terça-feira, 10 de março de 2015

Teste 3 10E (2014/2015) - Correção

Grupo I (10 x 5 pontos)
Versão 1
Versão 2
1.D
2.D
3.D
4.A
5.D
6.B
7.C
8.A
9.B
10.B
11.C
12.C
13.D


1.A
2.B
3:C
4.C
5.C
6.C
7.B
8.C
9.D
10.C
11.B
12.A
13.A

Grupo II
1.     Se o polícia João fosse um seguidor do objetivismo axiológico, ele sentir-se-ia obrigado a denunciar o Henrique? Responda a esta questão caracterizando o objetivismo axiológico.                                                                                           (30 pontos)

Objetivos (matriz):
18. Problematizar a natureza dos valores: os valores são subjetivos ou objetivos?
19. 
Explicar a teoria objetivista tendo em conta as suas teses e argumentos;
____________
Se o polícia João fosse um seguidor do objetivismo axiológico, o mais provável seria que se sentisse obrigado a denunciar o Henrique.
Esta hipótese seria a mais forte, pois o objetivismo defende que os valores existem em si e por si, ou seja, não dependem do sujeito, seja no que se refere à sua criação (para o objetivismo, o sujeito não cria os valores, limita-se a descobri-los), seja no que se refere ao seu significado (à sua matéria). Por isso, os valores são, para o objetivismo, absolutos, ou seja, não são relativos aos sujeitos, às sociedades e às épocas históricas – os valores não variam consoante as circunstâncias, sendo universais, válidos para todos os sujeitos.
Embora o objetivismo não negue que os indivíduos podem formular juízos de valor, a valoração está condicionada pela objetividade dos valores. Assim, uma pessoa só vai considerar que um quadro é belo se este, de alguma forma, incorporar a beleza.
No caso do polícia João, o Henrique, mesmo tendo agido com vista a salvar a vida da sua mulher, ao roubar o quadro estaria a cometer um ato ilícito e essa ilicitude não pode passar ao lado de um agente de autoridade que jurou agir sempre em conformidade com certos valores, entre os quais se conta a igualdade de todos os cidadãos perante a lei.
Neste caso, o polícia João sentir-se-ia obrigado a defender os direitos do farmacêutico que teria sido vítima do roubo.
                                                                                                                                      
2.     Tendo em conta os valores que estão presentes na decisão do Henrique em assaltar a farmácia, qual deve ser a decisão do juiz se usar a Razão como critério valorativo? Justifique a sua resposta tendo em conta as principais características dos valores (pode referir-se à bússola dos valores).                     (30 pontos)

Objetivos (matriz):

13. Caracterizar os valores tendo em conta as suas principais características: matéria, polaridade e hierarquia;
14. Explicar a valoração e os critérios valorativos, tendo em conta a bússola dos valores;
15. Identificar diversos campos axiológicos (diversos tipos de valor, por exemplo: valores religiosos, valores éticos, valores estéticos, valores políticos, etc.);
24. Reconhecer a importância da Razão como critério valorativo;
___________
Em primeiro lugar, o que é a Razão? A Razão é a nossa capacidade de pensar (e de argumentar).
A valoração é sempre subjetiva, resulta sempre da nossa apreciação individual da realidade, para além de elementos racionais tem, também elementos emocionais (será difícil atribuirmos valores positivos ao que não gostamos e que nos causa repulsa).
No entanto a Razão humana é uma capacidade (há filósofos que lhe chamam uma 'faculdade' do espírito ou da mente) que está presente em todos os seres humanos - daí Aristóteles ter dado a seguinte definição de ser humano - "O Homem é um animal racional". Isto significa que todos os seres humanos raciocinam de acordo com as mesmas regras e princípios lógicos - isso faz com que os saberes racionais possam ser universais, como é o caso da ciência e, também, da filosofia.
Por isso a Razão pode ser usada como uma 'bússola', porque os princípios lógicos da Razão nos permitem pensar de forma coerente, sem contradição.
No caso dos conflitos de valores, como o que é apresentando no manual relacionado com a construção de uma barragem, se a Razão for usada como critério valorativo, a decisão será tomada com base numa troca, livre e profunda, de argumentos. Quem é a favor duma solução não vai tentar impor essa solução pela força, antes irá tentar convencer os seus adversários da razão da sua posição. Isto leva  a que o debate substitua os conflitos que terminam em violência.
E foi o uso da Razão que levou à descoberta dos valores que hoje são considerados fundamentais (os direitos humanos). Usar a Razão como critério valorativo implica colocar estes valores acima de todos os outros. Como está explícito no artigo referido acima:
"o apelo à Razão enquanto critério último de valoração é ainda hoje válido e trata-se do paradigma civilizacional que tem mais hipóteses de instauração de uma ordem mundial pacífica.
É de notar que os totalitarismos se afirmam como uma recusa dos valores da modernidade (a universalidade dos Direitos do Homem e o primado da argumentação racional como forma de resolução de conflitos).
Considerar que a bússola dos valores se deve orientar pela Razão, é temos que aceitar como válidos os seguintes princípios éticos:
 - A liberdade, a igualdade e a fraternidade são valores universais e invioláveis.
"Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade." (Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 1º).
Sendo assim, a Razão indica-nos que os valores humanos (os direitos humanos) são superiores aos valores económicos. De facto, tendo em conta a hierarquia dos valores, podemos ver que o valor da vida é superior ao lucro, mesmo que legítimo, do farmacêutico.
O juiz, ao analisar o roubo do Henrique, deverá ter em conta que essa ação é negativa (roubar é uma ação negativa em si mesma, atendendo à polaridade dos valores), mas deverá avaliá-la tendo em conta a intenção do Henrique que, neste caso era salvar a vida da sua mulher.
Isto poderá servir de atenuante: o Henrique praticou um crime, mas o juiz poderá condená-lo à pena mínima prevista para esse tipo de crime que poderá até ser suspensa.

3.     Se não existissem valores, o Henrique podia ter decidido roubar o medicamento? Justifique a sua resposta.  (30 pontos)

Objetivos (matriz):
12. Compreender a relação entre a ação humana e os valores;
_____________
A resposta é não! Porque:
“Sem os valores não saberíamos como agir, eles são-nos necessários porque somos livres. Se o nosso comportamento fosse completamente instintivo não teríamos liberdade e, então, não teríamos que fazer escolhas.
Isso significa que não teríamos preferências, pois estaríamos totalmente dependentes do nosso determinismo biológico, seríamos pouco diferentes das formigas, embora pudéssemos lidar com uma quantidade de informação astronomicamente maior, estaríamos, como elas, totalmente dependentes da causalidade natural, o nosso comportamento seria sempre uma reação cega aos estímulos do meio.
Por sermos livres somos agentes e como agentes podemos determinar o curso da nossa vida fazendo escolhas, tomando decisões, e instando os outros a fazerem o mesmo. Muitas vezes as nossas ações inserem-se num esforço coletivo, agimos de forma coordenada com outros agentes. Isso pressupões que possamos entender-nos e aí a linguagem simbólica, própria do ser humano, é uma preciosa ferramenta.
A linguagem permite-nos estruturar um pensamento racional que também segue princípios de organização formal - e é aí que entra a Lógica. Tal como a linguagem com as suas regras gramaticais e as suas referências semânticas ao mundo das coisas, a Razão também segue regras formais na estruturação do pensamento (nós já estudámos os Princípios Lógicos da Razão e não foi por acaso).
A Razão, porque assenta em princípios lógicos comuns a todos os sujeitos (daí dizermos que o conhecimento racional é universal) permite-nos chegar a conclusões objetivas e sistemáticas sobre o mundo em que vivemos (nós e os outros seres humanos, sempre em interação).
Assim, para podermos agir precisamos de conhecer a realidade que, constantemente, nos desafia a agir (estão sempre a acontecer situações que exigem tomadas de decisão da nossa parte) e na qual se vão refletir os efeitos das nossas ações - todo o que fazemos tem um impacto na realidade. A nossa ação reflete-se sobre as coisas e as pessoas, com consequências que à partida podem ser imprevisíveis.
Por isso conhecer é importante para podermos agir.
É a partir do conhecimento que adquirimos sobre cada situação que se exerce a valoração. Só podemos atribuir valor de forma adequada, quando conhecemos o objeto sobre o qual vai recair a nossa valoração. Muitas vezes enganamo-nos sobre a natureza do objeto e a nossa apreciação do mesmo pode revelar-se desadequada. Isto mostra a importância do conhecimento para a valoração e a ação: conhecendo bem as situações podemos fazer deliberações com um grau elevado de possibilidade de nos conduzirem a uma ação eficaz ou, também ela adequada à situação que a motivou.
A necessidade da valoração existe porque o conhecimento não nos dá toda a informação sobre o que está em causa quando temos que agir. Se fôssemos como as formigas o conhecimento seria um mero input que desencadearia em nós uma reação, de forma direta, imediata, sem a intervenção da reflexão racional. Se assim fosse, a Razão seria de todo supérflua, pois não serviria para nada. As formigas não são racionais e no entanto a razão não lhes faz falta para nada porque a sua programação biológica lhes permite 'resolver' todas as situações.
A valoração é necessária à ação porque o conhecimento, por mais objetivo e verdadeiro que seja, não nos consegue dar toda a informação: para além dos estados do mundo exterior, como a temperatura ambiente, a distância dos objetos, ou qualquer outro dado conhecível de forma objetiva, nós somos mais complexos do que os animais ou as máquinas: nós temos emoções e sentimentos, temos a necessidade de muitas 'coisas' que não são materiais que, em muitos casos, dependem do comportamento dos outros e não podem ser adquiridas através da resolução racional e impessoal dos problemas.
O conhecimento pode mostrar-nos que temos, numa dada situação, várias opções de escolha, várias alternativas aparentemente equivalentes e/ou adequadas a cada situação. É atribuindo valores a essas alternativas/ opções que conseguimos escolher a que nos parece preferível. Só depois é que agimos.”   ´
http://filosofarliberta.blogspot.pt/2015/02/de-que-modo-podem-os-valores-orientar-e.html                                                           

Grupo III
Este grupo é composto por uma questão de desenvolvimento.

1. Comente o texto 3, tendo em conta os seguintes parâmetros:
       a) A importância dos valores na vida humana;
       b) a sua interpretação do filme;
       c) os valores partilhados por Jó e Rosa.                                                             (45 pontos)

Objetivos (matriz):                                                                                                                                                   
12. Compreender a relação entre a ação humana e os valores;
15. Identificar diversos campos axiológicos (diversos tipos de valor, por exemplo: valores religiosos, valores éticos, valores estéticos, valores políticos, etc.);
36. Construir argumentações sólidas.
____________
Os valores permitem-nos dar sentido à nossa vida, já que é através da atribuição de valores que nós determinamos a nossa liberdade. As nossas decisões dependem dos valores que orientam as nossas escolhas.
Isso está bem presente no filme, uma vez que a vida de cada uma das personagens é um reflexo dos valores que elas seguem. A vida mais longa é a de Rosa e trata-se de uma vida profundamente vivida, uma vida com sentido, que continua cheia de sentido mesmo quando se aproxima do seu ocaso. Ela vive, e sempre viveu, na fidelidade aos seus valores.
E que valores são esses? Em primeiro lugar, um forte sentido de liberdade – o seu passado antifascista tem a ver com isso mesmo. Rosa quer ser livre, por isso não quer ir viver para um lar e recusa deixar de fumar perante as imposições moralistas da sociedade.
Outro valor muito presente na vida de Rosa é a solidariedade – daí que tenha procurado ajudar o Jó, mesmo sabendo que se tratava de um jovem que vivia na marginalidade.
E a solidariedade está aliada a uma crença na bondade da pessoa humana, o que leva Rosa a acreditar que Jó poderia ter uma vida boa se lhe dessem uma oportunidade.
Estes valores contrastam com os das outras personagens (não vamos refereir-nos à namorada e ao compincha que Jó agride para recuperar a aliança, pois têm um perfil parecido com o do pai de Jó) – o genro só pensa no dinheiro, é uma pessoa mesquinha e materialista, dominada pelos valores económicos (ou de utilidade), não se importando com a dignidade das pessoas.
O pai de Jó segue valores negativos, tem uma vida completamente vã, não se valoriza a si próprio e aos outros, tendo uma visão extremamente negativa da natureza humana, sendo incapaz de qualquer tipo de generosidade. Representa, por isso, a mais completa ausência de valores humanos (ou espirituais) – e isso é o que Jó pretende mostrar quando vai ter com o pai depois deste ter assaltado a casa de Rosa – ao sentar-se com ele a beber na tasca torna bem patente o vazio axiológico da vida do pai, é como se colocasse a bússola dos valores bem em frente ao nariz do seu pai para ele ver como os valores de um e de outro são completamente opostos, pois o pai, em vez de procurar fazer o que é melhor, faz sempre o que é pior.
O padrasto do Jó, mostra que não acredita no ser humano e ao rejeitar o filho da sua mulher, mostra uma desumanidade atroz que o torna semelhante aos que ele julga como maus e não merecedores de consideração.
A mãe de Jó é uma vítima de violência doméstica (o 2º marido, julgando-se melhor que o 1º, não deixa de ser um tirano) que vive no medo, deixando que o medo e a sua condição de vítima se sobrepusessem ao amor de mãe. Aqui há um forte contraste com Rosa: mesmo depois de ser assaltada nunca assumiu o papel de vítima o que mostra a sua força de carácter.
Mas nem tudo é negativo, porque há personagens que, apesar de tudo, têm uma orientação positiva na vida: o amigo de Jó e a sua mãe prostituta, são solidários e bons, mesmo que possam ser vistos de forma negativa pelo moralismo de muitas pessoas.
A filha de Rosa, apesar de viver dominada pela sua vida familiar e profissional, acaba por se manter fiel valores que lhe foram transmitidos  pela mãe e pelo pai (apesar de ter morrido, trata-se de uma personagem importantíssima porque partilhou com Rosa os mesmos valores) ao rejeitar o marido egoísta e insensível (para não dizer mais).
Jó, sem o saber, partilha com Rosa os valores fundamentais: a solidariedade (ajuda o pai mesmo depois deste o ter expulsado de casa; ajuda Rosa), a liberdade (daí deixar-se comparar a um gato) e, acima de tudo, a crença no amor, eloquentemente presente na canção que encerra o filme, interpretada por Ana Moura, “Clandestinos do Amor”.



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