quarta-feira, 18 de abril de 2012

terça-feira, 17 de abril de 2012

A argumentação filosófica e a busca da verdade



3.3. Argumentação, verdade e ser, caracterizar-se-á a argumentação filosófica e o seu vínculo constitutivo à procura da verdade. 
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Há que Potenciar a Razão
“A razão não é simplesmente uma espécie de tendência automática. A razão está em boa medida baseada no confronto com os outros, quer dizer, raciocinar é uma tendência natural baseada, ou para nós fundada, no uso da palavra, no uso da linguagem; e o uso da linguagem é o que nos obriga a interiorizar o nosso papel social. A linguagem é sociedade interiorizada
O elemento racional está em todos os nossos comportamentos, faz parte das nossas mais elementares funções mentais. Se alguém nos disser que ao meio-dia comeu uma feijoada e que a paella estava muito boa, imediatamente dizemos: "não pode ser; ou feijoada ou paella". O próprio acto de nos darmos conta de que há coisas incompatíveis, de que as coisas não podem ser e não ser ao mesmo tempo, ou que as coisas contraditórias não podem afirmar-se simultaneamente, ou que tudo deve ter alguma causa, supõe exercícios de racionalidade.
Esse tipo de mecanismos elementares estão em todos nós e não poderíamos sobreviver sem eles. Há em todos os lados, em todas as culturas e em todos os tempos algumas disposições naturais para o desenvolvimento de modelos racionais.
Uma das características da razão é que serve para se ser autónomo, quer dizer, os indivíduos que usam a sua razão são mais autónomos que as pessoas que não desenvolveram a sua capacidade racional. É evidente que autonomia não quer dizer isolamento, falta de solidariedade, solipsismo, mas serve pelo menos para cada qual se auto-controlar, se auto-dirigir, optar entre opções diferentes, proteger as coisas que se consideram importantes, empreender empreendimentos, etc. Creio que a autonomia é fundamental, e essa autonomia é exactamente o que a razão permite. O não desenvolvimento da razão faz-nos dependentes. De facto, as crianças muito pequenas e as pessoas que, por qualquer desgraça, perderam alguma das faculdades racionais a primeira coisa de que sofrem é uma dependência dos outros.
Precaver-se contra explicações racionais, guardar chaves da capacidade racional é a melhor maneira de manter independência face aos outros. Por isso há que procurar potenciar a capacidade racional de assumir inclusive as limitações do nosso próprio conhecimento. Uma das características da razão é assumir os limites do conhecimento e não acreditar que, por mera acumulação, se pode estender até ao infinito.
Creio que uma das principais missões da razão é estabelecer os diversos campos de verdade que existem. É claro que a razão tem que ver com a verdade. A ideia actual de que nada é verdade é bastante discutível.
Evidentemente, da verdade absoluta, com maiúscula e um nimbo de luz à volta, ao facto de que nada seja verdade, e que portanto qualquer coisa é mais ou menos tão igualmente certa quanto outra, há um longo percurso. Quer dizer, a razão busca verdades, opiniões mais reais, mais próximas ao real, com mais carga de realidade que outras. Não está igualmente próxima da realidade qualquer tipo de forma de ver, de entender, de operar. A razão é essa busca de verdade, essa busca de maior realidade, com tudo o que a descoberta da realidade comporta.
É importante estabelecer campos diferentes de verdade. A verdade que se pode encontrar no campo das matemáticas não é a mesma do campo da história. Há campos diferentes que é importante estabelecer. A razão serve para estabelecer esses campos de verdade diferentes. Às vezes, por exigir a verdade que pertence a um campo a outro campo diferente, perdemos a substância racional que pode haver numa proposta explicativa.
Vivemos numa época em que se ouve a opinião, para mim disparatada, de que todas as opiniões são respeitáveis. Como é que podem ser respeitáveis todas as opiniões?! Se algo caracteriza as opiniões é o facto de não serem todas respeitáveis. Se todos tivéssemos acreditado que todas as opiniões são respeitáveis, ainda não teríamos descido da primeira árvore. Todas as pessoas são respeitáveis, sejam quais forem as suas opiniões, mas nem todas as opiniões são respeitáveis. Uma pessoa que diz que dois e dois são cinco, não pode ser encarcerada, não pode ser objecto de nenhuma represália, mas o que é evidente é que a ideia de que dois e dois são cinco não é tão respeitável como a ideia de que dois e dois são quatro.
A mitificação da opinião própria conduz a considerá-la como algo que se subtrai à discussão, em vez de algo que se põe sobre a mesa, algo que não é nem meu nem teu mas que temos que discutir – discutere é, em latim, ver se uma árvore tem raízes, se as coisas têm raízes –, ver se está enraizada em algo. Quando se propõe uma opinião, não se propõe como quem se fecha num castelo, como quem se encouraça, não se supõe que todas as opiniões são igualmente válidas, mas pelo contrário que estão abertas a confrontar-se com provas e dados.
Se não, não são opiniões, são dogmas. A ideia de que todas as opiniões valem o mesmo, de que a opinião do aluno do infantário vale tanto, em questões matemáticas, como a do professor de aritmética, não é verdade.
A posição autenticamente livre, aberta e revolucionária é sustentar que é a razão que vale e que as opiniões devem submeter-se-lhe, e não que são as opiniões que por si mesmas, por ter uma pessoa por trás, se convertem em invioláveis porque a pessoa o é. A razão não se nota somente quando alguém argumenta como também quando alguém compreende argumentos. Ser racional é poder ser persuadido por argumentos, não apenas persuadir com argumentos. Ninguém pode aspirar à condição de racional se as suas razões, as vê muito claras, mas nunca vê claramente nenhuma razão alheia. Ver as razões dos outros faz parte, necessariamente, da racionalidade. Aceitar ter sido persuadido por razões costuma ser muito mal visto, como se dar mostras de racionalidade fosse algo muito mau, quando o facto de alguém mudar de opinião demonstra que a razão lhe continua a funcionar.
A razão cobre um campo que abarca o meramente racional, no qual nos entendemos com as coisas o melhor possível, e o razoável, no qual nos entendemos com os sujeitos. É razoável incluir na minha própria a razão própria de outro sujeito, a possibilidade de aceitar os seus fins, de aceitar os seus objectivos, a sua própria busca da experiência como parte da minha própria razão.
Não vivemos só num mundo de objectos, mas também de sujeitos. Não entende racionalmente o mundo quem crê que tudo são objectos, do mesmo modo que a chave do sentido é o que se compartilha com outros sujeitos.”
Fernando Savater

Falácias Informais



2.2. O discurso argumentativo – principais tipos de argumentos e falácias informais, deverão ser abordados os critérios para avaliar argumentos indutivos, por analogia e de autoridade. Deverão ser abordadas também as seguintes falácias informais: 
a) Petição de princípio;
b) falso dilema;
c) apelo à ignorância.
d) ad hominem; 
e) derrapagem (ou “bola de neve”);
 f) boneco de palha. 
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a) Falácia da petição de princípio – A verdade da conclusão é pressuposta pelas premissas. Muitas vezes, a conclusão é apenas reafirmada nas premissas de uma forma ligeiramente diferente. Nos casos mais subtis, a premissa é uma consequência da conclusão.
Exemplos:
  1. Dado que não estou a mentir, segue-se que estou a dizer a verdade.
  2. Sabemos que Deus existe, porque a Bíblia o diz. E o que a Bíblia diz deve ser verdadeiro, dado que foi escrita por Deus e Deus não mente. (Neste caso teríamos de concordar primeiro que Deus existe para aceitarmos que ele escreveu a Bíblia.)

b) Falso dilema - É dado um limitado número de opções (na maioria dos casos apenas duas), quando de facto há mais. O falso dilema é um uso ilegítimo do operador "ou". Pôr as questões ou opiniões em termos de "ou sim ou sopas" gera, com frequência (mas nem sempre), esta falácia.

Exemplos:
  • Ou concordas comigo ou não. (Porque se pode concordar parcialmente.)
  • Reduz-te ao silêncio ou aceita o país que temos. (Porque uma pessoa tem o direito de denunciar o que entender.)
  • Ou votas no Silveira ou será a desgraça nacional. (Porque os outros candidatos podem não ser assim tão maus.)
  • Uma pessoa ou é boa ou é má. (Porque muitas pessoas são apenas parcialmente boas.)
c) Apelo à ignorância -Os argumentos desta classe concluem que algo é verdadeiro por não se ter provado que é falso; ou conclui que algo é falso porque não se provou que é verdadeiro. (Isto é um caso especial do falso dilema, já que presume que todas as proposições têm de ser realmente conhecidas como verdadeiras ou falsas). Mas, como Davis escreve, "A falta de prova não é uma prova." (p. 59)
Exemplos:
  • Os fantasmas existem! Já provaste que não existem?
  • Como os cientistas não podem provar que se vai dar uma guerra global, ela provavelmente não ocorrerá.
  • Fred disse que era mais esperto do que Jill, mas não o provou. Portanto, isso deve ser falso.
d) Ad Hominem (ataques pessoais)Ataca-se a pessoa que apresentou um argumento e não o argumento que apresentou. A falácia ad hominem assume muitas formas. Ataca, por exemplo, o carácter, a nacionalidade, a raça ou a religião da pessoa. Em outros casos, a falácia sugere que a pessoa, por ter algo tem algo a ganhar com o argumento, é movida pelo interesse. A pessoa pode ainda ser atacada por associação ou pelas suas companhias.
Há três formas maiores da falácia ad hominem:
  1. Ad hominem (abusivo): em vez de atacar uma afirmação, o argumento ataca pessoa que a proferiu.
  2. Ad hominem (circunstancial): em vez de atacar uma afirmação, o autor aponta para as circunstâncias em que a pessoa que a fez e as suas circunstâncias.
  3. Tu quoque: esta forma de ataque à pessoa consiste em fazer notar que a pessoa não pratica o que diz.
Exemplos:
  1. Podes dizer que Deus não existe mas estás apenas a seguir a moda (ad hominem abusivo).
  2. É natural que o ministro diga que essa política fiscal é boa porque ele não será atingido por ela (ad hominem circunstancial).
  3. Podemos passar por alto as afirmações de Simplício porque ele é patrocinado pela indústria da madeira (ad hominem circunstancial).
  4. Dizes que eu não devo beber, mas não estás sóbrio faz mais de um ano (tu quoque).
e) Derrapagem (bola de neve)Para mostrar que uma proposição, P, é inaceitável, extraem-se consequências inaceitáveis de P e consequências das consequências... O argumento é falacioso quando pelo menos um dos seus passos é falso ou duvidoso. Mas a falsidade de uma ou mais premissas é ocultada pelos vários passos "se... então..." que constituem o todo do argumento.

Exemplos:
  • Se aprovamos leis contra as armas automáticas, não demorará muito até aprovarmos leis contra todas as armas, e então começaremos a restringir todos os nossos direitos. Acabaremos por viver num estado totalitário. Portanto não devemos banir as armas automáticas.
  • Nunca deves jogar. Uma vez que comeces a jogar verás que é difícil deixar o jogo. Em breve estarás a deixar todo o teu dinheiro no jogo e, inclusivamente, pode acontecer que te vires para o crime para suportar as tuas despesas e pagar as dívidas.
  • Se eu abrir uma excepção para ti, terei de abrir excepções para todos.
f) Boneco de palha (espantalho)O argumentador, em vez de atacar o melhor argumento do seu opositor, ataca um argumento diferente, mais fraco ou tendenciosamente interpretado. Infelizmente é uma das "técnicas" de argumentação mais usadas.
Exemplos:
  1. As pessoas que querem legalizar o aborto, querem prevenção irresponsável da gravidez. Mas nós queremos uma sexualidade responsável. Logo, o aborto não deve ser legalizado.
  2. Devemos manter o recrutamento obrigatório. As pessoas não querem o fazer o serviço militar porque não lhes convém. Mas devem reconhecer que há coisas mais importantes do que a conveniência.

sábado, 14 de abril de 2012

As falácias formais




1.3. Para a Lógica Aristotélica, as falácias formais a tratar serão a falácia do termo médio não-distribuído, a ilícita maior e a ilícita menor.
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Falácia do termo médio não distribuído - O termo médio não está distribuído pelo menos numa das premissas (violando a regra 3, para os termos, segundo a qual 'o termo médio tem que estar distribuído pelo menos uma vez).

Falácia da ilícita maior - O termo maior está distribuído na conclusão, mas não o está na premissa maior (violando a  regra 2, para os termos, segundo a qual 'nenhum termo pode estar distribuído na conclusão sem o estar nas premissas).

Falácia da ilícita menor - O termo menor está distribuído na conclusão, mas não o está na premissa menor (violando a  regra 2, para os termos, segundo a qual 'nenhum termo pode estar distribuído na conclusão sem o estar nas premissas).

Formas de inferência válida, para a Lógica Aristotélica


Teste intermédio: A Teoria do Silogismo