Quanto aos sofistas, seria obrigatório considerar que este termo designa um antigo grupo de sábios que teve uma relevância inquestionável na sociedade grega em meados do século V a.C. Costuma-se afirmar que os sofistas eram dotados de uma notável capacidade retórica. No entanto, dada definição não chega a demonstrar claramente a real importância destes sábios. J. V. Luce chega a afirmar que o termo sophistes podia ser empregue com a mesma conotação, sem que com tal emprego incorresse em erro, para poetas, carpinteiros, médicos e estadistas.
Porém, mesmo diante desse pequeno impasse devemos lembrar que o termo sofista é, grosso modo, uma derivação do termo sophos, que significa “sábio, perito, especialista”. Em consonância com isso, cabe ainda informar que o poeta Ésquilo disse, certa vez, que “não é aquele que sabe muitas coisas que é sophos, mas aquele cujo conhecimento é útil”. Por esse prisma, é válido aceitar que, ao atingir-se o real alcance da afirmação de Ésquilo, os Sofistas seriam, num sentido restrito, aqueles que são úteis à pólis – à cidade – já que a sua zona de ação estaria de acordo com os interesses práticos da sociedade, ou seja, agiriam sempre com vista a um conhecimento útil. Não se conformavam ao meramente abstrato, ao que não tivesse fins políticos claros.
Tal carga semântica referente à utilidade atribuída à prática dos Sofistas é perceptível quando se assevera que já em meados do século V a.C estes eram conhecidos como 'professores' errantes que viajavam de cidade em cidade oferecendo cursos de instrução numa grande variedade de assuntos. Precisamente por ter o seu campo de ação no âmbito do que fosse público é que os Sofistas conseguiram colocar-se numa posição de distinção no que se refere às consequências das ideias defendidas por eles:
"Não há outro movimento que se possa comparar com a Sofística quanto à duração das suas consequências. Não que, de um golpe, tenha modificado a vida cultural grega; antes, já vimos que os círculos afetados por ela ao princípio eram de certa maneira restritos. Mas o mundo de ideias que ela fez desintegrar nunca mais voltou a formar uma verdadeira unidade, e as perguntas que formulava, as dúvidas que suscitava, não puderam ser silenciadas [...]. (LESKY, História da literatura grega." Tradução Manuel Losa. 3.ed. Lisboa, Calouste Gumbenkian, 1995, p.317)
Diante disso, é inegável a importância e a repercussão dos Sofistas não apenas para a filosofia, mas para os diversos aspectos sociais envolvidos no domínio sofístico.
Não obstante, ao longo da história ocidental, o termo 'sofista' ganhou um sentido pejorativo. E tal conotação pejorativa começou a ganhar notoriedade ainda na Antiguidade. Desta forma, se antes sábio e sofista foram termos sinonímicos, já no século V a.C. a palavra 'sofista' passou a designar aquele que convence por meio de sofismas.
O sofisma, a rigor, seria um argumento não conclusivo, mas, que a despeito de sua imprecisão, utilizaria elucubrações pouco louváveis, que teriam por intuito apenas fins meramente retóricos. .
Os sofistas, principalmente por causa da visão socrático-platónica, estariam inexoravelmente no âmbito da relatividade e do subjetivismo. Nesse sentido, tal relatividade e subjetivismo concorreriam para que as dúvidas se tornassem mais arraigadas no inconsciente coletivo, como dogmas inquestionáveis, ou pseudo-sofia, já que, de acordo com os detratores dos sofistas, a pretensão de alcançar uma certeza não teria relevância alguma para estes últimos. Esta característica conflituaria com a busca da verdade, tão em voga na filosofia grega.
Decerto, este último atributo foi provavelmente o mais forte para caracterizar o tom pejorativo, muitas vezes de ofensa, atribuído ao termo sofista.
No entanto, mesmo as críticas socrático-platónicas deixam a desejar ao não perceberem que essa espécie de relativismo, defendido pelos Sofistas, tinha como consequência lógica o entendimento de que a verdade para eles significava algo que, por excelência, era pragmático ou que fosse útil a um indivíduo ou a comunidade.
Luiz Roberto Alves dos Santos, "Ética Sofística: o Papel Educativo da Relativização dos Valores"
(Texto adaptado).
Os sofistas
O movimento sofístico surge na Grécia no século V a.C. e deve ser compreendido como um movimento que responde às necessidades de ampliar e renovar as estruturas sócio-político-culturais da época, proporcionando aos jovens uma nova educação, centrada principalmente no domínio da linguagem e do discurso. São professores no sentido político e o seu ensino dirige-se aos jovens que querem aceder a posições políticas importantes, ligando-se, por isso, à arte de viver e de governar. São técnicos de retórica.
Praticam o método antilógico ou a antilogia. Este método antilógico ou antilogia consiste no seguinte exercício: dar ao aluno a tarefa de defender uma tese, ou uma causa, fazendo-o desenvolver toda a argumentação a seu favor. Depois, pedir ao mesmo aluno que, relativamente a essa tese ou causa, desenvolvesse uma argumentação inversa, isto é, de ataque, que a deitasse por terra. Com este método, os sofistas procuravam fomentar o espírito e a capacidade de argumentar. O ensino sofístico encontrava-se essencialmente ligado à argumentação e à retórica ou, mais precisamente, à capacidade de usar a palavra e de fazer discursos persuasivos e convincentes, discursos que permitissem que quem os fizesse atingisse os objetivos perseguidos.
Contudo, a par dos partidários e entusiastas deste tipo de ensino, cedo surgiram, por parte dos filósofos, fortes críticas e acusações à pedagogia com que eles procuravam formar a juventude. Esta crítica acabou por dar dos sofistas a imagem de 'filósofos malditos' e de os lançar no descrédito.
No entanto, há que assinalar a importância dos sofistas dizendo que o grande legado que eles nos deixaram se pode resumir na valorização da palavra, do discurso e do diálogo como forma de regulação da vida dos homens e como arma e instrumento fundamental nos jogos de poder com que a todo o momento a vida em sociedade nos confronta , a crença na capacidade dos homens substituírem, nas suas relações, o regime de força e de violência por um regime da persuasão, a ideia de que o estabelecimento de uma comunidade entre pessoas humanas se funda não na imposição dogmática, mas na capacidade das pessoas falarem, debaterem e ouvirem-se umas às outras, numa palavra, a convicção de que a resolução dos problemas humanos só encontra uma solução humana se mediada pela linguagem e pelos poderes dialógicos - eis o grande legado que os sofistas nos deixaram.
Rui Alexandre Grácio, Vocabulário crítico de argumentação, Grácio Editor, Coimbra, 2013, pp. 121-122.
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Consultar também:
A importância dos sofistas
"O Elogio a Helena" - Um exemplo da arte de discursar de Górgias
(Texto adaptado).
Os sofistas
O movimento sofístico surge na Grécia no século V a.C. e deve ser compreendido como um movimento que responde às necessidades de ampliar e renovar as estruturas sócio-político-culturais da época, proporcionando aos jovens uma nova educação, centrada principalmente no domínio da linguagem e do discurso. São professores no sentido político e o seu ensino dirige-se aos jovens que querem aceder a posições políticas importantes, ligando-se, por isso, à arte de viver e de governar. São técnicos de retórica.
Praticam o método antilógico ou a antilogia. Este método antilógico ou antilogia consiste no seguinte exercício: dar ao aluno a tarefa de defender uma tese, ou uma causa, fazendo-o desenvolver toda a argumentação a seu favor. Depois, pedir ao mesmo aluno que, relativamente a essa tese ou causa, desenvolvesse uma argumentação inversa, isto é, de ataque, que a deitasse por terra. Com este método, os sofistas procuravam fomentar o espírito e a capacidade de argumentar. O ensino sofístico encontrava-se essencialmente ligado à argumentação e à retórica ou, mais precisamente, à capacidade de usar a palavra e de fazer discursos persuasivos e convincentes, discursos que permitissem que quem os fizesse atingisse os objetivos perseguidos.
Contudo, a par dos partidários e entusiastas deste tipo de ensino, cedo surgiram, por parte dos filósofos, fortes críticas e acusações à pedagogia com que eles procuravam formar a juventude. Esta crítica acabou por dar dos sofistas a imagem de 'filósofos malditos' e de os lançar no descrédito.
No entanto, há que assinalar a importância dos sofistas dizendo que o grande legado que eles nos deixaram se pode resumir na valorização da palavra, do discurso e do diálogo como forma de regulação da vida dos homens e como arma e instrumento fundamental nos jogos de poder com que a todo o momento a vida em sociedade nos confronta , a crença na capacidade dos homens substituírem, nas suas relações, o regime de força e de violência por um regime da persuasão, a ideia de que o estabelecimento de uma comunidade entre pessoas humanas se funda não na imposição dogmática, mas na capacidade das pessoas falarem, debaterem e ouvirem-se umas às outras, numa palavra, a convicção de que a resolução dos problemas humanos só encontra uma solução humana se mediada pela linguagem e pelos poderes dialógicos - eis o grande legado que os sofistas nos deixaram.
Rui Alexandre Grácio, Vocabulário crítico de argumentação, Grácio Editor, Coimbra, 2013, pp. 121-122.
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Consultar também:
A importância dos sofistas
"O Elogio a Helena" - Um exemplo da arte de discursar de Górgias
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