Grupo
I (10
x 5 pontos)
Versão 1
|
Versão 2
|
||||
1.D
2.D
3.D
4.A
5.D
|
6.B
7.C
8.A
9.B
10.B
|
11.C
12.C
13.D
|
1.A
2.B
3:C
4.C
5.C
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6.C
7.B
8.C
9.D
10.C
|
11.B
12.A
13.A
|
Grupo
II
1. Se o polícia João fosse um seguidor do
objetivismo axiológico, ele sentir-se-ia obrigado a denunciar o Henrique?
Responda a esta questão caracterizando o objetivismo axiológico.
(30 pontos)
Objetivos (matriz):
18. Problematizar a natureza dos valores: os
valores são subjetivos ou objetivos?
19. Explicar a teoria objetivista tendo em conta as suas teses e argumentos;
19. Explicar a teoria objetivista tendo em conta as suas teses e argumentos;
____________
Se o polícia João fosse um
seguidor do objetivismo axiológico, o mais provável seria que se sentisse
obrigado a denunciar o Henrique.
Esta hipótese seria a mais
forte, pois o objetivismo defende que os valores existem em si e por si, ou
seja, não dependem do sujeito, seja no que se refere à sua criação (para o
objetivismo, o sujeito não cria os valores, limita-se a descobri-los), seja no
que se refere ao seu significado (à sua matéria). Por isso, os valores são,
para o objetivismo, absolutos, ou seja, não são relativos aos sujeitos, às
sociedades e às épocas históricas – os valores não variam consoante as
circunstâncias, sendo universais, válidos para todos os sujeitos.
Embora o objetivismo não
negue que os indivíduos podem formular juízos de valor, a valoração está
condicionada pela objetividade dos valores. Assim, uma pessoa só vai considerar
que um quadro é belo se este, de alguma forma, incorporar a beleza.
No caso do polícia João, o
Henrique, mesmo tendo agido com vista a salvar a vida da sua mulher, ao roubar
o quadro estaria a cometer um ato ilícito e essa ilicitude não pode passar ao
lado de um agente de autoridade que jurou agir sempre em conformidade com
certos valores, entre os quais se conta a igualdade de todos os cidadãos
perante a lei.
Neste caso, o polícia João
sentir-se-ia obrigado a defender os direitos do farmacêutico que teria sido
vítima do roubo.
2. Tendo em conta os valores que estão presentes
na decisão do Henrique em assaltar a farmácia, qual deve ser a decisão do juiz
se usar a Razão como critério valorativo? Justifique a sua resposta tendo em
conta as principais características dos valores (pode referir-se à bússola dos
valores). (30 pontos)
Objetivos
(matriz):
13. Caracterizar os valores tendo em conta
as suas principais características: matéria, polaridade e hierarquia;
14. Explicar a valoração e os critérios
valorativos, tendo em conta a bússola dos valores;
15. Identificar diversos campos axiológicos
(diversos tipos de valor, por exemplo: valores religiosos, valores éticos,
valores estéticos, valores políticos, etc.);
24. Reconhecer a importância da Razão como
critério valorativo;
___________
Em primeiro lugar, o que é a
Razão? A Razão é a nossa capacidade de pensar (e de argumentar).
A valoração é sempre
subjetiva, resulta sempre da nossa apreciação individual da realidade, para
além de elementos racionais tem, também elementos emocionais (será difícil
atribuirmos valores positivos ao que não gostamos e que nos causa repulsa).
No entanto a Razão humana é
uma capacidade (há filósofos que lhe chamam uma 'faculdade' do espírito ou da
mente) que está presente em todos os seres humanos - daí Aristóteles ter dado a
seguinte definição de ser humano - "O Homem é um animal racional".
Isto significa que todos os seres humanos raciocinam de acordo com as mesmas
regras e princípios lógicos - isso faz com que os saberes racionais possam ser
universais, como é o caso da ciência e, também, da filosofia.
Por isso a Razão pode ser
usada como uma 'bússola', porque os princípios lógicos da Razão nos permitem
pensar de forma coerente, sem contradição.
No caso dos conflitos de
valores, como o que é apresentando no manual relacionado com a construção de
uma barragem, se a Razão for usada como critério valorativo, a decisão será
tomada com base numa troca, livre e profunda, de argumentos. Quem é a favor
duma solução não vai tentar impor essa solução pela força, antes irá tentar
convencer os seus adversários da razão da sua posição. Isto leva a que o debate substitua os conflitos que
terminam em violência.
E foi o uso da Razão que
levou à descoberta dos valores que hoje são considerados fundamentais (os
direitos humanos). Usar a Razão como critério valorativo implica colocar estes
valores acima de todos os outros. Como está explícito no artigo referido acima:
"o apelo à Razão
enquanto critério último de valoração é ainda hoje válido e trata-se do
paradigma civilizacional que tem mais hipóteses de instauração de uma ordem mundial
pacífica.
É de notar que os
totalitarismos se afirmam como uma recusa dos valores da modernidade (a
universalidade dos Direitos do Homem e o primado da argumentação racional como
forma de resolução de conflitos).
Considerar que a bússola dos
valores se deve orientar pela Razão, é temos que aceitar como válidos os
seguintes princípios éticos:
- A liberdade, a igualdade e a fraternidade
são valores universais e invioláveis.
"Todos os seres humanos
nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e
consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade." (Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 1º).
Sendo assim, a Razão
indica-nos que os valores humanos (os direitos humanos) são superiores aos valores
económicos. De facto, tendo em conta a hierarquia dos valores, podemos ver que
o valor da vida é superior ao lucro, mesmo que legítimo, do farmacêutico.
O juiz, ao analisar o roubo
do Henrique, deverá ter em conta que essa ação é negativa (roubar é uma ação negativa
em si mesma, atendendo à polaridade dos valores), mas deverá avaliá-la tendo em
conta a intenção do Henrique que, neste caso era salvar a vida da sua mulher.
Isto poderá servir de
atenuante: o Henrique praticou um crime, mas o juiz poderá condená-lo à pena
mínima prevista para esse tipo de crime que poderá até ser suspensa.
3. Se não existissem valores, o Henrique podia ter
decidido roubar o medicamento? Justifique a sua resposta. (30
pontos)
Objetivos (matriz):
12. Compreender a relação entre a ação
humana e os valores;
_____________
A resposta é não! Porque:
“Sem os valores não
saberíamos como agir, eles são-nos necessários porque somos livres. Se o nosso
comportamento fosse completamente instintivo não teríamos liberdade e, então,
não teríamos que fazer escolhas.
Isso significa que não
teríamos preferências, pois estaríamos totalmente dependentes do nosso
determinismo biológico, seríamos pouco diferentes das formigas, embora
pudéssemos lidar com uma quantidade de informação astronomicamente maior,
estaríamos, como elas, totalmente dependentes da causalidade natural, o nosso
comportamento seria sempre uma reação cega aos estímulos do meio.
Por sermos livres somos
agentes e como agentes podemos determinar o curso da nossa vida fazendo
escolhas, tomando decisões, e instando os outros a fazerem o mesmo. Muitas vezes
as nossas ações inserem-se num esforço coletivo, agimos de forma coordenada com
outros agentes. Isso pressupões que possamos entender-nos e aí a linguagem
simbólica, própria do ser humano, é uma preciosa ferramenta.
A linguagem permite-nos
estruturar um pensamento racional que também segue princípios de organização
formal - e é aí que entra a Lógica. Tal como a linguagem com as suas regras
gramaticais e as suas referências semânticas ao mundo das coisas, a Razão
também segue regras formais na estruturação do pensamento (nós já estudámos os
Princípios Lógicos da Razão e não foi por acaso).
A Razão, porque assenta em
princípios lógicos comuns a todos os sujeitos (daí dizermos que o conhecimento
racional é universal) permite-nos chegar a conclusões objetivas e sistemáticas
sobre o mundo em que vivemos (nós e os outros seres humanos, sempre em
interação).
Assim, para podermos agir
precisamos de conhecer a realidade que, constantemente, nos desafia a agir
(estão sempre a acontecer situações que exigem tomadas de decisão da nossa
parte) e na qual se vão refletir os efeitos das nossas ações - todo o que
fazemos tem um impacto na realidade. A nossa ação reflete-se sobre as coisas e
as pessoas, com consequências que à partida podem ser imprevisíveis.
Por isso conhecer é
importante para podermos agir.
É a partir do conhecimento
que adquirimos sobre cada situação que se exerce a valoração. Só podemos
atribuir valor de forma adequada, quando conhecemos o objeto sobre o qual vai
recair a nossa valoração. Muitas vezes enganamo-nos sobre a natureza do objeto
e a nossa apreciação do mesmo pode revelar-se desadequada. Isto mostra a
importância do conhecimento para a valoração e a ação: conhecendo bem as
situações podemos fazer deliberações com um grau elevado de possibilidade de
nos conduzirem a uma ação eficaz ou, também ela adequada à situação que a
motivou.
A necessidade da valoração
existe porque o conhecimento não nos dá toda a informação sobre o que está em
causa quando temos que agir. Se fôssemos como as formigas o conhecimento seria
um mero input que desencadearia em nós uma reação, de forma direta, imediata,
sem a intervenção da reflexão racional. Se assim fosse, a Razão seria de todo
supérflua, pois não serviria para nada. As formigas não são racionais e no
entanto a razão não lhes faz falta para nada porque a sua programação biológica
lhes permite 'resolver' todas as situações.
A valoração é necessária à
ação porque o conhecimento, por mais objetivo e verdadeiro que seja, não nos
consegue dar toda a informação: para além dos estados do mundo exterior, como a
temperatura ambiente, a distância dos objetos, ou qualquer outro dado
conhecível de forma objetiva, nós somos mais complexos do que os animais ou as
máquinas: nós temos emoções e sentimentos, temos a necessidade de muitas
'coisas' que não são materiais que, em muitos casos, dependem do comportamento
dos outros e não podem ser adquiridas através da resolução racional e impessoal
dos problemas.
O conhecimento pode
mostrar-nos que temos, numa dada situação, várias opções de escolha, várias
alternativas aparentemente equivalentes e/ou adequadas a cada situação. É
atribuindo valores a essas alternativas/ opções que conseguimos escolher a que
nos parece preferível. Só depois é que agimos.” ´
http://filosofarliberta.blogspot.pt/2015/02/de-que-modo-podem-os-valores-orientar-e.html
Grupo
III
Este grupo é composto por uma questão de
desenvolvimento.
1. Comente o texto 3,
tendo em conta os seguintes parâmetros:
a) A importância dos valores na vida
humana;
b) a sua interpretação do filme;
c) os valores partilhados por Jó e Rosa. (45
pontos)
Objetivos (matriz):
12. Compreender a relação entre a ação
humana e os valores;
15. Identificar diversos campos axiológicos
(diversos tipos de valor, por exemplo: valores religiosos, valores éticos,
valores estéticos, valores políticos, etc.);
36. Construir argumentações sólidas.
____________
Os valores permitem-nos dar
sentido à nossa vida, já que é através da atribuição de valores que nós
determinamos a nossa liberdade. As nossas decisões dependem dos valores que
orientam as nossas escolhas.
Isso está bem presente no
filme, uma vez que a vida de cada uma das personagens é um reflexo dos valores
que elas seguem. A vida mais longa é a de Rosa e trata-se de uma vida
profundamente vivida, uma vida com sentido, que continua cheia de sentido mesmo
quando se aproxima do seu ocaso. Ela vive, e sempre viveu, na fidelidade aos
seus valores.
E que valores são esses? Em
primeiro lugar, um forte sentido de liberdade – o seu passado antifascista tem
a ver com isso mesmo. Rosa quer ser livre, por isso não quer ir viver para um
lar e recusa deixar de fumar perante as imposições moralistas da sociedade.
Outro valor muito presente na
vida de Rosa é a solidariedade – daí que tenha procurado ajudar o Jó, mesmo
sabendo que se tratava de um jovem que vivia na marginalidade.
E a solidariedade está aliada
a uma crença na bondade da pessoa humana, o que leva Rosa a acreditar que Jó
poderia ter uma vida boa se lhe dessem uma oportunidade.
Estes valores contrastam com
os das outras personagens (não vamos refereir-nos à namorada e ao compincha que
Jó agride para recuperar a aliança, pois têm um perfil parecido com o do pai de
Jó) – o genro só pensa no dinheiro, é uma pessoa mesquinha e materialista,
dominada pelos valores económicos (ou de utilidade), não se importando com a
dignidade das pessoas.
O pai de Jó segue valores
negativos, tem uma vida completamente vã, não se valoriza a si próprio e aos
outros, tendo uma visão extremamente negativa da natureza humana, sendo incapaz
de qualquer tipo de generosidade. Representa, por isso, a mais completa
ausência de valores humanos (ou espirituais) – e isso é o que Jó pretende
mostrar quando vai ter com o pai depois deste ter assaltado a casa de Rosa – ao
sentar-se com ele a beber na tasca torna bem patente o vazio axiológico da vida
do pai, é como se colocasse a bússola dos valores bem em frente ao nariz do seu
pai para ele ver como os valores de um e de outro são completamente opostos,
pois o pai, em vez de procurar fazer o que é melhor, faz sempre o que é pior.
O padrasto do Jó, mostra que
não acredita no ser humano e ao rejeitar o filho da sua mulher, mostra uma
desumanidade atroz que o torna semelhante aos que ele julga como maus e não
merecedores de consideração.
A mãe de Jó é uma vítima de
violência doméstica (o 2º marido, julgando-se melhor que o 1º, não deixa de ser
um tirano) que vive no medo, deixando que o medo e a sua condição de vítima se
sobrepusessem ao amor de mãe. Aqui há um forte contraste com Rosa: mesmo depois
de ser assaltada nunca assumiu o papel de vítima o que mostra a sua
força de carácter.
Mas nem tudo é negativo,
porque há personagens que, apesar de tudo, têm uma orientação positiva na vida:
o amigo de Jó e a sua mãe prostituta, são solidários e bons, mesmo que possam
ser vistos de forma negativa pelo moralismo de muitas pessoas.
A filha de Rosa, apesar de
viver dominada pela sua vida familiar e profissional, acaba por se manter fiel
valores que lhe foram transmitidos pela
mãe e pelo pai (apesar de ter morrido, trata-se de uma personagem
importantíssima porque partilhou com Rosa os mesmos valores) ao rejeitar o
marido egoísta e insensível (para não dizer mais).
Jó, sem o saber, partilha com
Rosa os valores fundamentais: a solidariedade (ajuda o pai mesmo depois deste o
ter expulsado de casa; ajuda Rosa), a liberdade (daí deixar-se comparar a um
gato) e, acima de tudo, a crença no amor, eloquentemente presente na canção que
encerra o filme, interpretada por Ana Moura, “Clandestinos do Amor”.
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