terça-feira, 29 de abril de 2014

Teste 4

 11ºD

Versão 1

GRUPO II
1. Identifique a afirmação errada:
(A) O principal problema de Descartes é o de encontrar a garantia de que o nosso conhecimento é absolutamente seguro;
(B) o primeiro conhecimento absolutamente seguro é a existência do sujeito que tem consciência de que os sentidos e o entendimento o podem enganar;
(C)  Descartes consegue provar que há só uma verdade: 'penso, logo existo';
(D) a condição necessária para que algo seja declarado conhecimento absolutamente seguro é resistir completamente à dúvida;
(E) nenhuma das afirmações está errada.

2. O cogito é:
(A) Alcançado através da experiência;
(B) a prova de que a verdade não existe;
(C) a primeira verdade alcançada através da dúvida;
(D) a base da dúvida metódica.

3. De acordo com a definição tradicional de conhecimento,
(A) A opinião é condição necessária e suficiente do conhecimento;
(B) uma crença falsa pode ser conhecimento;
(C) a justificação é condição suficiente do conhecimento;
(D) a crença é condição necessária do conhecimento;
(E) nenhuma das afirmações está correta.

4. Segundo Descartes, o critério de verdade é:
(A) A delicadeza e a exatidão;
(B) a clareza e a não contradição;
(C) a delicadeza  e a distinção;
(D) a clareza e a distinção;
(E) nenhuma das afirmações está correta.

6. Segundo Descartes, apenas é verdadeira a seguinte afirmação:
(A) Sabemos que o mundo exterior é real porque os sentidos o comprovam;
(B) sabemos que o mundo exterior é real porque sabemos que o sujeito existe;
(C) sabemos que o mundo exterior é real porque o cogito é um princípio indubitável que garante a sua existência;
(D) sabemos que Deus existe porque o mundo exterior é real.

5. De acordo com a filosofia cartesiana, Deus existe porque:
(A) O universo físico tem de ter uma causa;
(B) a organização do Universo aponta para um criador inteligente;
(C) a própria ideia de ser perfeito implica a sua existência;
(D) nenhuma das respostas anteriores é correta.

7. Num raciocínio indutivo forte, a verdade
 (A) da conclusão é garantida pela verdade das premissas;
 (B) da conclusão é garantida pela validade das premissas;
 (C) das premissas torna provável a validade da conclusão;
 (D) das premissas torna provável a verdade da conclusão.

8. Analise os seguintes termos:
1. 'Sereia'.
2. 'Vela de cera'.
3. 'Ser Perfeito'.
- Escolha a alternativa que identifique corretamente os termos de acordo com a perspectiva cartesiana:
(A) 1. Ideia inata; 2. ideia adventícia; 3. ideia factícia.
(B) 3. Ideia inata; 2. ideia adventícia; 1. ideia factícia.
(C) 1. Ideia adventícia; 2. ideia adventícia; 3. ideia factícia.
(D) 1. Ideia inata; 2. ideia adventícia; 3. ideia inata.

9. Dado o seguinte silogismo:
Todos os matemáticos são racionalistas
Alguns cartesianos são racionalistas
Logo, Alguns cartesianos são matemáticos

9.1. Decida qual das seguintes alternativas apresenta corretamente a figura e o modo do silogismo:
(A) 1ª figura; modo: IAA.
(B) 2ª figura; modo: AII.
(C) 2ª figura; modo: IAI.
(D) 3ª figura; modo: AOA.

9.2. Este silogismo é:
(A) Válido, porque não viola nenhuma regra de validade silogística.
(B) Inválido, porque o termo médio não está distribuído pelo menos uma vez.
(C) Inválido, porque o termo menor está distribuído na conclusão sem o estar na premissa menor;
(D) nenhuma das alternativas está correta.

10. O conhecimento a posteriori:
(A) Deriva da experiência;
(B) deriva da razão;
(C) nunca deriva da experiência;
(D) nenhuma das respostas anteriores é correta.

11. Um sujeito sabe que P a priori e sabe que Q a posteriori, se, e só se,...
(A) sabe que P e sabe que Q pelo pensamento apenas;
(B) sabe que P pelo pensamento apenas e sabe que Q através da experiência;
(C) sabe que P e sabe que Q através da experiência;
(D) sabe que P através da experiência e sabe que Q pelo pensamento apenas;
(E) nenhuma afirmação está correta.

12. Qual das opções se refere ao  conhecimento por contacto?
(A) A linha reta é a distância mais curta entre dois pontos;
(B) o salmão é um peixe de água doce;
(C) ontem passei o dia a observar os pássaros do parque da cidade;
(D) aos 6 anos aprendi a andar de bicicleta.

13. "As pessoas ou são boas ou são más. As pessoas antipáticas não são boas, logo são más." Identifique a falácia cometida neste enunciado:
(A) Petição de princípio;
(B) Falso dilema;
(C) Ataque pessoal;
(D) Bola de neve.

14.Um argumento por analogia é um argumento:
(A) dedutivo que parte de uma boa comparação entre realidades diferentes;
(B) não dedutivo que parte de semelhanças entre realidades diferentes;
(C) dedutivo que parte de certo número de semelhanças entre realidades diferentes;
(D) não dedutivo que parte de diferenças relevantes entre realidades semelhantes.

GRUPO II
Leia o texto seguinte.

TEXTO A
“(...)Esta verdade, eu penso, logo, existo , era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos seriam impotentes para a abalar.” Descartes, Discurso do Método

1. Segundo David Hume podemos considerar o cogito um conhecimento a priori? Justifique com base na forma como David Hume encara o conhecimento sensorial e o conhecimento racional. (20 pontos)

2. Porque é que, de acordo com Descartes, não podemos duvidar da verdade do cogito? (15 pontos)
3. Justifique a seguinte afirmação: “O cogito é uma verdade necessária”.
(10 pontos)

GRUPO III
Leia atentamente o texto que se segue.

TEXTO B
“Descartes (...) procurava verdades que nenhum cético pudesse desafiar. Para descobri-las, começou por adotar um método de dúvida cética, rejeitando todas as crenças que poderiam, sob qualquer condição imaginável, ser falsas ou duvidosas. Rejeitou prontamente as crenças baseadas nos sentidos porque estes às vezes nos enganam. Rejeitou as crenças sobre a realidade física porque o que consideramos ser tal realidade pode fazer apenas parte de um sonho. Rejeitou as crenças baseadas no raciocínio porque podemos ser sistematicamente enganados por uma força demoníaca.” Richard Popkin

1. Descartes conseguiu mesmo refutar o cepticismo? Como? Na sua justificação deve centrar-se no argumento céptico da regressão infinita. (20 pontos).
2. O que é que distingue a dúvida cartesiana da dúvida céptica? Justifique tendo em conta as características da dúvida cartesiana. (15 pontos)


GRUPO IV
Leia o texto seguinte.

Texto C
“[…] Quando analisamos os nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos ou sublimes que possam ser, sempre constatamos que eles se decompõem em ideias simples copiadas de alguma sensação ou sentimento precedente. Mesmo quanto àquelas ideias que, à primeira vista, parecem mais distantes dessa origem, constata-se, após um exame mais apurado, que dela são derivadas.
 A ideia de Deus, no sentido de um Ser infinitamente inteligente, sábio e bondoso, deriva da reflexão sobre as operações da nossa própria mente e de aumentar sem limites aquelas qualidades de bondade e de sabedoria.”
David Hume, «Investigação sobre o Entendimento Humano», in Tratados Filosóficos I, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2002


1.1. Nomeie os tipos de percepção da mente, segundo Hume. (06 pontos)

1.2. Explicite, a partir do texto, a origem da ideia de Deus na filosofia de Hume.(14 pontos)

2. Confronte as ideias expressas no texto de Hume com o racionalismo de Descartes.
(15 pontos)

Correção (download)


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 11ºE

GRUPO II
Leia o texto seguinte.

TEXTO A
“(...)Esta verdade, eu penso, logo, existo , era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos seriam impotentes para a abalar.” Descartes, Discurso do Método

1. Podemos considerar o cogito um conhecimento por contacto? Justifique com base na forma como Descartes encara o conhecimento sensorial e o conhecimento racional. (20 pontos)

2. Porque é que, de acordo com Descartes, não podemos duvidar da verdade do cogito? (15 pontos)
3. Justifique a seguinte afirmação: “O cogito é um conhecimento a priori”.
(10 pontos)

GRUPO III
Leia atentamente o texto que se segue.

TEXTO B
“Descartes (...) procurava verdades que nenhum cético pudesse desafiar. Para descobri-las, começou por adotar um método de dúvida cética, rejeitando todas as crenças que poderiam, sob qualquer condição imaginável, ser falsas ou duvidosas. Rejeitou prontamente as crenças baseadas nos sentidos porque estes às vezes nos enganam. Rejeitou as crenças sobre a realidade física porque o que consideramos ser tal realidade pode fazer apenas parte de um sonho. Rejeitou as crenças baseadas no raciocínio porque podemos ser sistematicamente enganados por uma força demoníaca.” Richard Popkin

1. Descartes conseguiu mesmo refutar o cepticismo? Como? Na sua justificação deve centrar-se no argumento céptico da regressão infinita. (20 pontos).
2. O que é que distingue a dúvida cartesiana da dúvida céptica? Justifique tendo em conta as características da dúvida cartesiana. (15 pontos)


GRUPO IV 
Leia o texto seguinte.

TEXTO C
“[…] Embora vejamos o Sol muito claramente, não devemos por isso julgar que ele só tem a grandeza que vemos; e podemos à vontade imaginar distintamente uma cabeça de leão unida ao corpo de uma cabra, sem que tenhamos de concluir que no mundo existem quimeras: porque a razão não garante que seja verdadeiro o que assim vemos ou imaginamos. Mas sugere-se que todas as nossas ideias ou noções devem ter algum fundamento de verdade; porque não seria possível que Deus, que é inteiramente perfeito e completamente verdadeiro, as tivesse posto em nós sem isso.” René Descartes, Discurso do Método

1. Indique os tipos de ideias referidos por Descartes, no texto. (6 pontos)
2. O excerto sublinhado no texto é uma petição de princípio? Justifique.
(14 pontos)
3. Concorda com o fundacionismo racionalista de Descartes? Fundamente a sua resposta com, pelo menos, três razões. (25 pontos)

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Teste Modelo - Os valores (Correção)

Grupo I
Escolha apenas uma alternativa em cada questão.
(10 x 05 pontos = 50 pontos)


1. A axiologia é a disciplina filosófica que estuda:

(A) Os objectos valiosos;
(B) os valores;
(C) o homem e as suas experiências de vida;
(D) os juízos de facto usados na valoração.

2. O facto de ao valor 'belo' corresponder o seu contravalor 'feio' está relacionado com:

(A) A sua polaridade.
(B) a sua hierarquia;
(C) a sua diversidade;
(D) a sua matéria.

3. A perspectiva filosófica (axiológica) que afirma os valores como propriedades reais existentes nos objectos designa-se por:

(A) Subjectivismo;
(B) relativismo;
(C) objectivismo;
(D) estruturalismo.

4. Os juízos de valor são enunciados subjectivos. Esta afirmação é:

(A) Verdadeira, porque são afirmações sobre diferentes sujeitos.
(B) falsa, porque são enunciados objectivos;
(C) verdadeira, porque derivam da valoração que cada sujeito faz sobre a realidade;
(D) falsa, porque os juízos de valor são universais.

5. A cultura pode ser definida como:

(A) Um fenómeno que ocorre entre os diversos seres vivos;
(B) um fenómeno que ocorre dentro das sociedades actuais;
(C) um fenómeno exclusivo dos animais gregários;
(Dum conjunto de formas de estar, pensar e agir características de uma sociedade.

6. "Os valores são hierarquizáveis, isto é, num dado contexto social e cultural, todos os indivíduos estabelecem as mesmas prioridades, seguindo a mesma escala de valores." Este enunciado é:

(A) Verdadeiro, porque há valores superiores e inferiores;
(B) falso, porque todos os valores têm a mesma importância;
(C) falso, porque embora existam valores superiores e inferiores, as pessoas podem ter prioridades diferentes e seguir diferentes escalas de valores;
(D) verdadeiro, porque embora existam valores superiores e inferiores, as pessoas podem ter prioridades diferentes e seguir diferentes escalas de valores.

7. Dizer que os valores estão condicionados pelo contexto sociocultural e pelo tempo histórico em que o homem se encontra é:

(A) Afirmar a sua absolutividade e perenidade;
(B) afirmar a sua historicidade e relatividade;
(C) afirmar a sua absolutividade e historicidade;
(D) afirmar a sua historicidade e perenidade.

8. De acordo com o etnocentrismo,

(A) Os critérios valorativos não variam de cultura para cultura;
(B) existe um padrão universal para avaliar os costumes;
(C) todas as práticas culturais devem ser toleradas;
(D) há uma cultura mais desenvolvida cujos padrões são melhores do que os das outras culturas.

9. O relativismo cultural:

(A) Rejeita o diálogo intercultural;
(B) rejeita a diversidade cultural;
(C) rejeita a relatividade dos padrões culturais;
(D) rejeita a historicidade dos valores.

10. O interculturalismo:

(A) Aceita a absolutividade dos padrões culturais;
(B) aceita o diálogo intercultural;
(C) aceita a perenidade dos valores;
(D) aceita o etnocentrismo.


Grupo II
Texto 1


1. Comente o texto 1, tendo em conta a relação entre os valores e a ação humana. 
(20 pontos)


Proposta de resposta:
Os valores são a base das nossas deliberações. Para agirmos necessitamos de fazer escolhas, pois só podemos ser agentes porque somos livres e a liberdade pressupõe que temos sempre mais do que uma alternativa, quando o que fazemos depende da nossa vontade.
Os valores permitem-nos escolher qual das alternativas nos parece a melhor. Em primeiro lugar, temos que conhecer a situação em que nos encontramos, procurando antecipar as possíveis consequências do que fizermos, mas só podemos escolher uma das opções que se nos colocam, atribuindo valores a cada uma delas e elegendo a que nos parecer preferível.
Neste sentido, existem tantos tipos de valor quantos os campos da ação humana: por exemplo, os valores éticos, para o campo da ação moral, os valores estéticos, para o campo da criação e fruição da arte, os valores políticos, para o campo da experiência social relacionada com a cidadania, os valores religiosos, para o campo da experiência religiosa e, também, os valores sensíveis, ligados à dimensão material da existência humana (os valores éticos, políticos, estéticos e religiosos pertencem à esfera dos valores espirituais). Entre os valores sensíveis contam-se os valores de utilidade (ou económicos) que são valores que servem de meio para alcançarmos os bens de que necessitamos na nossa vida. Neste sentido, os valores económicos são importantes, mas não valem por si, estando na dependência dos valores vitais e dos valores espirituais, pois os valores económicos permitem-nos adquirir os bens que incorporam os outros valores. 
Ora, no texto 1 temos uma inversão desta realidade: enquanto a Mafalda parece defender a tese de que os valores espirituais são superiores aos valores económicos, Manolito defende a tese oposta: para ele só os valores de utilidade (económicos) são verdadeiramente importantes. 

2. Poderíamos viver uma vida humana sem os valores? Porquê? (25 pontos)

Proposta de resposta:
A resposta é não. De facto, se fôssemos máquinas não necessitaríamos dos valores, como parece ser também o caso dos animais, presos no determinismo natural. Mas mesmo os animais com um sistema nervoso complexo evitam o que lhes provoca dor e evitam o que lhes traz prazer, embora possa haver aí uma ligação instintiva entre os estímulos e a atração ou repulsa que eles provocam, uma ligação quase mecânica, portanto.
No caso dos seres humanos a reação aos estímulos do meio é tudo menos mecânica. Há até casos em que os seres humanos optam por ações que lhes causam dor, e até a morte, porque seguem valores mais elevados do que o prazer e a dor, como seja o amor, a justiça ou o altruísmo. 
Isto porque os valores são manifestações da liberdade, existem porque somos livres e para podermos exercer a nossa liberdade. Está provado que as pessoas optimistas gozam de melhor saúde e têm uma maior esperança de vida do que as pessoas pessimistas: as primeiras tendem a fazer valorações positivas, enquanto as pessimistas vêem, por assim dizer, tudo cinzento, vêem negatividade em tudo e, em vez de esperarem que aconteça o melhor, estão sempre à espera do pior. Como consequência tendem a ser mais depressivas ou mais ansiosas o que lhes enche o organismo de toxinas que têm um impacto muito negativo na sua saúde. 
Isto só acontece porque é através dos valores que nos orientamos na vida e interpretamos o mundo em que vivemos. Se nascêssemos programados para reagirmos objetivamente aos factos da vida, tal como os computadores estão programados para processarem informação, nada disto teria importância. Mas um mesmo facto pode ser interpretado de forma muito diferente pelas pessoas - um optimista pode achar uma experiência negativa pode ser um estímulo para melhorar o seu desempenho, um pessimista poderá considerá-la uma prova de que a sua visão negativa da vida está correta.
Mas ambos os pontos de vista são formas humanas de viver a vida, pois existem graças à liberdade que é o fundamento da nossa humanidade. 

3. Existem valores universais ou os valores são todos relativos? Responda a esta questão posicionando-se criticamente em relação às teorias axiológicas estudadas (subjetivismo; objetivismo e estruturalismo).(30 pontos)


Proposta de resposta:
Se formos subjetivistas teremos que defender a relatividade dos valores, pois estes, de acordo com o subjetivismo, dependem de cada um dos sujeitos. Cada pessoa tem os seus valores e, mesmo no caso das pessoas poderem partilhar alguns valores em virtude de viverem em sociedade e de poderem influenciar-se mutuamente, teremos que defender que os valores diferem de sociedade para sociedade e de época histórica para época histórica, não podendo ser universais. 
O subjetivismo apresenta como argumentos para sustentar a sua tese, a discrepância (o desacordo) das opiniões sobre os valores e a valoração; o argumento da constituição biológica, que defende que os valores dependem da forma como o nosso organismo está estruturado (por exemplo, se não possuíssemos a visão não existiria para nós a pintura e os valores estéticos que lhe estão associados); o argumento do interesse, que sustenta que atribuímos valores em função dos nossos interesses, daí as valorações variarem tanto de indivíduo para indivíduo e, por fim, o argumento da historicidade que defende que os valores variam muito ao longo da história, não havendo valores perenes e, logo, universais.
Por sua vez o objetivismo axiológico defende que os valores existem nas coisas como suas propriedades efectivas, sendo que a valoração assenta no conhecimento que adquirimos sobre os valores. Há objetivistas que seguem a posição de Platão, segundo a qual os valores existem em si e por si, num 'mundo' ou numa realidade ideal, à semelhança das figuras geométricas e dos outros objetos matemáticos. 
Para os objetivistas pode haver discrepância em relação à valoração, mas os indivíduos não criam os valores, descobrem-nos, ou conhecem-nos, podendo diferir na forma como os atribuem às coisas, às situações e às ações, porque o seu conhecimento dos valores pode ser incompleto.
O argumento subjetivista da constituição biológica também não colhe, porque, segundo os objetivistas, há valores espirituais que não dependem da nossa constituição física, como por exemplo o bem ou a justiça.
Quanto ao argumento do interesse também não tem o acordo dos objetivistas porque é possível fazermos valorações sem que tenhamos um qualquer interesse no objeto da valoração.
Mas o próprio objetivismo ignora que os bens têm uma dimensão cultural porque são produtos culturais, estando à partida dependentes da valoração, ou seja, os bens incorporam os valores que os seus criadores lhes atribuem sendo, por isso, já e sempre, produtos da subjetividade e da intersubjetividade - os valores são criações humanas.
Por outro lado, os valores integram a cultura de cada sociedade sendo, por isso históricos - dada a grande variação das experiências axiológicas é difícil sustentar a concepção objetivista da perenidade dos valores (que o objetivismo contrapõe à historicidade dos valores).
Para respondermos cabalmente à questão temos que encontrar um meio termo entre o objetivismo e o subjetivismo: chamámos-lhe estruturalismo. O estruturalismo defende que os valores são criações humanas porque surgem no âmbito da cultura de cada uma das sociedades. Apesar de terem muitas diferenças, as culturas têm traços comuns, as sociedades são muito diferentes, com padrões culturais muito diversos, mas há certos padrões que tendem a ser comuns a muitas sociedades (um exemplo é a proibição da prática do incesto), o que se aplica também aos valores.
Há, assim, uma relatividade dos valores, na medida em que estes são resultado da vida concreta dos seres humanos em sociedade. No entanto essa relatividade não é total, uma vez que há valores que se foram estabelecendo ao longo da história como promotores da dignidade humana. Os direitos humanos são valores que surgiram da experiência histórica das sociedades e são valores cuja universalização é desejável do ponto de vista racional. 
As sociedades humanas evoluem no sentido de uma maior racionalidade, é isso que podemos ver na história da humanidade em praticamente todas as sociedades. Os direitos humanos são veículos fundamentais da dignidade humana e, por essa razão, devem estender-se a todas as sociedades. 



Texto 2
"É uma norma socialmente reconhecida entre nós que devemos cuidar dos nossos pais e de familiares quando atingem uma idade avançada; os Esquimós deixam-nos morrer de fome e de frio nessas mesmas condições. Algumas culturas permitem práticas homossexuais enquanto outras as condenam (pena de morte na Arábia Saudita). Em vários países muçulmanos a poligamia é uma prática normal, ao passo que nas sociedades cristãs ela é vista como imoral e ilegal. Certas tribos da Nova Guiné consideram que roubar é moralmente correcto; a maior parte das sociedades condenam esse acto. O infanticídio é moralmente repelente para a maior parte das culturas, mas algumas ainda o praticam. Em certos países a pena de morte vigora, ao passo que noutras foi abolida; algumas tribos do deserto consideravam um dever sagrado matar após terríveis torturas um membro qualquer da tribo a que pertenciam os assassinos de um dos seus.
Centenas de páginas seriam insuficientes para documentarmos a relatividade dos padrões culturais, a grande diversidade de normas e práticas culturais que existem actualmente e também as que existiram.
Até há bem pouco tempo muitas culturas e sociedades viviam praticamente fechadas sobre si mesmas, desconhecendo-se mutuamente e desenvolvendo bizarras crenças acerca das outras." Luís Rodrigues

4. Comente o texto 2, tendo em conta a importância do interculturalismo na implementação dos direitos humanos em todas as sociedades. (30 pontos)


Proposta de resposta:
O texto 2 refere um conjunto de práticas culturais muito diferentes, sendo a maioria delas viola os direitos humanos, que são valores que  se impõe como padrões universalizáveis. De facto, se é verdade que todas as culturas são importantes e devem ser preservadas (tal como é defendido pela Declaração Universal da Diversidade Cultural), isso não significa que, em nome do relativismo cultural, devam ser toleradas práticas culturais que ponham em causa a dignidade humana e os direitos fundamentais da pessoa humana.
O interculturalismo defende que as sociedades devem estar abertas umas às outras e predispostas a aprenderem umas com as outras. Há sociedades, muitas vezes apelidadas de 'primitivas' pelo etnocentrismo europeu e ocidental, que nos dão verdadeiras lições de solidariedade, de comunhão com a natureza ou de elevação espiritual. 
Os aborígenes australianos, sistematicamente maltratados pela  maioria branca, vivem há milénios numa total integração espiritual com o ambiente natural, muito longe, portanto, da nossa relação destrutiva com o meio ambiente. O seu modo de vida parece ser mais congruente do que o nosso, ou seja, a sua cultura não destrói o meio ambiente e incorpora valores que podem ser universalizados, ou seja, podemos seguir o seu exemplo, aprender com o seu modo de vida.
Isso passa-se com muitas outras culturas ancestrais. O diálogo intercultural, que é o cerne do interculturalismo, permite que as sociedades possam aprender umas com as outras a serem mais tolerantes, mais solidárias, mais evoluídas...
Como diz o texto, quando as sociedades se fecham acabam por ficar com uma imagem distorcida do mundo, o que leva a que possam apegar-se a padrões culturais que impedem o progresso da humanidade. Esse progresso vai no sentido da dignificação da pessoa humana e na promoção dos valores que a promovem. 
Quanto mais abertas e multiculturais forem as sociedades, mais se tornam capazes de se desenvolverem de forma humana e sustentável - a sua relação com o ambiente será assente no respeito pelos processos naturais e na preservação dos ecossistemas, procurando a paz e a cooperação entre os seres humanos.


Grupo III

Texto 3
O dilema de Henrique


Numa cidade da Europa, uma mulher estava quase a morrer com um tipo muito raro de cancro. Havia um remédio, feito à base de Rádio, que os médicos imaginavam que poderia salvá-la, e que um farmacêutico da mesma cidade havia descoberto recentemente. A produção do remédio era cara, mas o farmacêutico cobrava por ele dez vezes mais do que lhe custava produzi-lo: O farmacêutico pagou €400 pelo Rádio e cobrava €4000 por uma pequena dose do remédio. Henrique, o marido da doente, procurou todos os seus conhecidos para lhes pedir dinheiro emprestado, e tentou todos os meios legais para consegui-lo, mas só pôde obter uns €2000, que é justamente a metade do que custava o medicamento. Henrique disse ao farmacêutico que a sua mulher estava a morrer e pediu-lhe que vendesse o remédio mais barato, ou que o deixasse pagar a prestações. Mas o farmacêutico respondeu: ‘Não, eu descobri o remédio e vou ganhar dinheiro com ele’. Assim, tendo tentado obter o medicamento por todos os meios legais, Henrique, desesperado, considera a hipótese de assaltar a farmácia para roubar o medicamento para sua esposa. O Henrique deve roubar o medicamento?”
Kohlberg

1. O texto 3 apresenta um conflito de valores. Resolva esse conflito usando a Razão como critério valorativo. (Pode usar como referência a bússola dos valores e assumindo um ponto de vista racional). (45 pontos)


Proposta de resposta:
O texto 3 coloca-nos perante o seguinte conflito de valores: por um lado está uma vida humana, em risco de se perder por falta de um medicamento; do outro lado, o direito de um farmacêutico a lucrar com a venda de um  medicamento por si descoberto. 
O Henrique está no centro desse conflito, pois é a sua mulher quem está a morrer e é ele quem se dirige ao farmacêutico para tentar adquirir o medicamento. Face à intransigência do farmacêutico parece que não lhe resta outra alternativa a não ser roubar o medicamento. Mas será essa a sua única alternativa? Antes de tentar uma resposta, vamos analisar melhor este conflito, submetendo-o a uma análise racional, ainda sem nos colocarmos racionalmente no lugar do Henrique.
Aqui estão em conflito dois tipos de valores muito diferentes: a vida humana, talvez o mais importante valor humano (os valores humanos correspondem àquilo a que chamamos normalmente os direitos humanos) e, do lado do farmacêutico, o lucro e a propriedade, que são valores económicos. Neste conflito de valores temos uma situação que nos remete para o confronto entre valores espirituais e valores económicos que encontrámos na resposta à questão 1 deste grupo.
Aplicando a bússola dos valores a este conflito de valores, podemos facilmente concluir que a vida humana é muito superior aos valores económicos , pelo que temos que concluir, se aplicarmos a razão a este caso, que o direito de propriedade do farmacêutico não pode sobrepor-se ao direito à vida da mulher do Henrique. Neste sentido, o farmacêutico deveria ser sensível aos apelos do Henrique - que não recusou pagar o preço pedido pelo farmacêutico, apenas pedia mais tempo para pagar. 
Também se pode ver que a quantia reunida pelo Henrique, embora só chegasse para pagar metade do preço pedido pelo farmacêutico, correspondia a um lucro muito grande, de cinco vezes o custo de produção do medicamento (ou, pelo menos, da matéria prima utilizada na sua produção). Parece, então, que o preço pedido pelo farmacêutico é mais do que exorbitante, se tivermos em conta que em causa está a cura de uma doença até aqui incurável.
Note-se que na chamada vida real existem muitas situações análogas a esta: em Portugal assistimos à polémica em torno da medicação que trata, e cura em mais de 95%, a hepatite C, com o laboratório que produz o medicamento mais eficaz a pedir mais de 40 mil euros por cada tratamento. A recusa do governo em pagar essa quantia custou a vida a pelo menos uma doente. Talvez nesse caso se tivesse que garantir o tratamento urgente dos doentes num estádio mais avançado da doença e se devesse lutar por todos os meios legais para conseguir um preço aceitável para o medicamento.
Uma análise racional do conflito de valores presente no texto leva-nos, portanto, a concluir que o farmacêutico deve facultar o medicamento duma forma que permita às pessoas curarem-se, sem com  isto pôr em causa a justa retribuição pela descoberta e produção do medicamento. Isto significa que o preço do medicamento é excessivo. 
Mas no caso em apreço, o Henrique não pôs em causa o preço do medicamento, antes pelo contrário: procurou por todos os meios juntar o dinheiro para pagar ao farmacêutico. No fundo, este último é que agiu mal, pois só pensou no seu lucro e não na vida humana que estava em risco.
E o Henrique, pode racionalmente colocar a hipótese de assaltar a farmácia para roubar o medicamento? O ato de roubar só poderá ser aceite racionalmente se não for contraditório em si mesmo ou se não entrar em contradição com nenhum princípio racional (que possa ser aplicado à ação humana). Ora aqui teríamos que analisar melhor a situação e ver se o Henrique não teria mais alternativas...
Em primeiro lugar, poderia recorrer às autoridades - tratando-se de uma cidade da Europa, estamos perante uma sociedade que se rege pelas normas do Direito, pelo que há sempre o recurso aos tribunais. Mas pode haver aqui falta de tempo, pois a mulher do Henrique poderia morrer antes de uma decisão dos tribunais.
O Henrique poderia recorrer aos meios de comunicação para expor a sua situação, talvez assim o farmacêutico se sentisse pressionado e acabasse por ceder. Também poderia usar os media, redes sociais incluídas, para lançar uma campanha de solidariedade com vista a angariar o dinheiro que lhe faltava - há muitos exemplos de sucesso que mostram que essa saída é viável.
Se tudo isto falhasse, o Henrique deveria roubar o medicamento? No fundo, se o fizesse não estaria a fazê-lo para roubar, mas para salvar a vida à sua mulher. Isso significa que os fins justificam os meios? Podemos considerar que há situações em que roubar pode ser bom? Se considerarmos que o valor da vida humana justifica um ato contra o valor da propriedade (o direito à propriedade), temos também que considerar que nesse ato nunca deveria ser posta em causa a vida de ninguém (do Henrique, do farmacêutico ou de qualquer outra pessoa).

A ética deontológica de Kant

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Ética Deontológica 


"A ética deontológica valoriza primeiramente o conceito de dever e só posteriormente o conceito de bem e as consequências da acções. Significa, portanto, que os juízos morais da acção humana não têm como justificação a obtenção de bons resultados ou a sua utilidade. Esta teoria avalia as acções do homem em função do seu princípio implícito e independentemente dos seus efeitos, tratando-se assim de uma ética formal, de uma ética do dever. Esta teoria ética ganha particular expressão em Immanuel Kant com o seu imperativo categórico (imperativo porque ordena e categórico por oposição a hipotético ou condicional), com o qual determina a moralidade dos actos. Essa lei fundamental assegura a sua universalidade pelo seu carácter formal e não se faz depender de qualquer fim concreto ou empírico. Kant enunciou-o deste modo: “Age de tal modo que a máxima da tua vontade possa valer sempre ao mesmo tempo como princípio de uma legislação universal”. Devido à sua universalidade, as regras consideram o agir como baseado no puro dever, constituindo-se numa ética pura que não dita conteúdos mas normas formais, não se deixando contaminar pelo empirismo nem por exigências exteriores. É uma ética autónoma visto que o imperativo não pode ser exterior à própria vontade, nem se deixar contaminar por motivos extrínsecos. Trata-se, portanto, de uma ética própria do homem, não sendo contudo uma ética particular ou pessoal, pois não contempla interesses particulares mas universais. O agir deve, todavia, ser conformado com a boa vontade, isto é, a pessoa tem a boa vontade e age com base naquilo que é correcto, independentemente das consequências de sua decisão, sendo o correcto o que está em conformidade com o imperativo categórico. A autonomia do agir, leva a que Kant reconheça direitos universais, tal como a liberdade de expressão, a liberdade de escolha, o direito à privacidade ou a liberdade de consciência e como tal é inaceitável a instrumentalização do homem, entendendo-o como fim e nunca como meio. Kant foi um dos expoentes da exaltação do respeito pelo homem, diríamos hoje, da dignidade humana."

 A ética deontológica kantiana explicada por Nigel Warburton 

 "Immanuel Kant estava interessado na questão de saber o que é uma acção moral. A resposta que deu tem sido muito importante para a filosofia. Nesta secção, esboçarei as suas características principais. Para Kant era óbvio que uma acção moral teria de ser executada por sentido do dever e não apenas como resultado de uma inclinação, de um sentimento ou da possibilidade de qualquer tipo de benefício para o seu autor. Assim, por exemplo, se eu doar dinheiro para acções de caridade por ter profundos sentimentos de compaixão pelos mais necessitados, a minha acção não será necessariamente moral, segundo Kant: se eu agir apenas em função dos meus sentimentos de compaixão e não em função de um sentido do dever, não terei agido moralmente. Se eu doar dinheiro para acções de caridade por pensar que isso irá aumentar a minha popularidade entre os meus amigos, não estarei, uma vez mais, a agir moralmente, mas em função do benefício em termos de estatuto social. 
Assim, para Kant a motivação de uma acção era muito mais importante do que a própria acção e as suas consequências. Ele pensava que, para saber se alguém está a agir moralmente ou não, temos de saber a intenção dessa pessoa. Não é suficiente saber apenas se o Bom Samaritano ajudou o homem que precisava de assistência. O samaritano poderia ter agido em função do seu interesse-próprio, com a expectativa de receber uma recompensa pelo seu incómodo. Ou então poderá tê-lo feito só porque sentiu uma ponta de compaixão: neste caso, a sua acção teria uma motivação emocional e não uma motivação baseada num sentido do dever. 
A maior parte dos filósofos morais concordaria com a ideia de Kant de que o interesse-próprio não é uma motivação própria para a acção moral. Mas muitos discordariam da sua ideia de que o facto de alguém sentir ou não uma emoção como a compaixão é irrelevante para a nossa avaliação das suas acções. 
Contudo, para Kant, a única motivação aceitável para a acção moral era o sentido do dever. Uma razão pela qual Kant se concentrou tanto nas motivações das acções, em vez de se concentrar nas suas consequências, foi o facto de acreditar que todas as pessoas podiam ser morais. 
Uma vez que só é razoável ser moralmente responsável por coisas sobre as quais se exerce algum controlo - ou, na formulação de Kant, uma vez que «o dever implica o poder» - e porque as consequências das acções estão muitas vezes fora do nosso controlo, estas consequências não podem ser cruciais para a moral. Por exemplo, se, ao agir em função do meu sentido do dever, eu tentar salvar uma criança que está a afogar-se, mas acabar por, acidentalmente, afogar a criança, pode ainda considerar-se que agi moralmente uma vez que os meus motivos eram do tipo apropriado: as consequências da minha acção teriam sido, neste caso, trágicas, mas irrelevantes no que respeita ao valor moral do que fiz. 
Analogamente, como não temos necessariamente um controlo completo sobre as nossas reacções emocionais, estas também não podem ser essenciais para a moral. Se queremos uma moral acessível a todos os seres humanos conscientes, então, pensava Kant, a moral terá de apoiar-se na vontade e, sobretudo, no nosso sentido do dever. Kant descreveu a intenção que subjazem a qualquer acto humano como a máxima da ação. A máxima é o princípio geral subjacente à acção. Por exemplo, o Bom Samaritano poderia ter agido segundo a máxima «Ajuda sempre os que precisam se esperas ser recompensado pelo teu incómodo». Ou poderia ter agido segundo a máxima «Ajuda sempre os que precisam quando tens um sentimento de compaixão». Contudo, se o Bom Samaritano agisse moralmente, teria agido provavelmente segundo a máxima «ajuda sempre os que precisam porque é esse o teu dever»

O imperativo categórico 
Kant acreditava que, como seres humanos racionais, temos certos deveres. Estes deveres são categóricos: por outras palavras, são absolutos e incondicionais -- deveres como «deves sempre dizer a verdade» ou «nunca deves matar ninguém». Estes deveres são válidos sejam quais forem as consequências que possam advir da sua obediência. Kant pensava que a moral era um sistema de imperativos categóricos: mandamentos para agir de determinadas maneiras. Este é um dos aspectos mais distintivos da sua ética. 
Ele contrastou os deveres categóricos com os hipotéticos. Um dever hipotético é um dever como «se queres ser respeitado, deves dizer a verdade» ou «se não queres ir para a prisão, não deves matar ninguém». Os deveres hipotéticos dizem-nos o que devemos ou não fazer se quisermos alcançar ou evitar um dado objectivo. Kant pensava que só existia um imperativo categórico básico: «age apenas segundo as máximas que possas ao mesmo tempo querer como leis universais». Por outras palavras, age apenas segundo uma máxima que quererias aplicar a toda a gente. Este princípio é conhecido como princípio da universalizabilidade
Apesar de Kant ter dado várias versões diferentes do imperativo categórico, esta formulação é a mais importante e tem sido extraordinariamente influente. Iremos examiná-la mais detalhadamente. 

Universalizabilidade 
Kant pensava que, para que uma acção seja moral, a máxima subjacente teria de ser universalizável. Teria de ser uma máxima que se aplicaria a todas as outras pessoas em circunstâncias análogas. Não devemos erigir-nos como uma excepção, mas antes ser imparciais. Assim, por exemplo, se o leitor roubar um livro, agindo segundo a máxima «Rouba sempre que fores demasiado pobre para comprar o que queres», e para que este seja um acto moral, esta máxima teria de aplicar-se a qualquer outra pessoa que estivesse na sua situação. 
Claro que isto não significa que qualquer máxima que possa ser universalizável é, por essa razão, uma máxima moral. É óbvio que muitas máximas triviais, tais como «Deita sempre a língua de fora a pessoas mais altas do que tu», podem facilmente ser universalizáveis, apesar de terem pouco ou nada a ver com a moral. Outras máximas universalizáveis, como a máxima sobre o roubo que usei no parágrafo anterior, podem mesmo assim ser consideradas imorais. 
Esta noção de universalizabilidade é uma versão da chamada Regra de Ouro do cristianismo: «faz aos outros o que gostarias que te fizessem a ti». Alguém que agisse segundo a máxima «sê um parasita, vive sempre à custa de outras pessoas», não estaria a agir moralmente uma vez que seria impossível universalizar a máxima. Tentá-lo seria enfrentar a questão: «e se toda a gente fizesse isso?» Se todas as pessoas fossem parasitas, não sobraria ninguém para ser parasitado. A máxima não passa o teste de Kant e por isso não pode ser uma máxima moral. 
Por outro lado, podemos facilmente universalizar a máxima «nunca tortures bebés». É certamente possível e desejável que todos obedeçam a esta ordem, apesar de poderem não o fazer. Aqueles que não lhe obedecerem e torturarem bebés estarão a agir imoralmente. 
Com máximas como esta, a noção de universalizabilidade de Kant dá claramente uma resposta consonante com as intuições incontestadas da maior parte das pessoas acerca da rectidão. 

Meios e fins 
Outra das versões de Kant do imperativo categórico era «trata as outras pessoas como fins em si, nunca como meios». Esta é outra forma de dizer que não devemos usar as outras pessoas e que devemos, ao invés, reconhecer a sua humanidade: o facto de serem pessoas com arbítrio e desejos próprios. Se alguém for simpático consigo só porque sabe que o leitor pode dar-lhe um emprego, estará a tratá-lo como um meio de obter esse emprego e não como uma pessoa, um fim em si. É claro que, se alguém for simpático consigo porque acontece gostar de si, isso nada teria a ver com a moral. 

Críticas à ética kantiana 

É vazia 
A teoria ética de Kant, e sobretudo a sua noção de universalizabilidade dos juízos morais, é por vezes criticada por ser vazia. Isto significa que a sua teoria só nos oferece um enquadramento que revela a estrutura dos juízos morais sem ajudar em nada os que estão perante tomadas de decisão morais efectivas. Dá pouca ajuda às pessoas que tentam decidir o que devem fazer. 
Esta crítica negligencia a versão do imperativo categórico que nos ensina a tratar as pessoas como fins e nunca como meios. Nesta última formulação, Kant dá, sem dúvida, algum conteúdo à sua teoria moral. Mas, mesmo combinando a tese da universalizabilidade com a formulação dos meios e dos fins, a teoria de Kant não oferece soluções satisfatórias para muitas questões morais. 
Por exemplo, a teoria de Kant não consegue dar facilmente conta dos conflitos entre deveres. Se, por exemplo, eu tenho o dever de dizer sempre a verdade, e também o dever de proteger os meus amigos, a teoria de Kant não me poderia mostrar o que deveria fazer quando estes deveres entram em conflito. Se um louco com um machado me perguntasse onde está o meu amigo, a minha primeira reacção seria mentir-lhe. Dizer a verdade seria fugir ao meu dever de proteger o meu amigo. Mas, por outro lado, segundo Kant, dizer uma mentira, mesmo numa situação limite como esta, seria uma acção imoral: tenho o dever absoluto de nunca mentir. 

Actos imorais universalizáveis 
Outro ponto fraco, relacionado com o anterior, que algumas pessoas detectam na teoria de Kant é o facto de, aparentemente, permitir algumas acções obviamente imorais. Por exemplo, aparentemente, uma máxima como «mata qualquer pessoa que te estorve» poderia ser consistentemente universalizada. E, no entanto, esta máxima é claramente imoral. 
Mas este tipo de crítica não consegue ser uma crítica a Kant: ignora a versão do imperativo categórico em termos de meios e fins, uma vez que a contradiz claramente. Matar alguém que nos estorva dificilmente é tratar essa pessoa como um fim em si: não mostra consideração pelos seus interesses. 

Aspectos implausíveis 
Apesar de grande parte da teoria de Kant ser plausível -- especialmente a ideia de respeitar os interesses das outras pessoas --, tem alguns aspectos implausíveis. Em primeiro lugar, parece justificar algumas acções absurdas, tal como dizer a um louco com um machado onde o nosso amigo se encontra, em vez de o afastar, mentindo-lhe. 
Em segundo lugar, o papel que a teoria dá a emoções tais como a compaixão, a simpatia e a piedade parece inadequado. Kant afasta tais emoções como irrelevantes para a moral: a única motivação apropriada para a acção moral é o sentido do dever. 
Sentir compaixão pelos mais necessitados -- apesar de, de certos pontos de vista, poder ser digno de louvor -- não tem, para Kant, nada a ver com a moral. Pelo contrário, muitas pessoas pensam que há emoções distintamente morais -- tais como a compaixão, a simpatia e o remorso -- e separá-las da moral, como Kant tentou fazer, será ignorar um aspecto central do comportamento moral. 
Em terceiro lugar, a teoria não dá atenção às consequências da acção. Isto significa que idiotas bem intencionados que, involuntariamente, causem várias mortes em consequência da sua incompetência, podem ser moralmente inocentes à luz da teoria de Kant, uma vez que seriam primariamente julgados pelas suas intenções. 
Mas, em alguns casos, as consequências das acções parecem relevantes para uma apreciação do seu valor moral: pense como se sentiria em relação a uma babysitter que tentasse secar o seu gato no micro-ondas. Contudo, para ser justo com Kant a este respeito, é verdade que ele considera condenáveis alguns tipos de incompetência".
Nigel Warburton, Elementos básicos de Filosofia
Texto copiado daqui

Consultar também:

A ética de Kant: uma moral do dever

terça-feira, 22 de abril de 2014

O modelo nomológico


Ciência e questionamento: a essência da pesquisa científica


Perguntar é o modo como nós, seres humanos, nos informamos sobre o estado momentâneo da nossa curiosidade. Sem perguntas, dúvidas e questionamentos sistemáticos nós simplesmente não teríamos inventado a pesquisa científica. Como herdeiros dessa tradição, os grandes cientistas são também grandes questionadores. O ensino de Ciências nas nossas escolas e universidades deveria levar isso em conta e ser então mais frequentemente pautado pela efervescência dos debates.
Formular perguntas é, por si só, uma etapa fundamental em toda e qualquer pesquisa científica. Basta ver que algumas perguntas essenciais da ciência contemporânea foram originalmente formuladas há uma, duas ou mais gerações. As respostas é que de tempos em tempos são substituídas. Curiosamente, portanto, muitos cientistas são lembrados mais pelas questões que formulam do que pelas respostas – algumas das quais logo se revelam equivocadas – que propõem.
Fazer e refazer a mesma pergunta ao longo de gerações não significa que estejamos presos ou atolados num mesmo lugar. Na verdade, esse processo conduz-nos cada vez mais para o alto, como se estivéssemos a subir os degraus de uma escada em espiral. Nesse sentido, podemos dizer que a explicação corrente para determinado fenómeno é a paisagem momentânea que vemos à medida que a nossa escalada prossegue. E à medida que ganhamos altura, temos a possibilidade de adquirir uma visão cada vez mais ampla e clara da paisagem que nos cerca.
Converter dúvidas em perguntas
No fim das contas, são as perguntas que nos fazem prosseguir. Tenha isso em mente sempre que estiver na sala de aula e quiser fazer alguma pergunta. Nenhum de nós deveria sentir vergonha das nossas dúvidas ou guardá-las apenas para nós mesmos. Ao contrário, o bom seria poder converter as dúvidas em perguntas e, sempre que possível, discutir sobre elas com os colegas e os professores.
Eis aqui algumas perguntas que eu gostaria de fazer aos meus professores de Ciências (Ensino Básico), Biologia (Ensino Secundário) ou mesmo dos tempos da universidade: os números foram descobertos ou inventados? O fogo é matéria? Como o fogo do fogão consegue aquecer o que está dentro da panela? A velocidade da luz sempre foi a mesma? De onde vem o futuro e para onde vai o passado? De onde vêm as bolhas que sobem num copo de refrigerante? Qual é o estado físico da memória?
Qual é a hora mais fria do dia? Chove mais pela manhã, à tarde ou à noite? O tamanho das gotas de chuva é sempre o mesmo? Porque é que faz frio no Inverno e calor no Verão? Se a Terra gira, porque é que nós estamos parados? Para onde correm os rios nos países que estão abaixo do nível do mar?
Um furo feito em uma folha em expansão cresce com a folha? Porque é que as plantas produzem muito mais flores do que frutos? Porque é que as árvores do centro de uma floresta têm todas mais ou menos a mesma altura? Porque é que existem tantos insectos? Como é que as aves conseguem voar? Como é que os animais sabem o que precisam de comer? Porque é que os predadores não acabam logo com as suas presas? Os animais também pensam? Os animais sentem dor? Porque é que sonhamos? Como eu consigo lembrar-me de mim mesmo de um dia para o outro?
Porque é que a vida na Terra está pulverizada em organismos individuais, em vez  de formar uma massa contínua recobrindo todo o planeta? Como um código genético tão monótono, envolvendo apenas cinco “letras” (A, C, G, T ou U), consegue produzir tantos organismos diferentes? Como é que um zigoto microscópico se transforma num recém-nascido? Porque é que os filhos se parecem com os pais, mas não são idênticos a eles? Porque é que alguns organismos produzem tantos descendentes, enquanto outros produzem tão poucos? 
Porque é que algumas pessoas têm a pele escura, enquanto outras têm a pele clara? Todos os seres humanos pertencem a uma mesma espécie? Porque é que ficamos doentes? Porque é que envelhecemos? Se a agricultura mundial produz comida suficiente para alimentar a humanidade, porque é que muitas pessoas ainda passam fome?
Não espere que o seu professor tenha respostas na ponta da língua para essas ou quaisquer outras perguntas. Ele não tem nem precisa de ter. No mundo da ciência, o importante é ter disposição para explorar o conteúdo das perguntas, e não simplesmente recitar respostas prontas e estereotipadas.
Além disso, observe o seguinte: algumas perguntas representam um convite à experimentação (podemos de facto investigar o que ocorre com o furo feito numa folha em expansão ou descobrir o período mais chuvoso do dia), enquanto outras, no entanto, não poderiam ser tão facilmente investigadas. Neste último caso, devemos contentar-nos com o estudo da literatura e a análise crítica das respostas propostas por aqueles que estudaram ou estudam o assunto.
Eis, portanto, uma boa perspectiva para adoptarmos em relação à literatura científica: um património rico e variado que herdámos das gerações anteriores e que continua a desenvolver-se, ainda que em torno de um conjunto relativamente limitado de perguntas essenciais. No fim das contas, a motivação que hoje conduz grandes cientistas pelo caminho do conhecimento não difere muito daquilo que movia os nossos antepassados africanos, há milhares de anos: a curiosidade e a inquietação que sentimos frente às maravilhas e os mistérios deste mundo.

Actividades:
1. Das perguntas apresentadas no texto, escolha as três que lhe chamaram mais a atenção. Justifique a sua escolha.
2. Faça uma lista das dez perguntas que considera mais importantes e para as quais gostaria de obter uma resposta (não tem que se limitar às perguntas apresentadas no texto). 
3. Procure a que área da Ciência (ou do saber racional) pertence cada uma das perguntas levantadas no texto, bem como das perguntas da sua lista (da resposta à questão 2).

O conhecimento Vulgar e o Conhecimento Científico





Vermeer, 'A Leiteira', 1658.

O Senso Comum (ou Conhecimento Vulgar) 

No seu dia-a-dia, o homem adquire espontaneamente um modo de entender e actuar sobre a realidade. Algumas pessoas, por exemplo, não passam por baixo de escadas, porque acreditam que dá azar; se partirem um espelho, acreditam que terão sete anos de azar. Algumas confeiteiras sabem que o forno não pode ser aberto enquanto o bolo está a cozer, senão ele não cresce, sabem também que a determinados pratos, feitos em banho-maria, devem-se acrescentar umas gotas de vinagre ou de limão para que a vasilha de alumínio não fique escura. Como aprenderam estas informações? Elas foram sendo passadas de geração em geração. Elas não só foram assimiladas mas também transformadas, contribuindo assim para a compreensão da realidade
Assim, se o conhecimento é produto de uma prática que se faz social e historicamente, todas as explicações para a vida, para as regras de comportamento social, para o trabalho, para os fenómenos da natureza, etc., passam a fazer parte das explicações para tudo o que observamos e experienciamos. Todos estes elementos são assimilados ou transformados de forma espontânea. Por isso, raramente há questionamentos sobre outras possibilidades de explicações para a realidade. Habituamo-nos a uma determinada compreensão de mundo e não nos questionamos mais; tornamo-nos "conformistas de algum conformismo". 
São inúmeros os exemplos presentes na vida social, construídos pelo "ouvi dizer", que formam uma visão de mundo fragmentada e assistemática. Mesmo assim, é uma forma usada pelo homem para tentar resolver os problemas da sua vida quotidiana. Isto tudo é denominado senso comum ou conhecimento espontâneo. 
Portanto, podemos dizer que o senso comum é o conhecimento acumulado pelos homens, de forma empírica, porque se baseia apenas na experiência quotidiana, sem se preocupar com o rigor que a experiência científica exige e sem questionar os problemas colocados justamente pelo quotidiano. Portanto, é também um saber ingénuo uma vez que não possui uma postura crítica (é, portanto, um saber acrítico). 
Em geral, as pessoas percebem que existe uma diferença entre o conhecimento do homem do povo, às vezes até cheio de experiências, mas que não estudou, e o conhecimento daquele que estudou determinado assunto. E a diferença é que o conhecimento do homem do povo foi adquirido espontaneamente, sem muita preocupação com o método, com a crítica ou com a sistematização (o senso comum é, assim, ametódico, acrítico e assistemático). Ao passo que o conhecimento daquele que estudou algo foi obtido com esforço, usando-se um método, uma crítica mais pensada e uma organização mais elaborada dos conhecimentos
Porém, é importante destacar que o senso comum é uma forma válida de conhecimento, pois o homem precisa dele para encaminhar, resolver ou superar as suas necessidades do dia-a-dia. Os pais, por exemplo, educam os seus filhos mesmo não sendo psicólogos ou pedagogos, e nem sempre os filhos de pedagogos ou psicólogos são os melhor educados. 
O senso comum é ainda subjectivo ao permitir a expressão de sentimentos, opiniões e de valores pessoais quando observamos as coisas à nossa volta. Por exemplo: 
a) se uma determinada pessoa não nos agrada, mesmo que ela tenha um grande valor profissional, torna-se difícil reconhecer este valor. Neste caso, a antipatia por esta determinada pessoa impede-nos de reconhecer as suas capacidades;
b) os hindus consideram a vaca um animal sagrado, enquanto nós, ocidentais, concebemos este animal apenas como um fornecedor de carne, leite, etc. Por essa razão consideramo-los ignorantes e ridículos, pois tendemos a julgar os povos, que possuem uma cultura diferente da nossa, a partir dos nossos padrões valorativos.
Levando-se em conta a reflexão feita até aqui, podemos considerar o senso comum como sendo uma visão de mundo precária e fragmentada. Mesmo possuindo o seu valor enquanto processo de construção do conhecimento, ele deve ser superado por um conhecimento que o incorpore, que se estenda a uma concepção crítica e coerente e que possibilite, até mesmo, o acesso a um saber mais elaborado




Vermeer, 'O Geógrafo', 1669.

O Conhecimento Científico

Os Gregos, na antiguidade, buscavam através do uso da razão, a superação do mito ou do saber comum. O avanço na produção do conhecimento, conseguido por esses pensadores, foi estabelecer o vínculo entre ciência e pensamento sistematizado (filosofia, física, matemática...), que perdurou até o início da Idade Moderna. A partir daí, as relações dos homens tornaram-se mais complexas bem como toda a forma de produzir a sua sobrevivência. Gradativamente, houve um avanço técnico e científico, como a utilização da pólvora, a invenção da imprensa, a Física de Newton, a Astronomia de Galileu, etc. 
Foi no início do século XVII, quando o mundo europeu passava por profundas transformações, que o homem se tornou o centro da natureza (antropocentrismo). Acompanhando o movimento histórico, ele mudou toda a estrutura do pensamento e rompeu com as concepções de Aristóteles, ainda vigentes e defendidas pela Igreja, segundo as quais tudo era hierarquizado e imóvel, desde as instituições políticas até ao planeta Terra. O homem passou, então, a ver a natureza como objecto da sua acção e do seu conhecimento, podendo interferir nela. Portanto, podia formular hipóteses e experimentá-las para verificar a sua veracidade, superando assim as explicações metafísicas e teológicas que até então predominavam. O mundo imóvel foi substituído por um universo aberto e infinito, ligado a uma unidade de leis. Era o nascimento da ciência enquanto um objecto específico de investigação, com um método próprio para o controlo da produção do conhecimento. Assim sendo, ciência e filosofia separam-se. 
O conhecimento científico transformou-se numa prática constante, procurando afastar crenças supersticiosas e a ignorância, através de métodos rigorosos, para produzir um conhecimento sistemático, preciso (rigoroso) e objectivo que consiga prever os acontecimentos e agir de forma mais segura. 
Sendo assim, o que diferencia o senso comum do conhecimento científico é o rigor. Enquanto o senso comum é acrítico, fragmentado, preso a preconceitos e a tradições conservadoras, a ciência preocupa-se com as pesquisas sistemáticas que produzam teorias que revelem a verdade sobre a realidade, uma vez que a ciência produz o conhecimento a partir da razão.
Desta forma, o cientista, para realizar uma pesquisa e torná-la científica, deve seguir determinados passos. Em primeiro lugar, o pesquisador deve estar motivado a resolver uma determinada situação-problema que, normalmente, é seguida , por algumas hipóteses. Usando a sua criatividade, o pesquisador deve observar os factos, colher dados e, então, testar as suas hipóteses, que poderão transformar-se em leis e, posteriormente, ser incorporadas nas teorias que possam explicar e prever os fenómenos
Porém, é fundamental registar que a ciência não é somente acumulação de verdades prontas e acabadas, mas tê-la como um campo sempre aberto às novas concepções e contestações sem perder de vista os dados, o rigor e a coerência e aceitando que o que prova que uma teoria é científica é o facto de ela ser falível e aceitar ser refutada
O termo ciência vem do latim, scientia, de sciens, conhecimento, sabedoria. É um corpo de doutrina, organizado metodicamente que constitui uma área do saber e é relativo a determinado objecto. 
O que caracteriza cada ciência é o seu objecto formal, ou seja, a coisa observada, porém, o desdobramento dos objectos do saber científico caminhou progressivamente para a especialização das ciências (acto que marcou bastante o século XIX com o advento da técnica e da industrialização). 
http://www.geocities.com/joaojosefonseca/esquerdo.htm?200615(15/08/2006)

Actividades:
1. Defina o conceito de senso comum.
2. Defina o conceito de ciência.
3. Justifique a seguinte afirmação do texto: “é importante destacar que o senso comum é uma forma válida de conhecimento”.
4. Em que é que a ciência se distingue do senso comum? Justifique exaustivamente a sua resposta.