quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Cultura, identidade e diversidade cultural







O conceito de aculturação
Aculturação é um termo criado inicialmente por antropólogos norte-americanos para designar as mudanças que podem acontecer em uma sociedade diante de sua fusão com elementos culturais externos, geralmente por meio de dominação política, militar e territorial. Porém, segundo o historiador francês Nathan Watchel, aculturação é todo fenómeno de interação social que resulta do contato entre duas culturas, e não somente da sobreposição de uma cultura a outra.

Já Alfredo Bosi, em Dialética da colonização, afirma que esse fenómeno provém do contacto entre sociedades distintas e pode ocorrer em diferentes períodos históricos, dependendo apenas da existência do contacto entre culturas diversas, constituindo-se, assim, um processo de sujeição social de uma sociedade a outra.

A maioria dos autores acreditam que a aculturação é sempre um fenómeno de imposição cultural.

Trata-se,também,  de aculturação quando duas culturas distintas ou parecidas são absorvidas uma pela outra, formando uma nova cultura diferente. Além disso, aculturação pode ser também entendida como a absorção de uma cultura pela outra, onde essa nova cultura terá aspectos da cultura inicial e da cultura absorvida. Um exemplo é o Brasil que adquiriu traços da cultura de Portugal, da África, que juntamente com a cultura indígena formaram a cultura brasileira.

Com a crescente globalização, um novo entendimento de aculturação vem-se tornando um dos aspectos fundamentais na sociedade. Pela proximidade a grandes culturas e rapidez de comunicação entre os diferentes países do globo, alguns autores sustentam que cada cultura está a perder a sua identidade cultural e social, aderindo em parte a outras culturas. Um exemplo disso são elementos da cultura ocidental que são cada vez mais homogéneos em muitos países distintos. Mesmo assim a aculturação não tira totalmente a identidade social de um povo, crendo-se que talvez no futuro não exista mais uma diferença cultural tão acentuada como a aquela que hoje ainda se observa, em especial entre o Oriente e o Ocidente.
http://pt.wikipedia.org
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O texto inserido a seguir foi copiado a partir do Portal das Escolas
(No ficheiro não não é indicado o nome do(s) autores(s))


Multiculturalismo

As vivências dos indivíduos em diferentes contextos sociais, com as suas hierarquias de valores, com a sua cultura própria colocam sérias dificuldades de convivência intercultural. Porém, por razões particulares, acontece que pessoas de espaços culturais diversos são muitas vezes obrigadas a relacionar-se e a ter de conviver.

Fala-se de multiculturalismo ou diversidade cultural para designar este fenómeno, o qual tem vindo a merecer a atenção de inúmeros investigadores. Entre eles, uns preocupam-se com a descrição e análise das diferenças culturais entre os povos que habitam regiões distintas do globo; outros analisam o facto de, num mesmo espaço social, pessoas com culturas diferentes terem de lidar umas com as outras.

Devido à emigração, é possível num país, ou mesmo numa cidade, a existência de diversos núcleos culturais. 
Acrescente-se ainda a existência de grupos sociais que, por inúmeras razões, se sentem marginalizados pelos elementos da sociedade, como é o caso dos deficientes, dos idosos, dos homossexuais e de outros.

Atitudes face à diversidade cultural

Perante a existência de seres humanos com normas e hábitos culturais diferentes, as pessoas podem assumir atitudes e condutas muito variadas. Mencionaremos algumas dessas atitudes: etnocentrismo, relativismo cultural e interculturalismo.


Etnocentrismo

Incluem-se aqui as pessoas que observam as outras culturas em função da sua própria cultura, tomando-a como padrão para valorar e hierarquizar as restantes. Desta atitude podem, de imediato, resultar duas consequências:

• Incompreensão em relação aos aspectos das outras culturas, pois o etnocentrista é incapaz de aceitar os que não adoptam modos de vida semelhantes aos seus.
• Aumento da coesão dos elementos do grupo e do sentimento de superioridade em relação aos elementos das culturas com que têm de coexistir.

Imagem retirada do manual Um outro olhar sobre o mundo
Para preservar os traços da sua cultura, o etnocentrista pode assumir posturas negativas, entre as quais se contam:
• Xenofobia, ou seja, ódio em relação aos estrangeiros.
• Racismo, isto é, repúdio violento de determinados grupos étnicos.
• Chauvinismo, quer dizer, patriotismo fanático.


Relativismo cultural

Para além dos etnocentristas, há outras pessoas que perspectivam as outras culturas a partir dos valores por que se regem e não dos valores das culturas em causa. São os defensores do relativismo cultural.
Porém, afastam-se dos etnocentristas ao recomendarem a tolerância face as diferentes expressões culturais  das outras comunidades.
Esta tolerância, sendo aparentemente uma atitude positiva, manifesta alguns aspectos negativos:

• a proclamação dos respeito e tolerância pelas outras culturas encerra a ideia de que cada cultura deve promover os seus próprios valores, ficando fechada em si própria.
• Não incentivando a abertura aos modelos das outras comunidades, os defensores do relativismo não promovem, antes dificultam, o diálogo entre culturas.

Neste sentido, os relativistas não escapam a certos riscos. Entre eles, anotam-se os seguintes:

Racismo
Embora proponham o respeito pelos modos de vida de todos os povos, os relativistas estão a preservar a sua própria cultura. A melhor forma de as pessoas se preservarem consiste em não se misturarem. Daí não serem adeptos do diálogo cultural.


Isolamento
Apesar da tolerância, o relativismo promove a separação entre culturas, não manifestando interesse em estabelecer contacto com povos diferentes. A defesa de que cada ser humano deve ficar no seu país e viver segundo a sua cultura acaba por ser, muitas vezes, um modo de justificar a proibição da entrada de imigrantes.

Estagnação 
Há uma visão estática das culturas, considerando que o importante é manter
as tradições. Certamente que é bom manter as tradições para conservar a memória colectiva; porém, a cultura é algo de vivo que se deve adaptar a novas circunstâncias e, para isso, os contactos entre culturas são altamente enriquecedores. Esta é a perspectiva adoptada pelos defensores do interculturalismo.


Interculturalismo

Este movimento tem como ponto de partida o respeito pelas outras culturas, superando as falhas do relativismo cultural, ao defender o encontro, em pé de igualdade, entre todas elas.

O interculturalismo propõe-se promover os seguintes objectivos:
• Compreender a natureza pluralista da nossa sociedade e do nosso mundo.
• Promover o diálogo entre culturas.
• Compreender a complexidade e riqueza da relação entre as diferentes culturas, tanto no plano pessoal como no comunitário.
• Colaborar na busca de respostas aos problemas mundiais que se colocam nos âmbitos social, económico, político e ecológico.

Dado que não se pode considerar que qualquer cultura tenha atingido o seu total desenvolvimento, o diálogo entre povos de diferentes culturas é o meio de possibilitar o enriquecimento mútuo de todas elas. O interculturalismo propõe, assim, que se aprenda a conviver num mundo pluralista e  se respeite e defenda a humanidade no seu conjunto. 


A importância do diálogo entre culturas

O diálogo entre culturas corresponde a uma exigência do nosso tempo, dada a necessidade de dar respostas comuns a desafios que se colocam a toda a humanidade. Para o levar a cabo é necessário, contudo, ter como base um conjunto de valores morais partilhados, entre os quais se evidenciam os seguintes:
• Salvaguarda dos direitos humanos.
• Apreço pela liberdade, igualdade e solidariedade.
• Respeito pelas diferenças culturais.
• Promoção de uma atitude dialogante.
• Implementação de um tolerância activa.

Estes mínimos morais são os alicerces para a construção de uma “civilização mundial”. Tal civilização será obra de todas as culturas e raças e terá de ser edificada através de um diálogo intercultural sério e frutífero. 

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Os perigos do etnocentrismo

"É norma socialmente reconhecida entre nós que devemos cuidar dos nossos pais e de familiares quando atingem uma idade avançada; os Esquimós deixam-nos morrer de fome e de frio nessas mesmas condições. Algumas culturas permitem práticas homossexuais enquanto outras as condenam (pena de morte na Arábia Saudita). Em vários países muçulmanos a poligamia é uma prática normal, ao passo que nas sociedades cristãs ela é vista como imoral e ilegal. Certas tribos da Nova Guiné consideram que roubar é moralmente correcto; a maior parte das sociedades condenam esse acto. O infanticídio é moralmente repelente para a maior parte das culturas, mas algumas ainda o praticam. Em certos países a pena de morte vigora, ao passo que noutras foi abolida; algumas tribos do deserto consideravam um dever sagrado matar após terríveis torturas um membro qualquer da tribo a que pertenciam os assassinos de um dos seus.

Centenas de páginas seriam insuficientes para documentarmos a relatividade dos padrões culturais, a grande diversidade de normas e práticas culturais que existem actualmente e também as que existiram.

Até há bem pouco tempo muitas culturas e sociedades viviam praticamente fechadas sobre si mesmas, desconhecendo-se mutuamente e desenvolvendo bizarras crenças acerca das outras.

 Os europeus que viajaram para as Américas no século XVI acreditavam que iam encontrar gigantes, amazonas e pigmeus, a Fonte da Eterna Juventude, mulheres cujos corpos nunca envelheciam e homens que viviam centenas de anos. Os índios americanos foram inicialmente olhados como criaturas selvagens que tinham mais afinidades com os animais do que com os seres humanos. Paracelso, nunca lá tendo ido, descreveu o continente norte-americano povoado por criaturas que eram meio homens meio bestas. Julgava-se que os índios, os nativos desse continente, eram seres sem alma nascidos espontaneamente das profundezas da terra. O bispo de Santa Marta, na Colômbia, descrevia os indígenas como homens selvagens das florestas e não homens dotados de uma alma racional, motivo pelo qual não podiam assimilar nenhuma doutrina cristã, nenhum ensinamento, nem adquirir a virtude.

Anthony Giddens, Sociology, Polity Press, Cambridge, p. 30

Durante o século XIX os missionários cristãos em África e nas ilhas do Pacífico forçaram várias tribos nativas a mudar os seus padrões de comportamento. Chocados com a nudez pública, a poligamia e o trabalho no dia do Senhor, decidiram, paternalistas, reformar o modo de vida dos "pagãos". Proibiram os homens de ter mais de uma mulher, instituíram o sábado como dia de descanso e vestiram toda a gente. Estas alterações culturais, impostas a pessoas que dificilmente compreendiam a nova religião, mas que tinham de se submeter ao poder do homem branco, revelaram-se, em muitos casos, nocivas: criaram mal-estar social, desespero entre as mulheres e orfandade entre as crianças.

Se bem que o complexo de superioridade cultural não fosse um exclusivo dos Europeus (os chineses do século XVIII consideraram desinteressantes e bárbaros os seus visitantes ingleses), o domínio tecnológico, científico e militar da Europa, bem vincado a partir das Descobertas, fez com que os Europeus julgassem os próprios padrões, valores e realizações culturais como superiores. Povos pertencentes a sociedades diferentes foram, na sua grande maioria, desqualificados como inferiores, bárbaros e selvagens.

O etnocentrismo é a atitude característica de quem só reconhece legitimidade e validade às normas e valores vigentes na sua cultura ou sociedade. Tem a sua origem na tendência de julgarmos as realizações culturais de outros povos a partir dos nossos próprios padrões culturais, pelo que não é de admirar que consideremos o nosso modo de vida como preferível e superior a todos os outros. Os valores da sociedade a que pertencemos são, na atitude etnocêntrica, declarados como valores universalizáveis, aplicáveis a todos os homens, ou seja, dada a sua "superioridade" devem ser seguidos por todas as outras sociedades e culturas. Adoptando esta perspectiva, não é de estranhar que alguns povos tendam a intitular-se os únicos legítimos e verdadeiros representantes da espécie humana.

Quais os perigos da atitude etnocêntrica? A negação da diversidade cultural humana (como se uma só cor fosse preferível ao arco-íris) e, sobretudo os crimes, massacres e extermínios que a conjugação dessa atitude ilegítima com ambições económicas provocou ao longo da História.

Depois da Segunda Guerra Mundial e do extermínio de milhões de indivíduos pertencentes a povos que pretensos representantes de valores culturais superiores definiram como sub-humanos, a antropologia cultural promoveu a abertura das mentalidades, a compreensão e o respeito pelas normas (valores das outras culturas Mensagens fundamentais: a) Em todas as culturas encontramos valores positivos e valores negativos; b) Se certas normas e práticas nos parecem absurdas devemos procurar o seu sentido integrando-as na totalidade cultural sem a qual são incompreensíveis, c) O conhecimento metódico e descomplexado de culturas diferentes da nossa permite-nos compreender o que há de arbitrário nalguns dos nossos costumes, torna legítimo optar, por exemplo, por orientações religiosas que não aquelas em que fomos educados, questionar determinados valores vigentes, propor novos critérios de valoração das relações sociais, com a natureza, etc.

A defesa legítima da diversidade cultural conduziu, contudo, muitos antropólogos actuais a exagerarem a diversidade das culturas e das sociedades: não existiriam valores universais ou normas de comportamentos válidos independentemente do tempo e do espaço. As valorações são relativas a um determinado contexto cultural, pelo que julgar as práticas de uma certa sociedade, não existindo escala de valores universalmente aceite, seria avaliá-los em função dos valores que vigoram na nossa cultura.

Cairíamos de novo, segundo a maioria dos antropólogos, nessa atitude dogmática que é o etnocentrismo.»

RODRIGUES, Luís (2003). Filosofia 10.º ano. Lisboa: Plátano Editora.

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