quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O conceito de cultura



CULTURA E DIVERSIDADE CULTURAL

Conceito de cultura: Segundo o sociólogo inglês Raymond Williams, a palavra cultura vem do latim – colere – e definia inicialmente o cultivo das plantas, o cuidado com os animais e também com a terra (por isso se fala em agricultura);

Definia, ainda, o cuidado com as crianças e a sua educação; o cuidado com os deuses (o seu culto); o cuidado com os antepassados e os seus monumentos (a sua memória);

Chegaríamos ao sentido mais comum do termo na nossa sociedade: o homem que tem cultura é o homem “culto”. Mas, se pensássemos em cultura apenas nesse sentido, teríamos que perguntar: só quem lê muito, quem passou um longo tempo na escola é que tem cultura? E o camponês, o operário, o comerciante, estes não têm cultura?

Numa outra perspectiva, poderíamos responder que cultura é cinema, pintura, teatro, as manifestações artísticas em geral. Nesse caso, só os artistas é que teriam cultura? Mas e as festas populares, as crenças, as chamadas tradições, seriam o quê?

A maneira de agir, pensar e sentir de um grupo de pessoas ou classe social seria ou não cultura? O “modo de ser” dos portugueses tem algo a ver com “cultura”, com “cultura portuguesa”?

Antes de tentar responder a essas perguntas, devemos partir, especificamente, da compreensão do próprio conceito. Pensar em cultura requer que se pense, inicialmente, na sua relação com outros dois conceitos fundamentais: o de civilização e o de história. Foi na Europa, a partir do século XVIII, que o conceito de cultura passou a ser associado ao conceito de civilização. Os pensadores do período, preocupados em estudar o homem e a sociedade, pensavam a relação entre o conceito de cultura e de civilização de maneiras diversas.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778): cultura seria definida como bondade natural, solidariedade espontânea. A essa ideia positiva de cultura, Rousseau opunha a ideia negativa de civilização. O conceito de civilização era pensado como aprisionamento da bondade humana natural, por meio de regras e convenções artificiais e exteriores ao homem;

Voltaire (1694-1778) e Kant (1724-1808): cultura e civilização representavam, ambas, o processo de aperfeiçoamento moral e racional da sociedade.

Hegel (1770-1831): Compreendida em sua relação com a história, a cultura é definida como o conjunto organizado dos vários modos de vida de uma sociedade. Segundo o filósofo alemão, a cultura resultaria da forma de ser dos homens. Assim, a concepção de cultura estaria relacionada com as formas como os homens vão compreendendo, representando e se relacionando com os vários elementos componentes da sua existência: o trabalho, a religião, a linguagem, as ciências, as artes e a política.

Os estudos antropológicos desenvolveram em torno deste conceito alargado de cultura: A antropologia, como ciência, desenvolveu-se principalmente a partir do século XVIII com a expansão colonial europeia. Novos territórios vinham sendo descobertos e ocupados pelas potências europeias (principalmente a Inglaterra) e novos povos (considerados primitivos, quando comparados com a sociedade ocidental) eram contactados. Era preciso conhecer os seus hábitos, costumes e valores, principalmente para melhor os dominar. A antropologia surgiu, como se pode deduzir, como conseqüência da política imperialista e com o intuito de auxiliá-la. Ao longo do tempo, porém, a atuação dos antropólogos desenvolveu-se de maneira mais independente e num sentido muitas vezes oposto ao que deles se exigia.

Nas últimas décadas, o estudo do “outro” (os outros povos, as suas crenças e costumes) passa a desenvolver-se no sentido político de mostrar que as diferenças culturais não significam inferioridade nem justificam a dominação. Por essa razão, a antropologia ajudou a desqualificar o etnocentrismo (isto é, a tendência a valorizar a própria cultura, tomando-a como parâmetro para avaliar as demais) e a admitir o relativismo cultural e, posteriormente, o interculturalismo. Para ela, cada sociedade possui o direito de se desenvolver de modo autónomo, não existindo uma teoria sobre a humanidade que possua alcance universal, e que seja capaz de impor-se a outras, com base em qualquer tipo de superioridade.

Tiago Dantas
http://sociologiadeplantao.blogspot.pt/2009/08/conceito-de-cultura.html

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