Os valores orientam a ação porque servem de padrões de avaliação do real e de critérios de deliberação.
Isto torna-se inteligível a partir da análise do que chamámos a bússola dos valores:
Quando fazemos escolhas e deliberamos qual a decisão a tomar em cada caso, usamos os valores, tendo em conta as suas características fundamentais: a matéria, a polaridade e a hierarquia.
Procuramos dar sentido à situação em que nos encontramos (atribuindo valor às coisas, aos acontecimentos, às ações) e analisando os prós e os contras de cada opção ao nosso dispor).
A bússola nasce do cruzamento da polaridade e da hierarquia dos valores.
As tomadas de decisão tendem a situar-se no quadrante positivo/superior: tendemos sempre a escolher o que achamos melhor.
A bússola funciona tendo em conta critérios de avaliação que podem diferir de indivíduo para indivíduo: uma pessoa egoísta tenderá a escolher opções que a beneficiem, mesmo que sejam prejudiciais para os outros, enquanto que uma pessoa altruísta irá considerar que a melhor opção será a que beneficiar os outros, enquanto que uma pessoa utilitarista considerará que a melhor escolha em cada momento deverá ser a que privilegiar o bem do maior número de pessoas.
Conhecer, Valorar e Agir
Sem os valores não saberíamos como agir, eles são-nos necessários porque somos livres. Se o nosso comportamento fosse completamente instintivo não teríamos liberdade e, então, não teríamos que fazer escolhas.
Isso significa que não teríamos preferências, pois estaríamos totalmente dependentes do nosso determinismo biológico, seríamos pouco diferentes das formigas, embora pudéssemos lidar com uma quantidade de informação astronomicamente maior, estaríamos, como elas, totalmente dependentes da causalidade natural, o nosso comportamento seria sempre uma reação cega aos estímulos do meio.
Por sermos livres somos agentes e como agentes podemos determinar o curso da nossa vida fazendo escolhas, tomando decisões, e instando os outros a fazerem o mesmo. Muitas vezes as nossas ações inserem-se num esforço coletivo, agimos de forma coordenada com outros agentes. Isso pressupões que possamos entender-nos e aí a linguagem simbólica, própria do ser humano, é uma preciosa ferramenta.
A linguagem permite-nos estruturar um pensamento racional que também segue princípios de organização formal - e é aí que entra a Lógica. Tal como a linguagem com as suas regras gramaticais e as suas referências semânticas ao mundo das coisas, a Razão também segue regras formais na estruturação do pensamento (nós já estudámos os Princípios Lógicos da Razão e não foi por acaso).
A Razão, porque assenta em princípios lógicos comuns a todos os sujeitos (daí dizermos que o conhecimento racional é universal) permite-nos chegar a conclusões objetivas e sistemáticas sobre o mundo em que vivemos (nós e os outros seres humanos, sempre em interação).
Assim, para podermos agir precisamos de conhecer a realidade que, constantemente, nos desafia a agir (estão sempre a acontecer situações que exigem tomadas de decisão da nossa parte) e na qual se vão refletir os efeitos das nossas ações - tudo o que fazemos tem um impacto na realidade. A nossa ação reflete-se sobre as coisas e as pessoas, com consequências que à partida podem ser imprevisíveis.
Por isso conhecer é importante para podermos agir de forma adequada.
É a partir do conhecimento que adquirimos sobre cada situação que se exerce a valoração. Só podemos atribuir valor de forma adequada, quando conhecemos o objeto sobre o qual vai recair a nossa valoração. Muitas vezes enganamo-nos sobre a natureza do objeto e a nossa apreciação do mesmo pode revelar-se desadequada. Isto mostra a importância do conhecimento para a valoração e a ação: conhecendo bem as situações podemos fazer deliberações com um grau elevado de possibilidade de nos conduzirem a uma ação eficaz ou, também ela adequada à situação que a motivou.
A necessidade da valoração existe porque o conhecimento não nos dá toda a informação sobre o que está em causa quando temos que agir. Se fôssemos como as formigas o conhecimento seria um mero input que desencadearia em nós uma reação, de forma direta, imediata, sem a intervenção da reflexão racional. Se assim fosse, a Razão seria de todo supérflua, pois não serviria para nada. As formigas não são racionais e no entanto a razão não lhes faz falta para nada porque a sua programação biológica lhes permite 'resolver' todas as situações.
A valoração é necessária à ação porque o conhecimento, por mais objetivo e verdadeiro que seja, não nos consegue dar toda a informação: para além dos estados do mundo exterior, como a temperatura ambiente, a distância dos objetos, ou qualquer outro dado conhecível de forma objetiva, nós somos mais complexos do que os animais ou as máquinas: nós temos emoções e sentimentos, temos a necessidade de muitas 'coisas' que não são materiais que, em muitos casos, dependem do comportamento dos outros e não podem ser adquiridas através da resolução racional e impessoal dos problemas.
O conhecimento pode mostrar-nos que temos, numa dada situação, várias opções de escolha, várias alternativas aparentemente equivalentes e/ou adequadas a cada situação. É atribuindo valores a essas alternativas/ opções que conseguimos escolher a que nos parece preferível. Só depois é que agimos.
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