terça-feira, 10 de março de 2015

Teste 3 10D (2014/15) - Correção

Grupo I
 (10 x 5 pontos)


Versão 1

  1. D
  2. D
  3. B
  4. D
  5. A
  6. C
  7. A
  8. D
  9. B
  10. C
Versão 2

  1. A
  2. A
  3. C
  4. C
  5. C
  6. A
  7. C
  8. B
  9. B
  10. A
Grupo II

1.     Os valores são importantes na existência humana. Explique esta afirmação respondendo à seguinte questão: o que são e para que servem os valores?

Objetivos:

Conteúdos:
“Os valores são regras e padrões que orientam a conduta humana, servindo de padrão à deliberações dos indivíduos e dando coerência à sua vida social. 
Os valores orientam a ação porque servem de padrões de avaliação do real e de critérios de deliberação.
Quando fazemos escolhas e deliberamos qual a decisão a tomar em cada caso, usamos os valores, tendo em conta as suas características fundamentais: a matéria, a polaridade e a hierarquia.
Procuramos dar sentido à situação em que nos encontramos (atribuindo valor às coisas, aos acontecimentos, às ações) e analisando os prós e os contras de cada opção ao nosso dispor.
Sem os valores não saberíamos como agir, eles são-nos necessários porque somos livres. Se o nosso comportamento fosse completamente instintivo não teríamos liberdade e, então, não teríamos que fazer escolhas.
Isso significa que não teríamos preferências, pois estaríamos totalmente dependentes do nosso determinismo biológico, seríamos pouco diferentes das formigas, embora pudéssemos lidar com uma quantidade de informação astronomicamente maior, estaríamos, como elas, totalmente dependentes da causalidade natural, o nosso comportamento seria sempre uma reação cega aos estímulos do meio.”

2.     Há uma teoria axiológica que defende que podemos criar os nossos próprios valores. Identifique essa teoria e explique-a atendendo às suas teses e argumentos.

Objetivos:

Conteúdos:
O subjetivismo axiológico: afirma que os valores são o resultado das reações individuais e coletivas dos seres humanos à realidade, aos acontecimentos, às situações da vida. O subjetivista pergunta-se: pode alguma coisa ter valor se ninguém o percebeu nem pôde percebê-lo? Evidentemente que não; o valor, para o subjetivista, não pode ter sentido, ou existência, propriamente, sem que exista o sujeito.
Segundo o subjetivismo, os valores não existem em si e por si, ainda que não sejam meras criações da mente, existem somente para mim; o que torna uma coisa valiosa é o desejo e o interesse individual. O subjetivista pensa assim: “o valor de um jantar requintado, não está nele, mas no meu paladar, que o saboreia e lhe confere um valor determinado”.
Os subjetivistas defendem a sua posição apoiando-se em argumentos deste tipo:
1. Argumento da discrepância (ou do desacordo): É óbvio que nós não podemos estar todos de acordo em relação a problemas éticos, estéticos, religiosos, políticos, em relação aos quais frequentemente se produzem conflitos (ou graves desacordos) em torno dos valores (no que diz respeito à sua matéria, polaridade e hierarquização). 
2. Argumento da constituição biológica: Os valores estão submetidos à nossa constituição biológica e subjetiva da nossa espécie. Que valor estético teria a pintura se os homens não tivessem olhos? Que sentido teria falar do valor estético da música se estivéssemos condenados a uma surdez eterna?
3. Argumento do interesse: uma coisa adquire valor na medida em que se lhe confere um interesse.
4. Historicidade dos valores: A relatividade dos valores deve-se ao seu carácter concreto e histórico; graças a este, os valores estão condenados a ficar encerrados na prisão do sujeito; já na antiguidade dizia o sofista Protágoras: “o Homem é a medida de todas as coisas”.

3.     Poderíamos ser os heróis da nossa vida se não existissem os valores? Responda a esta questão tendo em conta a passagem sublinhada no texto 1.

Objetivos:

7. Interpretar o filme 'Os gatos não têm vertigens' atendendo à temática dos valores;

Conteúdos:
“Os valores orientam a ação porque servem de padrões de avaliação do real e de critérios de deliberação.
Quando fazemos escolhas e deliberamos qual a decisão a tomar em cada caso, usamos os valores, tendo em conta as suas características fundamentais: a matéria, a polaridade e a hierarquia.
Procuramos dar sentido à situação em que nos encontramos (atribuindo valor às coisas, aos acontecimentos, às ações) e analisando os prós e os contras de cada opção ao nosso dispor).”

A frase sublinhada no texto:
“Eu acredito que todas as coisas têm a sua razão de acontecer, pois conseguimos tomar as nossas próprias decisões, mudando assim o decurso do nosso destino”.

Nesta frase está presente a ideia de que nós somos livres (não estamos determinados a seguir um rumo predestinado na nossa vida), o curso da nossa vida depende das decisões que tomamos. Ora, para tomarmos decisões necessitamos dos valores, porque é com base neles que avaliamos a realidade (e as nossas ações) e formulamos as nossas preferências.
Sem os valores não conseguiríamos tomar decisões, logo nunca poderíamos ser os heróis da nossa vida.
No fundo, sermos heróis da nossa vida pressupõe que sejamos capazes de assumir o papel principal na nossa existência, isto está ligado à autonomia: só sendo autónomos (sendo independentes na nossa forma de pensar e de agir) poderemos ser os protagonistas da nossa vida.
Uma coisa é termos um papel passivo na vida, outra, muito diferente, é tomarmos a iniciativa, assumirmos os riscos e a responsabilidade pelas nossas decisões. Só assim poderemos viver uma vida com significado. É claro que não podemos escolher o que nos acontece – isso depende de uma infinidade de fatores que escapam ao nosso controlo e à nossa escolha, mas a resposta que damos ao que nos acontece, essa depende inteiramente da nossa vontade.
E a nossa vontade orienta-se pelos valores aos quais aderimos e nos mantemos fiéis. Sem eles seguiríamos ao sabor dos ventos, das correntes e das marés da vida, tal como um navegante sem bússola, perdido no mar, completamente exposto à deriva dos elementos, sem a possibilidade de traçar um rumo e de o seguir.



Texto 2

“É uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, dos nossos modelos, das nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. .“
Everardo P. Guimarães Rocha


4. Identifique e avalie criticamente a atitude face à diversidade cultural a que o texto 2 se refere.

Objetivos:
29. Reconhecer a importância da diversidade cultural;
31. Definir e interpretar o etnocentrismo.

Conteúdos:
Incluem-se aqui (no etnocentrismo) as pessoas que observam as outras culturas em função da sua própria cultura, tomando-a como padrão para valorar e hierarquizar as restantes. Desta atitude podem, de imediato, resultar duas consequências:
• Incompreensão em relação aos aspectos das outras culturas, pois o etnocentrista é incapaz de aceitar os que não adoptam modos de vida semelhantes aos seus.
• Aumento da coesão dos elementos do grupo e do sentimento de superioridade em relação aos elementos das culturas com que têm de coexistir.
Para preservar os traços da sua cultura, o etnocentrista pode assumir posturas negativas, entre as quais se contam:
Xenofobia, ou seja, ódio em relação aos estrangeiros.
Racismo, isto é, repúdio violento de determinados grupos étnicos.
Chauvinismo, quer dizer, patriotismo fanático.
O diálogo entre culturas corresponde a uma exigência do nosso tempo, dada a necessidade de dar respostas comuns a desafios que se colocam a toda a humanidade. Para o levar a cabo é necessário, contudo, ter como base um conjunto de valores morais partilhados, entre os quais se evidenciam os seguintes:
• Salvaguarda dos direitos humanos.
• Apreço pela liberdade, igualdade e solidariedade.
• Respeito pelas diferenças culturais.
• Promoção de uma atitude dialogante.
• Implementação de um tolerância ativa.
Estes mínimos morais são os alicerces para a construção de uma “civilização mundial”. Tal civilização será obra de todas as culturas e raças e terá de ser edificada através de um diálogo intercultural sério e frutífero.


Grupo III
Este grupo é composto por uma questão de desenvolvimento.

 1. Responda às questões do texto 3, procurando utilizar a Razão como critério valorativo. Deve fundamentar a sua resposta com argumentos da sua autoria.

Objetivos (matriz):
22. Analisar conflitos de valores/ Definir o conceito de conflito de valores;
24. Reconhecer a importância da Razão como critério valorativo;

Conteúdos:
A razão busca verdades, opiniões mais reais, mais próximas ao real, com mais carga de realidade que outras. Não está igualmente próxima da realidade qualquer tipo de forma de ver, de entender, de operar. A razão é essa busca de verdade, essa busca de maior realidade, com tudo o que a descoberta da realidade comporta. (Fernando Savater).

O que é significa usar a Razão como critério valorativo?

Em primeiro lugar, o que é a Razão? A Razão é a nossa capacidade de pensar (e de argumentar).
A valoração é sempre subjetiva, resulta sempre da nossa apreciação individual da realidade, para além de elementos racionais tem, também elementos emocionais (será difícil atribuirmos valores positivos ao que não gostamos e que nos causa repulsa).
No entanto a Razão humana é uma capacidade (há filósofos que lhe chamam uma 'faculdade' do espírito ou da mente) que está presente em todos os seres humanos - daí Aristóteles ter dado a seguinte definição de ser humano - "O Homem é um animal racional". Isto significa que todos os seres humanos raciocinam de acordo com as mesmas regras e princípios lógicos - isso faz com que os saberes racionais possam ser universais, como é o caso da ciência e, também, da filosofia.
Por isso a Razão pode ser usada como uma 'bússola', porque os princípios lógicos da Razão nos permitem pensar de forma coerente, sem contradição.
No caso dos conflitos de valores, como o que é apresentando no manual relacionado com a construção de uma barragem, se a Razão for usada como critério valorativo, a decisão será tomada com base numa troca, livre e profunda, de argumentos. Quem é a favor duma solução não vai tentar impor essa solução pela força, antes irá tentar convencer os seus adversários da razão da sua posição. Isto leva  a que o debate substitua os conflitos que terminam em violência.
E foi o uso da Razão que levou à descoberta dos valores que hoje são considerados fundamentais (os direitos humanos). Usar a Razão como critério valorativo implica colocar estes valores acima de todos os outros. Como está explícito no artigo referido acima:

"O apelo à Razão enquanto critério último de valoração é ainda hoje válido e trata-se do paradigma civilizacional que tem mais hipóteses de instauração de uma ordem mundial pacífica.
É de notar que os totalitarismos se afirmam como uma recusa dos valores da modernidade (a universalidade dos Direitos do Homem e o primado da argumentação racional como forma de resolução de conflitos).
Considerar que a bússola dos valores se deve orientar pela Razão, temos que aceitar como válidos os seguintes princípios éticos:
 - A liberdade, a igualdade e a fraternidade são valores universais e invioláveis.
"Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade." (Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 1º).

Aplicando estes princípios ao caso presente no texto 3:

Quem tem o direito à cama dos cuidados intensivos?
Ambos os pacientes têm direito à vida, pelo que não há nenhum critério racional que possa apoiar uma decisão em favor de um ou outro paciente. Ambos devem ser tratados de forma igual pela equipa médica. É claro que o jovem viveu menos tempo do que o paciente mais velho e se isso fosse usado como critério, talvez parecesse uma decisão justa, mas a verdade é que o paciente mais velho estaria a ser discriminado por causa da sua idade.
No entanto há uma forma de resolver a questão: o paciente que chegar primeiro tem o direito à cama, independentemente da sua idade, ou de outras características individuais. É que a situação pode ser ainda mais complexa: no caso do jovem ser um criminoso (um terrorista ou um violador), a cama deveria ser dada ao outro paciente? E se o paciente mais velho for um cientista que esteja em vias de descobrir a cura para o cancro, deve ser-lhe dada a cama para que se possam salvar milhões de vidas?
O que está em causa não é apenas as consequências da decisão, mas o poder que estaria a ser dado aos médicos: eles poderiam escolher quem merece ser salvo, o que é um papel que, se calhar, não deve ser dado a um ser humano, isto em nome do princípio da igualdade: tanto os médicos como os pacientes nasceram ‘livres e iguais’, têm os mesmos direitos e deveres.
Se o critério da idade fosse aceitável, as listas de espera para transplante ou para cirurgias só teriam pessoas jovens ou as pessoas idosas estariam sempre atrás das pessoas jovens.



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