condições pode ser considerada moralmente responsável por um acontecimento? Em que condições atribuímos responsabilidade moral a um agente?
Uma pessoa pode ser considerada moralmente responsável por um acontecimento quando podia não ter feito o que fez. Assim, se decido invadir o quintal do vizinho para me apropriar de algumas laranjas apetitosas, posso ser responsabilizado porque podia não ter feito o que fiz. Quando alguém me censura dizendo «Não devias ter feito o que fizeste!» está precisamente a dizer – me que havia outra alternativa.Mas se o que aconteceu se verificou em estado de sonambulismo não posso ser responsabilizado porque momentaneamente perdi o controlo dos meus actos e não podia não ter feito oque fiz. Podia ter tido outra intenção.

19. O que significa dizer que um agente podia não ter feito o que fez?
Significa que podia ter agido de modo diferente se a sua intenção – as suas crenças e os seus desejos – tivesse sido diferente. Se eu acreditasse seriamente que o risco que iria correr ao invadir o quintal do vizinho não se justificava e desejasse evitar problemas, mudaria de intenção e não realizaria a acção anteriormente descrita. Assim, agir intencionalmente parece implicar a ideia de que o agente fez o que fez livremente.

20. Que relação há entre agir livremente e ser moralmente reponsabilizado pelo que se faz?
A relação é esta: a)ser responsável implica ser livre. Não se pode responsabilizar uma pessoa por uma acção se ela não agiu livremente. Que um agente seja responsabilizável por uma acção implica que podia ter agido de modo diferente, não ter feito o que fez ou que podia ter evitado fazer o que fez (fosse a acção boa ou má).
b)Ser livre implica ser responsável.Se alguém pratica livremente uma acção então faz algo que podia não ter feito. Se o fez nestas condições é o autor da acção e por ela pode responder. Se agiu livremente não pode evitar ter de enfrentar e responder pelas consequências dos seus actos. Se forem boas pode ser elogiado. Se forem más pode ser censurado e mesmo sentir remorso.

NOTA IMPORTANTE - No próximo ponto a questão será a seguinte: Será que há boas razões para acreditar que somos livres e que por isso mesmo podemos ser responsabilizados pelo que fazemos livremente? Haverá argumentos bons a favor da ideia de que há acções que forma praticadas com livre arbítrio?

21. Por que razão o problema do livre - arbítrio é um problema importante do ponto de vista prático?
O interesse por este problema não é apenas teórico. Não se trata apenas de satisfazer a nossa curiosidade. O problema do livre-arbítrio tem importantes implicações práticas, a principal das quais relacionada com a responsabilidade moral. Tudo parece indicar que se não houver livre-arbítrio, então também não é possível responsabilizar moralmente um agente pelas acções que pratica e, consequente, puni-lo ou recompensá-lo. Será possível construir a vida social sem a ideia de responsabilidade moral? Se não houver livre – arbítrio não estará o nosso sistema penal todo errado.Não será que o criminoso, de modo análogo à pessoa que sofre de asma e assim vê o seu organismo prejudicado, não deve ser punido, mas sim tratado de modo a deixar de ser prejudicial à sociedade? Só faz sentido responsabilizar moralmente alguém (e por extensão punir ou recompensar) se a pessoa puder escolher entre diferentes acções alternativas possíveis, isto é, se for livre. Se não o for, isto é, se estiver determinado a fazer o que fez, então não há qualquer razão para a responsabilizar — e punir ou recompensar —, uma vez que não podia deixar de proceder como procedeu. Quer o assassino que tenha cometido o crime mais hediondo quer o herói que tenha realizado o acto mais altruísta que seja possível imaginar não podem ser responsabilizados pelos seus actos. Que diferença moral haveria entre um criminoso como Hitler e o Dalai Lama?

http://lrsr1.blogspot.pt/2011/02/exercicios-sobre-o-problema-da-accao-e.html

Teste 2 - Matriz

Nota: neste teste é obrigatório o uso de folha de teste.
Seja original e crítico nas suas respostas.


Por motivos óbvios de economia de tempo, nesta matriz não repetimos hiperligações. Sendo assim, a partir do objectivo 15, os objectivos que estão sem hiperligações são referidos nas hiperligações anteriores.
Os links dos objectivos 1 a 14 estão incorporados na matriz do teste 1.

Objectivos / Conteúdos:

1. Definir etimologicamente o termo 'Filosofia';
2. Reconhecer a importância filosófica do 'conhece-te a ti mesmo' socrático;
3. Reconhecer a importância filosófica do espanto/da admiração (o reconhecimento da ignorância);
4. Caracterizar a filosofia como uma busca da verdade;
5. Problematizar o conceito de verdade;
6. Conhecer e aplicar os Princípios Lógicos da Razão;
7. Identificar os componentes do argumento: premissa(s) e conclusão;
8. Caracterizar o senso comum;
10. Caracterizar a filosofia a partir das suas principais características: radicalidade; autonomia; historicidade e universalidade;
11. Confrontar a filosofia com a ciência tendo em conta o objecto de cada um destes saberes;
12. Explicar a alegoria da caverna.
13. Definir o conceito de problema;
14. Explicar a atitude filosófica;
15. Identificar os diversos elementos constitutivos da ação (os conceitos da ‘rede conceptual da ação’);
16. Definir e relacionar os conceitos de agente, motivo, intenção e consequências (da ação);
17. Distinguir atos voluntários e involuntáriosApresentação
18. Reconhecer que os atos involuntários podem ser conscientes ou inconscientes;
19. Definir a ação como ato voluntário;
20. Reconhecer que os atos voluntários são sempre conscientes;
21. Explicar a deliberação enquanto processo decisório;
22. Explicar porque é que o comportamento humano não é (totalmente) previsível;
23. Explicar a influência das condicionantes biológicas no comportamento humano;
24. Explicar a importância das condicionantes sócio-culturais no comportamento humano;
25. Reconhecer a existência da liberdade como fator decisivo na produção da ação humana; Apresentações
26. Interpretar o filme 'O menino selvagem' atendendo às condicionantes da ação humana e às características fundamentais da natureza humana - o homem como animal social;
27. Reconhecer que nem todos os atos do homem são atos humanos;
28. Reconhecer que o ser humano não nasce humano;
29. Analisar o problema do livre-arbítrio;
30. Explicar as teses e os argumentos do determinismo radical;
31. Explicar as teses e argumentos do libertismo;
32. Reconhecer as limitações do determinismo radical e do libertismo (através da análise das objeções a cada uma das teorias);
33. Explicar as teses e argumentos do compatibilismo (determinismo moderado);
34. Colocar problemas de forma pertinente;
35. Identificar teses e argumentos;
36. Construir argumentações sólidas.

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Recursos:

Fichas Formativas sobre a ação humana

Lista de artigos do blogue sobre a matéria relacionada com a ação humana