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Utilitarismo
O utilitarismo enquanto
teoria teleológica tem como critério de avaliação dos actos os
seus efeitos. O valor moral do agir está assim relacionado com as
consequências, devendo-se procurar qual a finalidade intrínseca da
acção para se avaliar a sua qualidade ética. É uma ética
consequencialista.
John Stuart Mill
apresenta como princípio da utilidade o princípio da maior
felicidade, considerando-o como o fundamento da teoria ética
normativa. Assim o agir será eticamente correcto se proporcionam
felicidade ou ausência de sofrimento, sendo deste modo considerados
menos éticos os comportamentos geradores de sofrimento ou de menos
felicidade. Mais, o agir humano deverá procurar sempre a maximização
dos benefícios ou do bem-estar do maior número de pessoas, ou pelo
menos a redução dos inconvenientes, apresentando como uma certeza o
facto de que todas as pessoas desejam viver em unidade e harmonia com
a própria natureza do ser humano, enfatizando sentimentos de
solidariedade em virtude da universalidade do género humano.
Existem, contudo,
diferentes interpretações quanto ao entendimento do que é
considerado bom na perspectiva utilitarista. Jeremy Bentham
identifica a felicidade com o prazer (perspectiva hedonista) e neste
sentido o agir correctamente está condicionado pelo facto de
proporcionar ou não prazer. Mill por seu lado atende que existem
outros valores para além do prazer, como a amizade, a saúde ou a
coragem, aceitando também que o prazer pode ser diferenciado
qualitativamente, dando mais importância aos prazeres intelectuais e
morais do que meramente sensoriais, ou seja aos prazeres do espírito
considerados prazeres superiores.
Actualmente a perspectiva
utilitarista é visível nas decisões que têm por base a análise
custo-benefício, sento o comportamento eticamente correcto se o
número de benefícios causados for superior aos custos originados
por esse comportamento. O utilitarismo não hesitará em violar uma
regra moral para tentar obter um grande bem para um grande número de
pessoas, justificando deste modo os meios com os fins, para além do
facto, o que é aliás uma das críticas feitas a esta teoria,
aparentemente não ter qualquer preocupação com a minorias,
importando apenas a maximizar o bem para o maior número de pessoas
possível.
A teoria ética utilitarista de mill from Luis De Sousa Rodrigues
Os prazeres superiores e os prazeres inferiores
Os prazeres superiores e os prazeres inferiores
Mill tem uma perspectiva hedonista de felicidade. Segundo esta perspectiva, a felicidade consiste no prazer e na ausência de dor. O prazer pode ser mais ou menos intenso e mais ou menos duradouro. Mas a novidade de Mill está em dizer que há prazeres superiores e inferiores, o que significa que há prazeres intrinsecamente melhores do que outros. Mas o que quer isto dizer? Simplesmente que há prazeres que têm mais valor do que outros devido à sua natureza. Mill defende que os tipos de prazer que têm mais valor são os prazeres do pensamento, sentimento e imaginação; tais prazeres resultam da experiência de apreciar a beleza, a verdade, o amor, a liberdade, o conhecimento, a criação artística. Qualquer prazer destes terá mais valor e fará as pessoas mais felizes do que a maior quantidade imaginável de prazeres inferiores. Quais são os prazeres inferiores? Os prazeres ligados às necessidades físicas, como beber, comer e sexo.
Diz-se que o hedonismo de Mill é sofisticado por ter em conta a qualidade dos prazeres na promoção da felicidade para o maior número; a consequência disso é deixar em segundo plano a ideia de que o prazer é algo que tem uma quantidade que se pode medir meramente em termos de duração e intensidade. É a qualidade do prazer que é relevante e decisiva. Daí Mill dizer que é preferível ser um "Sócrates insatisfeito a um tolo satisfeito". Sócrates é capaz de prazeres elevados e prazeres baixos e escolheu os primeiros; o tolo só é capaz de prazeres baixos e está limitado a uma vida sem qualidade. Mas será que é realmente preferível ser um "Sócrates insatisfeito"? Mill afirma que, se fizéssemos a pergunta às pessoas com experiência destes dois tipos de prazer, elas responderiam que os prazeres elevados produzem mais felicidade que os prazeres baixos. Todas fariam a escolha de Sócrates.
Há filósofos que consideram a distinção entre prazeres inferiores e superiores incompatível com o hedonismo. Se, como afirma o hedonismo, uma experiência vale mais do que outra apenas em virtude de ser mais aprazível, ao aumentarmos progressivamente a aprazibilidade do prazer inferior, chegaremos a um ponto em que este pesará mais do que um prazer superior na balança dos prazeres; e nesse caso, se quisermos manter o hedonismo, a distinção entre prazeres inferiores e superiores deixará de fazer sentido e terá de ser abandonada. Convido-te a imaginar que resposta poderá ser dada a esta objecção em defesa da ética de Mill.
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