Um TEXTO ARGUMENTATIVO é um texto em que defendemos uma ideia, opinião ou ponto de vista, ou seja, uma tese, procurando (por todos os meios) fazer com que nosso leitor a aceite, creia nela.
Num texto argumentativo, distinguem-se três componentes: a tese, os argumentos e as estratégias argumentativas.
A TESE é a ideia que defendemos, necessariamente polémica, pois a argumentação implica divergência de opinião.
Os argumentos de um texto são facilmente localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta porquê? (Ex.: o autor é contra o aborto (tese). Porque ... (argumentos).
As ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS não se confundem com os ARGUMENTOS. Esses, como se disse, respondem à pergunta porquê (o autor defende uma tese tal PORQUE ... - e aí vêm os argumentos).
As ESTRATÉGIAS argumentativas os recursos utilizados para convencer o leitor, encarando-o como um sujeito racional.
Os exemplos a seguir poderão dar melhor ideia acerca do que estamos a falar:
A CLAREZA do texto - para citar um primeiro exemplo - é uma estratégia argumentativa na medida em que, em sendo claro, o leitor poderá entender, e entendendo, poderá concordar com o que está a ser exposto. Portanto, para conquistar o leitor, quem escreve vai procurar por todos os meios ser claro, isto é, utilizar a ESTRATÉGIA da clareza. A CLAREZA não é, pois, um argumento, mas é um meio (estratégia) imprescindível, para obter adesão das mentes, dos espíritos.
O TÍTULO ou o INÍCIO do texto devem ser utilizados como estratégia para captar a atenção do leitor imediatamente. De nada valem os nossos argumentos se não são lidos.
A utilização de vários argumentos, a sua disposição ao longo do texto, o ataque às posições adversárias, as antecipações em que o escritor prevê a argumentação do adversário e responde-lhe, a qualificação das fontes, etc., são alguns outros exemplos de estratégias argumentativas.
A estrutura de um texto argumentativo:
1. Introdução apresentação da tese: afirmativa suficientemente definida e limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento.
1.1. Análise da proposição ou tese: definição do sentido da tese ou de alguns dos seus termos, a fim de evitar mal-entendidos. (1º Parágrafo – cerca de 5 linhas).
2. Formulação de argumentos: factos, exemplos, dados estatísticos, testemunhos, raciocínios, etc. (Um parágrafo para cada argumento).
3. Conclusão. A conclusão é o remate do texto, por isso deve ser logicamente derivada dos argumentos apresentados no texto. Pode ser uma reafirmação eloquente da tese (e do argumento mais forte), acompanhada (ou não – isso fica ao critério do autor) da formulação de questões que permitam reforçar o sentido do texto, ao mesmo tempo que levam o leitor a questionar-se sobre aspetos do tema abordado que não puderam ser aprofundados. Por vezes basta, para concluir um texto, apresentar uma questão bem formulada. (último parágrafo – Não deve ser muito maior do que a introdução – cerca de 7 linhas).
http://www.pucrs.br/gpt/argumentativo.php (Texto adaptado
___________
Como construir um texto argumentativo em Filosofia:
Apresente as suas ideias por uma ordem natural.
Os argumentos curtos escrevem-se normalmente em um ou dois parágrafos. Coloque a conclusão primeiro, seguida das suas razões, ou apresente as suas premissas primeiro e retire a conclusão no fim. Em qualquer dos casos, apresente as suas ideias pela ordem que mais naturalmente revele o seu raciocínio ao leitor.
Repare neste curto argumento de Bertrand Russell:
Os males do mundo devem-se tanto a deficiências morais quanto à falta de inteligência. Mas a humanidade não descobriu até agora qualquer método para erradicar as deficiências morais [...] A inteligência, pelo contrário, é facilmente aperfeiçoada através de métodos que todos os educadores competentes conhecem. Logo, até que se descubra um método para ensinar a virtude, o progresso terá de ser alcançado através do aperfeiçoamento da inteligência, e não da moral.
Cada afirmação desta passagem conduz naturalmente à próxima. Russell começa por apontar duas fontes do mal no mundo: «deficiências morais», nas suas palavras, e «falta de inteligência». Afirma depois que não sabemos como corrigir as «deficiências morais», mas que sabemos como corrigir a falta de inteligência. Logo — note-se que a palavra «logo» marca claramente a sua conclusão —, o progresso terá de advir do aperfeiçoamento da inteligência.. Cada frase deste argumento está no lugar certo. E havia muitos lugares errados à sua disposição. Suponhamos que Russell o escrevera antes desta maneira: Os males do mundo devem-se tanto a deficiências morais quanto à falta de inteligência. Até que se descubra algum método para ensinar a virtude, o progresso terá de ser alcançado através do aperfeiçoamento da inteligência, e não da moral. A inteligência é facilmente aperfeiçoada através de métodos que todos os educadores competentes conhecem.
Mas a humanidade não descobriu até agora qualquer método para erradicar deficiências morais. Estas são exatamente as mesmas premissas e conclusão, mas estão numa ordem diferente, e a palavra «logo», antes da conclusão, foi omitida. Agora o argumento é muito mais difícil de compreender: as premissas não estão naturalmente encadeadas e temos de ler a passagem duas vezes só para percebermos a conclusão. Não espere que os seus leitores sejam assim tão pacientes. É de esperar que sejam necessárias várias reformulações do seu argumento até encontrar a ordem mais natural. As regras discutidas neste livro deverão ajudá-lo: pode usá-lo não apenas para descobrir de que premissas necessita, mas também para as formular da maneira mais natural.
Parta de premissas fidedignas.
Por melhor que argumente a partir das premissas para a conclusão, a sua conclusão será fraca se as suas premissas forem fracas. Hoje não há ninguém no mundo realmente feliz. Logo, parece que os seres humanos não foram feitos para a felicidade. Por que devemos esperar o que nunca poderemos encontrar? A premissa deste argumento é a afirmação de que hoje não há ninguém no mundo realmente feliz. Pergunte-se se esta premissa é plausível. Não há ninguém hoje no mundo realmente feliz? Esta premissa precisa, no mínimo, de alguma defesa e é muito natural que não seja pura e simplesmente verdadeira. Logo, este argumento não pode mostrar que os seres humanos não foram feitos para a felicidade ou que não devemos ter esperança nela. Por vezes, é fácil começarmos por premissas fidedignas. Podemos dispor de exemplos muito conhecidos ou de autoridades bem informadas que estão claramente de acordo. Outras vezes é mais difícil. Se não tem a certeza de que uma premissa é fidedigna, pode ter de fazer alguma pesquisa e/ou apresentar um curto argumento para defender a própria premissa. (Regressaremos a este tema em capítulos posteriores, especialmente na regra 32 do capítulo VII.) Se descobrir que não pode argumentar adequadamente a favor da sua premissa ou premissas, então, está claro, é necessário que desista completamente desse argumento e comece por outro lado.
Anthony Weston, A arte de argumentar
Sem comentários:
Enviar um comentário