quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Somos os heróis da vida uns dos outros?



Serei eu o herói da minha vida ou ocupará alguém esse lugar? E o que é ser um herói?

Alguém com super poderes, capaz de ultrapassar todas as barreiras e dificuldades?Alguém indestrutível que no fim sai sempre vencedor?

Penso que não, pois, se assim fosse com certeza que não seria esse herói.
Ou será simplesmente alguém que faz a diferença?Que está sempre lá na hora certa? E que se importa o suficiente para nos fazer pensar, para nos amparar e nos ajudar a ultrapassar os momentos difíceis?Que pode fazer a diferença no rumo que tomamos, mudar a nossa vida simplesmente por estar ali do nosso lado e continuar a lutar por nós mesmo quando nós próprios nos consideramos uma guerra perdida.

No fundo, o que eu acho é que todos nós somos um bocadinho heróis na vida uns dos outros, pois, em algumas alturas da nossa vida através dos nossos atos, mesmo não tendo consciência, podemos influenciar a vida de quem nos rodeia e torná-la assim um pouco mais leve.

Simples palavras, simples gestos podem fazer coisas grandes como ajudar a construir um rumo na vida de quem se tinha sido perdido, e que, com a nossa ajuda, ganhou força para voltar a andar.

Será assim então possível que eu seja o herói da minha vida?

Carolina Almeida nº8 10ºE(2014/2015)

somos os Herós da nossa vida?

Será que eu vou ser a heroína da minha vida ou esse lugar vai ser ocupado por outra pessoa?
Charles Dickens, David Copperfield / 'Os gatos não têm vertigens'




Como todas as questões  em filosofia, esta é só mais uma entre várias perguntas que nos fazem pensar intensamente no significado de cada palavra e como é que estas influenciam a nossa vida.

Todos nós crescemos a ver e ouvir histórias sobre os super-heróis mais famosos de sempre, desde o super-homem à mulher-maravilha, mas neste caso a palavra “herói” não se aplica à simples ideia de um indivíduo de capa vermelha e que estranhamente possui um poder extraordinário.

O que levanta a questão: “O que será verdadeiramente um herói?” ou “O que é ser um herói na realidade?”.

Será que podemos considerar um bombeiro ou um médico um herói por salvar vidas? Talvez, porque um herói é alguém que se dedica com tamanha convicção e vontade para alcançar os seus objectivos, pondo de lado as suas dificuldades. É também verdade, que para ser herói não é preciso acertar e ter sucesso constantemente, mas sim tentar sempre, pois um herói é aquele que nunca desiste. Ser herói não é só salvar vidas, ir para a guerra e arriscar a vida, mas é sim, todas as pequenas coisas, tal como a simples ideia de sairmos da nossa zona de conforto e fazermos algo a que não estamos habituados ou pensávamos que não conseguíamos fazer, realizar algo de uma maneira diferente – Ser diferente!

O que é muito raro fazer hoje em dia, porque fomos criados a não fazer aquilo que não estamos acostumados, ensinaram-nos a seguir sempre o mesmo caminho – o caminho certo ou muitas vezes, o mais fácil. E quando optamos por escolher o outro caminho, não somos elogiados, porque é simplesmente a natureza do ser humano (na maioria das vezes) – optando sempre pela maneira mais segura.

Mas na minha opinião, o facto de não o fazermos é o que nos faz heróis, o facto de sermos e agirmos de forma diferente do que os outros, arriscarmo-nos a escolher o “outro caminho”, inovarmos na nossa maneira de pensar e ao esquecermos o que é “certo” e o que é “errado”. Isto é o que todos os super-heróis que tanto admirávamos tinham e talvez seja o que deveríamos optar por fazer.

Mas será que eu vou ser isso na minha vida? Ou outra pessoa é que vai fazer isso por mim? Será que eu tenho a capacidade de me destacar dos outros ao fugir dos modelos de sucesso já programados e escolher o outro caminho?

Quando somos confrontados com esta questão, o nosso primeiro instinto é sempre dizer que sim, pois acreditamos em nós próprios e nas nossas capacidades, mas ao pensarmos cada vez mais começamos a duvidar da nossa pessoa e do nosso futuro.

Na minha opinião, eu, e provavelmente todos os outros, queríamos ser capazes de ser os heróis das suas vidas, mas a outra opção é também bastante real ou talvez o lugar de herói pode nem chegar a ser preenchido. Como é que sabemos então? Não sabemos. Eu acredito que todas as coisas têm a sua razão de acontecer, pois conseguimos tomar as nossas próprias decisões, mudando assim o decurso do nosso destino, por isso apenas podemos esperar e acreditar nas nossas próprias decisões e, com sorte, um dia percebemos que sim, fomos os heróis da nossa vida.

Bruna Alexandra Alves Ferreira  Nº6 10ºE(2014/2015)

Os diversos tipos de valor




Os valores

Como todos os valores se acham referidos a um sujeito – o sujeito humano, o homem - e este é, antes de mais nada, um ser constituído por sensibilidade e espírito, daí o poderem classificar-se imediatamente todos os valores nas duas classes fundamentais de: valores sensíveis e valores espirituais. Os primeiros referem-se ao homem enquanto simples ser da natureza, os segundos ao homem como ser espiritual.

A – Valores sensíveis
A esta categoria pertencem:

1 – Os valores do agradável e do prazer, também chamados “hedónicos”. Ela abrange não só todas as sensações de prazer e satisfação, como tudo aquilo que é apto a provocá-las (vestuário, comida, bebidas, etc.). À ética que apenas conhece estes valores chama-se geralmente hedonismo.

2 - Valores vitais ou da vida. São aqueles valores de que é portadora a vida, no sentido naturalista desta palavra, isto é, Bios. Cabem aqui o vigor vital, a força, a saúde, etc. Como se sabe, foram estes os valores que Nietzsche reputou os mais elevados de todos na sua escala axiológica, como os únicos mesmo. E ao que se chama biologismo ético ou naturalismo.

3 - Valores de utilidade. Coincidem com os chamados valores económicos. Referem-se a tudo aquilo que serve para a satisfação das nossas necessidades da vida (comida, vestuário, habitação, etc.) e ainda aos instrumentos que servem para a criação destes bens. Distinguem-se dos restantes valores desta classe, nomeadamente dos sensíveis, para os quais aliás concorrem, por não serem, do ponto de vista formal, autónomos, mas derivados, no sentido que acima vimos.


B – Valores espirituais.
Estes distinguem-se dos valores sensíveis, no seu conjunto, não só pela imaterialidade que acompanha a sua perdurabilidade, como pela sua absoluta e incondicional validade. Muitos filósofos, que encaram os valores só por este último lado, identificando-os por isso com o conceito de simples “valor” ou validade formal, pretendem que só os valores espirituais são verdadeiros valores.Porém, quem se lembraria de negar aos economistas o direito de usarem também do termo e do conceito de valor? À categoria dos valores espirituais pertencem:

1- Os valores lógicos. Quando se fala de valores lógicos, é preciso ter presente que se podem entender por esta expressão duas coisas distintas: a função do conhecimento – o saber, a posse da verdade e o esforço para a alcançar - e o conteúdo do conhecimento. No primeiro sentido, é óbvio que podemos falar, com todo o direito, em valores lógicos ou no valor do conhecimento. Contrapor-se-lhe-ão, como desvalor lógico, a ignorância, o erro, a falta de interesse pela verdade, a ausência de esforço para a alcançar, etc. Mas a expressão “valor lógico” pode significar também o próprio conteúdo do conhecimento. E, neste segundo caso, é “valor lógico” tudo aquilo que cai dentro do par de conceitos verdadeiro-falso [...].


2 - Valores éticos: ou do bem moral. Destes podem dar-se as seguintes características:


a) Só podem ser seus portadores as pessoas, nunca as coisas. Só seres espirituais podem encarnar valores morais. Por isso o âmbito destes valores é relativamente restrito; muito mais, por exemplo, que o dos estéticos.


b) Os valores éticos aderem sempre a suportes reais. Também, por este lado, se distinguem dos valores estéticos, cujo suporte é constituído por algo de irreal, de mera aparência.


c) Os valores éticos têm o carácter de exigências e imperativos absolutos. Dele desprende-se sempre um categórico “tu deves fazer” ou “tu não deves fazer”, "isto ou aquilo"; exigem, imperiosamente, que a consciência os atenda e os realize. E nisto se separam também dos estéticos que não impõem nenhuma exigência desta natureza, nem se nos impõem incondicionalmente. 

d) Os valores éticos dirigem-se ao homem em geral, a todos os homens; são universais, a sua pretensão a serem realizados é universal. Os estéticos não estão neste caso, apenas dirigem o seu apelo a alguns homens, para que estes os realizem, e nem todos podem ser obrigados a dar-lhe acolhimento, a fazer arte, ou a cultivá-las de qualquer maneira. 
e) Além disso, é, pode dizer-se, ilimitada também a exigência que os valores éticos nos fazem: constituem uma norma ou critério de conduta que afecta todas as esferas da nossa actividade e da nossa conduta da vida. Esta acha-se sujeita, total e incondicionalmente, a eles na sua imperiosa jurisdição e validade. Nada deve ser feito que os contrarie. Poderia definir-se esta característica dos valores éticos chamando-lhes totalitários. Não assim os valores estéticos. Estes só reclamam de nós que os realizemos em certas situações e momentos da vida, permanecendo calados durante os restantes; não somos obrigados a ser estetas e, menos ainda, a toda a hora (…).


3 - Valores estéticos, ou do Belo. Incluímos aqui no conceito de belo, no mais amplo sentido desta palavra, o sublime, o trágico, o amorável, etc.


4 - “Valores religiosos ou do”sagrado”. Já atrás aludimos ao que há de original nestes valores. A eles não adere propriamente nenhum “deve ser”. Não temos que realizar esses valores; nem isso é possível nem necessário. Não são valores de um “deve ser”, mas valores de um “ser”; Nisto se afastam dos valores éticos para se aproximarem dos estéticos com os quais estão numa relação muito íntima. Todavia, existe também entre eles e estes últimos uma diferença que cumpre salientar: a realidade do “sagrado”, não é, como a do “Belo”, apenas uma realidade aparente, mas uma realidade no mais eminente sentido desta palavra.

Johannes Hessen, Filosofia dos Valores, Ed. Arménio Amado; Coimbra. pp. 107-117
Texto recolhido aqui
_______________
Glossário:

Sensibilidade - Refere-se à dimensão material do ser humano, relacionada com o conhecimento sensível (ou sensorial), relacionado com os sentidos. Neste sentido, é sensível o que é conhecido através dos sentidos (audição, tato, visão, paladar, olfato).
Por outro lado, a sensibilidade também se refere à dimensão emocional (emoções) e sentimental (sentimentos) do ser humano: as emoções são reações orgânicas aos estímulos do meio, dependem do corpo. Os sentimentos para além duma componente emocional, têm uma componente intelectual, pois integram padrões de pensamento que influenciam a tomada de decisões. Enquanto as emoções são reações de curta duração, os sentimentos prolongam-se no tempo, podendo marcar de forma profunda a personalidade dos indivíduos.
Hedónico - Esta palavra tem origem no termo grego hedonê que significa prazer, servindo, também, para designar a deusa do prazer. Assim, hedónico refere-se a tudo o que está relacionado com o prazer.

Atividades:

- De acordo com o texto:
1. O que são valores sensíveis?
2. O que são valores espirituais?
3. Qual a relação entre os valores e a natureza humana?

___________


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

EU vou ser a heroína da minha vida

Será que eu vou ser a heroína da minha vida ou esse lugar vai ser ocupado por outra pessoa?
Charles Dickens, David Copperfield / 'Os gatos não têm vertigens'





Eu ainda não sei ao certo se vou ser a heroína da minha vida ou se esse lugar irá ser ocupado por outra pessoa. Debruço-me e questiono-me sobre esta pergunta. Afinal de contas o que é ser uma heroína ou como é que nos sentimos estando no lugar de um herói ou de uma heroína? Para essa questão eu tenho uma resposta, o tempo, pois o tempo é que me vai levar à minha resposta. Só o tempo me dirá se vou ou não ser a heroína da minha vida.

Muitos dizem que o tempo passa a correr, para mim o tempo passa de uma maneira muito suave e clara.

Eu não quero crescer e pensar que não consegui e nem fui a heroína da minha vida.

Não digo que não quero salvar vidas ou defender pessoas que correm perigo como os heróis de banda desenhada, muito pelo contrário, eu quero deixar a minha marca e quero que ela fique bem visível para que todas possam vê-la, mas não quero que admirem a minha marca, eu quero deixar essa marca nos meus pais, amigos, conhecidos e sobretudo nos meus filhos.

Não quero que me tratem como uma heroína quero que me tratem pelo aquilo que sou e como sou, não quero ser o centro das atenções eu quero ser apenas aquilo que eu sempre fui e sou, afinal de contas eu sou um misto de coisas.

Eu disse que o tempo era a única “instância” que me podia dizer se eu vou ou não vou ser a heroína da minha vida, pois em relação a isso eu já tenho a minha resposta.

EU vou ser a heroína da minha vida e esse lugar não vai ser ocupado por outra pessoa.

Porque afinal de contas por detrás de cada um há sempre um herói ou uma heroína e não há ninguém que consiga ocupar esse lugar porque esse lugar sempre nos pertenceu e sempre nos pertencerá.

Noémi Barros 10ºE (2014/2015)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Juízos de Facto e Juízos de Valor

Este post foi elaborado a partir da seguinte apresentação da autoria de Danilo Pires:
Juízos de facto e juízos de valor


O que é um juízo?
Comecemos por esclarecer o que significa dizer que alguém formulou um juízo sobre determinado assunto.

Fazer um juízo significa geralmente que alguém formou ou deu uma opinião. Esta opinião é comunicada oralmente ou por escrito através de uma frase declarativa, que exprime o juízo formulado. Se a frase pôde expressar a opinião ou juízo de alguém é porque há um significado associado à frase.


Factos e Valores

Em geral, distinguimos dois tipos de juízos: Juízos de facto e Juízos de valor.

Um exemplo do primeiro tipo seria:

o sol é uma estrela;

um exemplo do segundo tipo seria:

o aborto – em certas circunstâncias – é moralmente permissível.


Juízos de facto
Os juízos de facto são descritivos: informam-nos sobre o que se passa na realidade – dizem-nos, em suma, de que modo as coisas são.

Há mais chineses que portugueses

 “A atmosfera terrestre contém oxigénio”.

Juízos de facto têm valor de verdade: são verdadeiros ou falsos.

São objetivos: a realidade que descrevem, quer nos agrade quer não, é como é. 
Não depende do que possamos pensar ou sentir, dos nossos desejos ou aversões.

O filme que vi ontem na televisão, por exemplo, tem uma duração de 93 minutos: eis algo de objectivo, que em nada depende de mim (como existirem nove planetas no sistema solar também não depende de mim: mesmo que eu pensasse ou desejasse o contrário, a realidade não deixaria de ser a que é).

Os juízos de facto serem objetivos tem uma consequência importante: podemos estar errados quando os formulamos.

Se alguém pensar que a Terra ocupa o centro do universo, o seu juízo está objetivamente errado. O mesmo seria se todos pensássemos dessa maneira. 

Não é por todos estarmos de acordo sobre um certo assunto que nos faz estar na verdade.

Os juízos de facto são descritivos, têm valor de verdade e são objetivos.


Juízos de valor

“A pena de morte é injusta.”

Parece claro que este juízo exprime uma atitude desfavorável em relação à pena de morte: alguém que acredite nele sinceramente não está apenas a dizer-nos como as coisas se passam na realidade; não está apenas a descrevê-las. Está a dizer-nos como as coisas deviam ser, isto é, está a avaliá-las.

Dizer que a pena de morte é injusta significa fazer uma avaliação negativa desta prática.

Fazer uma avaliação negativa implica uma atitude de reprovação: estamos a dizer que a pena de morte não devia existir.

Não nos limitamos, portanto, a descrever um facto; estamos a propor a adoção de uma norma de comportamento – neste caso, a ser aplicada pelos tribunais.

As normas servem para indicar a maneira como devemos agir. É devido a esta característica que os juízos de valor são normativos.

Esta análise permite-nos concluir que os juízos de facto são descritivos e os juízos de valor têm, em muitas circunstâncias, uma função normativa. 

Os juízos de facto tratam daquilo que as coisas são, os juízos de valor de carácter normativo (como, por exemplos, os juízos morais) tratam daquilo que as coisas devem ser.

“A relva é verde” é um juízo verdadeiro porque descreve corretamente a realidade; por outro lado, o juízo “Camões é italiano” é falso porque descreve incorretamente a realidade. 
Para um juízo ter valor de verdade é, portanto, necessário ser descritivo.
Para ser verdadeiro, tem que descrever corretamente a realidade.

Os juízos de valor podem ser sinceros ou não, mas não têm um valor de verdade objetivamente comprovável.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Caracterização dos valores



As principais características dos valores

“O homem percebe em torno de si uma multiplicidade de coisas boas e más, uma multiplicidade de objectos belos e feios, grandiosos e mesquinhos, nobres e vulgares. O nosso mundo não consta apenas, nem principalmente, das coisas, mas dessas atracções e repulsões que a realidade circundante exerce sobre a nossa alma. O mundo real e concreto, o mundo que efectivamente vivemos, não é o que a física, a química, a matemática, nos descrevem, mas um imenso arsenal de bens e de males, com os quais edificamos a vida.

A noção do valor tem sido objecto de muitos estudos na mais recente filosofia. Não posso expor em todos os seus pormenores os descobrimentos que se fizeram no campo dos valores, durante as últimas décadas. Para o objecto que neste estudo me proponho bastarão proposições gerais.

1. Os valores não são coisas. Não podem perceber‑se como se percebem as coisas, o modo de perceber os valores não consiste em os vermos com os olhos da cara ‑ o que não obsta a que os valores sejam tão clara e autenticamente vividos por nós como as coisas e os objectos matemáticos. Os valores, pois, são qualidades que atribuímos às coisas, mas que não estão nas coisas de modo real e sensível, como estão a figura, o peso, a cor, etc.

2. O ser dos valores não é, portanto, o mesmo ser que o da realidade material. Se quisermos ser rigorosos, devemos distinguir vários modos de ser; um deles é o ser sensível, outro o ser ideal (como, por exemplo, o dos objectos matemáticos) e um terceiro modo de ser é o valer, e é este que precisamente corresponde aos valores. Em sentido próprio, os valores não existem nem são, mas valem.

3. Assim, os valores não são conhecidos, como são conhecidas as coisas físicas e os objectos ideais, mas são estimados. 

4. O valor não se caracteriza pelo prazer que produz, se o produz. É erróneo dizer que as coisas são valiosas, porque nos produzem prazer. Na realidade, os valores valem independentemente do prazer que produzem. O prazer é valioso; é preferível à dor. Porém, do prazer ser um valor não se infere legitimamente que todo o valor seja prazer.

5. O valor não se caracteriza também pelo desejo. Quando desejamos uma coisa é porque percebemos valor nela, o que, todavia não quer dizer que inversamente todo o valor seja desejado. Ocorre frequentemente percebermos um valor numa coisa e não a desejarmos.

6. Os valores têm matéria, polaridade e hierarquia

A matéria do valor é o que distingue uns valores dos outros. Por directa apreensão do significado que damos às palavras, distinguimos a santidade da beleza, a elegância da justiça. Todos eles são valores; mas cada um distingue‑se do outro  pelo seu conteúdo próprio, pela sua própria consistência.

A polaridade é a propriedade que têm todos os valores de se contraporem num pólo positivo e num pólo negativo. À beleza contrapõe‑se a fealdade, à generosidade a mesquinhez, à santidade a profanidade.

A hierarquia é a propriedade que possuem os valores de se subordinarem uns aos outros, isto é, de serem uns mais valiosos que outros. A justiça é, em hierarquia, superior à elegância; e é‑o com a mesma evidência com que a soma dos dois lados do triângulo é maior que o terceiro lado. Poderíamos dizer que todos os valores valem, mas que uns valem mais que os outros.

7. Os valores podem classificar‑se também em valores‑meio e valores‑fim. Os valores‑meio são aqueles cuja valia consiste em servir para a obtenção de outros valores; os valores‑fim são os que valem por si e sem necessidade de servirem à obtenção de outros valores.

8. Não podem definir‑se os valores. Conhecê‑los é estimá‑los, e estimá‑los é percebê‑los, intuí‑los. Para revelar um valor cumpre colocá‑lo intuitivamente perante a pessoa; mas como os valores não são coisas, é preciso, para que se percebam estimativamente, perceber coisas e imaginar coisas (objectos, acções, etc.) em que os valores estejam realizados, efectivados. Para dar a conhecer uma cor, temos que a exibir; para dar a estimar um valor, temos que o apresentar numa coisa.”
G. Morente (Texto adaptado)
_________
Atividades:

I.
I.1. O que são os valores?
I.2. O que é a matéria dos valores?
I.3. O que é a polaridade dos valores?
I.4. O que é a hierarquia dos valores?
I.5. O que são valores-meio?
I.6. O que são valores-fim?

II. Explique as seguintes afirmações:

a) "O mundo real e concreto, o mundo que efectivamente vivemos, não é o que a física, a química, a matemática, nos descrevem, mas um imenso arsenal de bens e de males, com os quais edificamos a vida."

b) "Os valores, pois, são qualidades que atribuímos às coisas, mas que não estão nas coisas de modo real e sensível, como estão a figura, o peso, a cor, etc."

Os valores - Introdução

Axiologia




A axiologia é a disciplina filosófica que estuda os valores, também designada como filosofia dos valores.
Esta disciplina estuda um conjunto de problemas fundamentais para a compreensão de todos os fenómenos humanos, em especial os que se ligam aos campos da moral, da estética e da religião:

O que são os valores?
Qual a função dos valores?
Qual a origem dos valores?
Os valores são absolutos ou relativos?
Qual a relação entre os valores e a cultura?
Qual a origem da atual crise dos valores?

Estas são algumas das questões que exploram os principais problemas axiológicos.
_____

Axiológico é tudo aquilo que se refere a um conceito de valor.

O aspecto axiológico ou a dimensão axiológica de determinado assunto implica a noção de escolha do ser humano pelos valores morais, éticos, estéticos e espirituais.

A axiologia é a teoria filosófica responsável por investigar esses valores. Etimologicamente, a palavra "axiologia" significa "teoria do valor", sendo formada a partir dos termos gregos "axios" (valor) + "logos" (estudo, teoria).

Neste contexto, o valor, ou aquilo que é valorizado pelas pessoas, é uma escolha individual, subjetiva e produto da cultura onde o indivíduo está inserido.

De acordo com o filósofo alemão Max Scheler, os valores morais obedecem a uma hierarquia, surgindo em primeiro plano os valores positivos relacionados com o que é bom, depois ao que é nobre, depois ao que é belo, e assim por diante.

A ética e a estética estão vinculadas de forma intrínseca aos valores desenvolvidos pelo ser humano. A ética é um ramo da filosofia que investiga os princípios morais (bom/mau, certo/errado etc.) na conduta individual e social. A estética estuda os conceitos relacionados à beleza e harmonia das coisas.

Os gatos não têm vertigens



O filme e a crise (dos valores)

Os Gatos não têm Vertigens, onde assuntos sérios são tratados com uma leveza fluida, não se enquadra na categoria de comédia romântica, tão pouco de thriller. É uma história de vida, mais próxima de Jaime do que de Call Girl ou A Bela e o Paparazzo, até porque reincide na vasta temática da adolescência. O que o filme tem de melhor é a forma como evidencia, em pano de fundo e de forma absolutamente transversal, a questão da crise. Não é uma crise generalizada, é mesmo esta que os portugueses vivem e sofrem. Está presente nos pormenores, do vizinho que perde o emprego e é obrigado a voltar à terra, da casa que não se consegue vender, do talho que abre falência.

Essa crise é também um dos planos centrais da trama intergeracional: o rapaz abandonado por pai e mãe que não tem onde cair morto, a velhota abandonada pela família que faz de tudo para contornar a solidão. Lembra o audacioso programa que existe no Porto, em que idosos recebem estudantes universitários, alojamento em troca de companhia, um bom negócio para ambas as partes.

No plano exterior, em Os Gatos não têm Vertigens tudo rui. Sobretudo a família que está em crise, não só no sentido urbano pós-moderno - os pais não têm tempos para os filhos e mais tarde os filhos não têm tempo para os pais -, mas também no sentido trágico e 'neorrealista': o pai é bêbedo e dá pancada no filho, que rouba para viver numa delinquência forçada e vai parar a um terraço onde Rosa a trata como um gato.

Não obstante estes ligeiros traços, não há qualquer proximidade com o neorrealismo (nem o do cinema italiano, nem o mais recente do cinema romeno, tão pouco do Cinema Novo onde as primeiras obras de António-Pedro se poderiam enquadrar). Porque o realizador faz questão de artificializar este mundo real, sacando-o do domínio palpável, pois só assim entra no território da fábula. E é isso que o filme é ou em que se transforma: um conto de fadas urbano, que envolve uma história de amor platónico (Rosa substitui o marido por Jô). E assim, o pesado contexto de crise (monetária e de valores) é tratado de forma leve, com uma moral positiva e fácil, indicando que por mais trágicos que sejam os factos, há sempre uma saída limpa. Os gatos não têm vertigens porque caem sempre de pé.

Manuel Halpern

Je Suis Charlie