quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O Empirirsmo e o Racionalismo (O problema da origem do conhecimento)

Imagem de Gilbert Garcin
O problema da origem do conhecimento
Introdução
A epistemologia, também chamada teoria do conhecimento ou gnosiologia, é o ramo da filosofia interessado na investigação da natureza, fontes e validade do conhecimento. Entre as questões principais que ela tenta responder estão as seguintes: O que é o conhecimento? Como nós o alcançamos? Podemos conseguir meios para defendê-lo contra o desafio céptico? Essas questões são, implicitamente, tão velhas quanto a filosofia.
Um passo óbvio na direcção de responder à primeira questão é tentar uma definição de conhecimento. A definição padrão, preliminarmente, é a de que o conhecimento é crença verdadeira justificada. Esta definição parece plausível porque, ao menos, ela dá a impressão de que para conhecer algo alguém deve acreditar nele, que a crença deve ser verdadeira, e que a razão de alguém para acreditar deve ser satisfatória à luz de algum critério, pois alguém não poderia dizer conhecer algo se a sua razão para acreditar fosse arbitrária ou aleatória. Assim, cada uma das três partes da definição parece expressar uma condição necessária para o conhecimento, e a reivindicação é a de que, tomadas em conjunto, elas são suficientes.

A origem do conhecimento
Paralelamente a esse debate sobre como definir o conhecimento há um outro sobre como o conhecimento é adquirido. Na história da epistemologia tivemos duas principais escolas de pensamento sobre o que constitui o meio mais importante para o conhecer. Uma é a escola "racionalista", que mantém que a razão é responsável por esse papel. A outra é a "empirista", que mantém que é a experiência, principalmente o uso dos sentidos, ajudados, quando necessário, por instrumentos, que é responsável por tal papel.
O paradigma de conhecimento para os racionalistas é a matemática e a lógica, onde verdades necessárias são obtidas por intuição e inferência racionais. Questões sobre a natureza da razão, a justificação da inferência e a natureza da verdade, especialmente da verdade necessária, são um desafio para esta corrente.
O paradigma dos empiristas é a ciência natural, onde observações e experimentações são cruciais para a investigação.
|Elliott Sober. Tradução de Paula Mateus. Texto retirado do livro Core Questions in Philosophy, de Elliott Sober (Prentice Hall, 2008), in http://criticanarede.com/fil_con

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Imagina que enfrentaste o cepticismo e superaste o desamparo em que ele queria deixar-te. Vais pressupor que sabemos algumas coisas. Mesmo que esse conhecimento seja trivial, isso basta para os nossos propósitos. Por exemplo, sabes que "a teoria de Darwin é tratada na página 99 do manual de Biologia"; se alguém te perguntar por que razão o sabes, a tua resposta será "porque consultei o manual e vi que a teoria de Darwin era tratada na página 99". Sabes que "o mar está calmo" porque foste à praia e viste que o mar estava calmo. Nos dois casos, afirmas que tens conhecimento com base no que viste. A experiência de ver é a justificação para as tuas crenças. Daí podermos dizer que a experiência é a origem destes conhecimentos. A teoria associada à ideia de que a origem do conhecimento está na experiência é o empirismo. Na sua forma extrema, o empirismo defende que, em última instância, todo o conhecimento deriva de, ou consiste em, verdades obtidas apenas a partir da experiência (a posteriori).

Considera um exemplo diferente. Imagina que tens três gatinhos e dois cestos e que vais distribuir alguns gatinhos por um dos cestos e alguns gatinhos pelo outro. Quantas maneiras tens de o fazer? Poderás descobrir experimentando e contando todas as possibilidades. Ou poderás descobrir raciocinando da seguinte maneira: o primeiro gatinho pode ir para o cesto direito ou para o esquerdo, o que dá duas maneiras de começar; cada uma destas maneiras pode ser continuada pondo o segundo gatinho no cesto direito ou no cesto esquerdo, o que faz duas vezes duas ou quatro maneiras de realizar a tarefa; por último, o terceiro gatinho pode ir para o cesto direito ou esquerdo, o que dará um total de quatro vezes duas ou oito maneiras de distribuir os gatinhos pelos cestos. Neste caso, descobres quantas maneiras tens de distribuir os gatinhos sem recorrer a indícios empíricos; sabes a verdade previamente a qualquer indício empírico. Se tiveste dificuldade em entender este exemplo, podes simplesmente pensar num exercício de aritmética elementar como somar 85 a 23. Caso resolvas o exercício apenas pelo pensamento, dispensando o recurso a uma máquina de calcular, também neste caso sabes a verdade previamente a qualquer indício empírico. Diz-se por isso que estes conhecimentos são a priori: a sua origem está na razão. A teoria associada à ideia de que a origem do conhecimento está na razão é o racionalismo. Na sua forma extrema, o racionalismo defende que, em última instância, todo o conhecimento deriva ou depende de verdades obtidas apenas a partir da razão (a priori).

O a priori e o a posteriori são modos de conhecimento. Os exemplos dos gatinhos e da soma é elucidativo: podes saber certas coisas de um modo a priori ou a posteriori. Se sabes através da experiência, sabes a posteriori, se sabes pelo pensamento apenas, sabes a priori. Em si, as crenças não são a priori ou a posteriori. Mas não penses que a noção de a priori é pacífica entre os filósofos especializados na discussão de questões epistémicas. Aceitar que podemos conhecer coisas a priori é, em geral, aceitar que podemos saber coisas acerca do mundo sem olhar para ele, independentemente da experiência. Contudo, não é fácil explicar como isso é possível, e alguns filósofos rejeitam que isso seja possível.
Arrumar os filósofos mais importantes da Idade Moderna em racionalistas e empiristas poderá ser útil para fins didácticos, mas deves ter consciência desde já que na maior parte dos casos se trata de uma simplificação grosseira por não dar conta das diferenças subtis entre os filósofos em questão. Poucos foram os filósofos que exemplificaram sem sombra de dúvida a forma extrema de racionalismo ou a forma extrema de empirismo. Isto quer dizer que na maior parte dos casos há apenas uma diferença relativamente ao tipo de explicação que se tem do a priori. Dito isto, vais agora estudar Descartes, filósofo francês do século XVII, do lado do racionalismo; e do lado do empirismo, David Hume, filósofo escocês do século XVIII.

Questões de revisão:

1. Segundo o empirismo, qual é a justificação última das crenças?
2. Segundo o racionalismo, qual é a justificação última das crenças?
3. Mostra, recorrendo a exemplos diferentes dos que são apresentados no texto,  o que é o a priori e o a posteriori, explicando esses exemplos.


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