Grupo I
Texto 1
Texto 1
"Uma característica notável de muita informação que adquirimos através da experiência comum é que, embora ela possa ser suficientemente precisa dentro de certos limites, raramente é acompanhada por qualquer explicaçāo que nos diga por que se deram os factos alegados."
Ernst Nagel
1. Identifique o tipo de conhecimento a que o texto se refere. Justifique.
2. Distinga ciência de senso comum, a partir das três características da ciência mais importantes (de acordo com a sua opinião).
Grupo II
1. De acordo com Karl Popper as teorias científicas podem ser verificadas? Porquê.
2. O conhecimento científico é objectivo? Responda a esta questão confrontando as perspectivas de Popper e Kuhn.
2. O conhecimento científico é objectivo? Responda a esta questão confrontando as perspectivas de Popper e Kuhn.
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Correção:
Correção:
Grupo I
1. O texto refere-se ao senso com um (conhecimento vulgar).
A "experiência comum" a que o texto se refere é a experiência sensorial, ingénua, não mediada racionalmente, através da qual contactamos com a realidade na nossa vida quotidiana.
Essa experiência espontânea dá-nos um conhecimento superficial da realidade, embora esse conhecimento possa ser muito variado, não é suficiente para ficarmos com uma visão sistemática do mundo.
O texto refere, ainda, que essa experiência "raramente é acompanhada por qualquer explicação": o conhecimento vulgar, ao contrário do que se passa com a ciência, não é explicativo, não procura descobrir as causas reais dos fenómenos. Isto porque se trata de um conhecimento que tem uma forte componente prática, é constituído por segmentos de informação que nos permitem funcionar no mundo em que vivemos: como acender a luz, como abrir uma fechadura, como apanhar um autocarro, como usar uma ferramenta, etc., não necessitando, assim, de grandes explicações.
2. É difícil selecionar as três características mais importantes da ciência, porque muitas dessas características estão interligadas. Mas podemos procurar os pontos de encontro das principais características da ciência: a sistematicidade, o carácter metódico, o carácter explicativo, a revisibilidade, entre outras, remetem para o facto da ciência ser um saber racional: o senso comum é um saber empírico, ou seja, é um saber que deriva de forma direta e acrítica da experiência quotidiana, sem 'filtros' que lhe garantam o rigor e sem a obediência a princípios lógicos que lhe garantam a coerência.
Pelo contrário, a ciência é um saber altamente testado, sofisticado do ponto de vista lógico e conceptual, que procura explicar o funcionamento da realidade (natureza, universo...). Este objectivo só é alcançável através da problematização: o carácter racional da ciência evidencia-se na problematização - ao colocar problemas, o cientista aprofunda o seu conhecimento da realidade, coloca-se na posição de quem mergulha para lá da superfície da experiência sensorial e vai ao fundamento de toda a explicação: as causas ocultas dos fenómenos. E não estamos perante nenhuma forma de 'ocultismo': as aparências sensoriais escondem o que de facto acontece na complexíssima fábrica do mundo, a constituição da matéria, as forças que atuam sobre os corpos, enfim, tudo o que está para além da imediatez do conhecimento sensorial.
Na problematização está pressuposta uma atitude crítica em relação aos dados da experiência, mas também em relação às explicações racionais: em ciência o dogmatismo funciona como um travão à descoberta, por isso as conclusões alcançadas são encaradas como boas respostas aos problemas que, no futuro, poderão ser substituídas por outras melhores. A ciência é, portanto, revisível, pode ser melhorada, com vista a que se encontrem explicações mais verdadeiras.
Outra característica da ciência que podemos destacar é a sua dimensão factual: a ciência assenta em factos, o que torna muito importante a experiência na sua construção. Mas já não se trata da experiência sensorial, tal com acontece ao nível do quotidiana, trata-se, pelo contrário, de uma experiência mediada racionalmente, que incorpora elementos metodológicos necessários ao cumprimento das metas da investigação: como observação, a experiência assume em ciência uma dimensão instrumental e quantitativa, os cientistas observam os fenómenos utilizando instrumentos que lhes permitem ultrapassar as lacunas do conhecimento dos sentidos (que estão na base da argumentação céptica e cartesiana). A observação científica assenta na medida, pelo que grande parte dos instrumentos de observação científica são instrumentos de medida ou têm na medição a razão de ser do seu funcionamento. Só assim é possível recolher dados quantitativos, objectivos, que podem ser trabalhados com base em instrumentos de análise matemática. Assim se ultrapassa o subjectivismo do conhecimento vulgar e se pode alcançar um conhecimento objectivo.
Mas a experiência em ciência também assume uma dimensão experimental: os cientistas, depois de formularem hipóteses explicativas, testam-nas construindo experiências que reproduzem os fenómenos naturais em situações controladas, frequentemente em laboratório. Aí a experiência é depurada de todos os elementos que possam introduzir imprecisões ou confusão para que se possa aquilatar com rigor as relações causais que produzem os fenómenos.
Por fim, podemos destacar a importância do conhecimento científico para a evolução histórica da humanidade. É que a ciência está na base da tecnologia e, através desta, te um impacto crescente na vida dos seres humanos e das sociedades. Vivemos hoje numa sociedade do conhecimento, em que se assiste a uma galopante sucessão de inovações tecnológicas que, de forma muito rápida, mudam a sociedade e a nossa vida, trazendo novas formas de comunicar, mais poder reivindicativo para os cidadãos, um alargamento inaudito da esperança média de vida e um acesso à informação e ao saber nunca antes experienciado.
Estas mudanças profundas são são possíveis graças à ciência e ao seu sentido progressivo: a ciência está sempre em evolução e, por isso, serve de motor da História, provoca transformações nas formas de pensar, nas relações sociais, nas transções económicas, no fundo em tudo o que faz a malha cada vez mais complexa da cultura e da sociedade que são a base da vida humana.
O senso comum, pode, pelo contrário, ser considerado conservador, uma vez que é um repositório acrítico de conhecimentos dispersos, onde o novo se confunde com o ancestral e o irracional muitas vezes trava a marcha da racionalidade.
Na problematização está pressuposta uma atitude crítica em relação aos dados da experiência, mas também em relação às explicações racionais: em ciência o dogmatismo funciona como um travão à descoberta, por isso as conclusões alcançadas são encaradas como boas respostas aos problemas que, no futuro, poderão ser substituídas por outras melhores. A ciência é, portanto, revisível, pode ser melhorada, com vista a que se encontrem explicações mais verdadeiras.
Outra característica da ciência que podemos destacar é a sua dimensão factual: a ciência assenta em factos, o que torna muito importante a experiência na sua construção. Mas já não se trata da experiência sensorial, tal com acontece ao nível do quotidiana, trata-se, pelo contrário, de uma experiência mediada racionalmente, que incorpora elementos metodológicos necessários ao cumprimento das metas da investigação: como observação, a experiência assume em ciência uma dimensão instrumental e quantitativa, os cientistas observam os fenómenos utilizando instrumentos que lhes permitem ultrapassar as lacunas do conhecimento dos sentidos (que estão na base da argumentação céptica e cartesiana). A observação científica assenta na medida, pelo que grande parte dos instrumentos de observação científica são instrumentos de medida ou têm na medição a razão de ser do seu funcionamento. Só assim é possível recolher dados quantitativos, objectivos, que podem ser trabalhados com base em instrumentos de análise matemática. Assim se ultrapassa o subjectivismo do conhecimento vulgar e se pode alcançar um conhecimento objectivo.
Mas a experiência em ciência também assume uma dimensão experimental: os cientistas, depois de formularem hipóteses explicativas, testam-nas construindo experiências que reproduzem os fenómenos naturais em situações controladas, frequentemente em laboratório. Aí a experiência é depurada de todos os elementos que possam introduzir imprecisões ou confusão para que se possa aquilatar com rigor as relações causais que produzem os fenómenos.
Por fim, podemos destacar a importância do conhecimento científico para a evolução histórica da humanidade. É que a ciência está na base da tecnologia e, através desta, te um impacto crescente na vida dos seres humanos e das sociedades. Vivemos hoje numa sociedade do conhecimento, em que se assiste a uma galopante sucessão de inovações tecnológicas que, de forma muito rápida, mudam a sociedade e a nossa vida, trazendo novas formas de comunicar, mais poder reivindicativo para os cidadãos, um alargamento inaudito da esperança média de vida e um acesso à informação e ao saber nunca antes experienciado.
Estas mudanças profundas são são possíveis graças à ciência e ao seu sentido progressivo: a ciência está sempre em evolução e, por isso, serve de motor da História, provoca transformações nas formas de pensar, nas relações sociais, nas transções económicas, no fundo em tudo o que faz a malha cada vez mais complexa da cultura e da sociedade que são a base da vida humana.
O senso comum, pode, pelo contrário, ser considerado conservador, uma vez que é um repositório acrítico de conhecimentos dispersos, onde o novo se confunde com o ancestral e o irracional muitas vezes trava a marcha da racionalidade.
Grupo II
1.
De acordo com Karl Popper as teorias científicas não podem ser verificadas.
Em primeiro lugar, para haver lugar à verificação das teorias (que são universais) teria que ser possível conhecer todos os fenómenos explicáveis com base na teoria, ou ter um princípio de indução capaz de garantir à indução a possibilidade de derivar a verdade da conclusão da verdade das premissas (o que é uma característica da validade dedutiva).
Karl Popper, seguindo na esteira de David Hume, rejeita o indutivismo que é a base do verificacionismo: quando se fazem testes experimentais às teorias não se pode pretender verificá-las, uma vez que é impossível garantir a verdade de conclusões universais a partir de premissas particulares, pois é sempre possível que existam excepções à teoria que ainda não foram observadas.
Sendo assim, a única forma de corroborar as teorias será através do princípio da falsificabilidade: a aparente fraqueza das teorias científicas, a sua inverificabilidade, é, no entanto, a sua força. ou seja o que garante a fecundidade da investigação científica e a revisibilidade evolutiva da ciência. Uma teoria só é científica se for falsificável, isto é, se, a partir do momento em que é formulada, abre as portas à possibilidade da sua falsificação.
A falsificabilidade é, por isso, o critério de demarcação que permite separar a ciência da não-ciência. O conhecimento científico não é dogmático nem evolui por acréscimos sucessivos de novas verdades, pelo contrário, a ciência avança, sim, mas pela eliminação do erro, não pela afirmação de verdades absolutas. Isto não quer dizer que na ciência não existem certezas: quando uma teoria é falsificada pela experiência há a certeza, absoluta e irrevogável, de que a teoria é falsa e deve ser substituída por outra melhor, mais ajustada à experiência.
2.
De acordo com Karl Popper o conhecimento científico é objectivo porque se baseia na observação da realidade, tendo, por isso, uma base observacional e factual. Os factos não são construídos pelo sujeito cognoscente, embora sejam abordados observacionalmente a partir dos interesses de quem investiga: a observação científica é orientada pela problematização que, por sua vez, pressupõe uma participação activa do sujeito na busca e construção do saber.
No entanto os fenómenos observados em ciência têm uma dimensão positiva, factual e empírica, que não depende da natureza do sujeito cognoscente nem das condições subjectivas e culturais em que o conhecimento se desenrola. É isto que permite garantir o rigor da ciência e a corroboração das teorias.
No caso de Thomas Kuhn a resposta será radicalmente diferente: a ciência não é objectiva porque a definição do objecto da ciência depende do paradigma que serve de base à prática de cada comunidade científica. Sendo assim a própria forma como a realidade é entendida depende das orientações paradigmáticas e são estas que vão permitir decidir o que é ou não objecto da ciência e o que os cientistas devem poder esperar do seu objecto de investigação.
Quando muda o paradigma muda também a forma com os cientistas encaram os objectos por si estudados. Há a possibilidade de surgirem novas formas de conceber os objectos investigados e investigáveis, de abandonar as anteriores categorizações que diziam aos cientistas que tipos de ser poderiam encontrar na natureza e quais as relações que se podem estabelecer entre os diversos elementos da realidade. Se na Idade Média a existência dos anjos era praticamente inquestionável, hoje em dia os mesmos não passam de seres pertencentes ao campo do imaginário, completamente desprovidos da possibilidade de virem a ser considerados como objectos de qualquer conhecimento científico.
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