quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

As Falácias


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Teste 2 - Matriz

O próximo teste sumativo será eminentemente prático, uma vez que nele será testado o domínio da teoria do silogismo.
O teste terá a seguinte composição:
Grupo I - Itens de escolha múltipla;
Grupo II - Itens de análise de silogismos; Itens de construção de silogismos; Itens de resolução de problemas com base em silogismos;
Grupo III - 2 questões de resposta orientada.
_____

Objectivos / Conteúdos: 
1. Definir conceito;
2. Distinguir a extensão da compreensão dos conceitos;
3. Classificar os conceitos quanto à extensão (à quantidade);
4. Definir juízo;
5. Identificar a forma lógica dos juízos categóricos (das proposições predicativas categóricas);
6. Reduzir enunciados à forma normal predicativa;
7. Identificar os diversos tipos de proposição (A;E;I;O) atendendo à sua forma lógica;
8. Identificar as situações em que os termos estão distribuídos (ocorrem na sua máxima extensão), tendo em conta a regra da distribuição dos termos;
9. Definir silogismo categórico;
10. Identificar os elementos do silogismo a partir da análise da definição de silogismo categórico (termo médio; termo menor e termo maior);
11. Analisar os silogismos quanto ao modo;
12. Reconhecer as figuras do silogismo;
13. Aplicar as regras de validade silogística;
14. Construir silogismos;
15. Reparar silogismos;
16. Distinguir validade e verdade;
17. Distinguir validade dedutiva e validade indutiva;
18. Definir e caracterizar a lógica informal;
19. Distinguir lógica formal de lógica informal;
20. Relacionar a lógica com a filosofia;
21. Definir a argumentação;
22. Distinguir demonstração de argumentação;
23. Distinguir a argumentação convincente da argumentação persuasiva;
24. Distinguir auditório universal de auditório particular;
25. Articular os conceitos de Ethos; Pathos e Lógos;
26. Compreender as principais qualidades de um bom orador;
27. Identificar argumentos sólidos;
28. Identificar argumentos cogentes;
29. Compreender os critérios da cogência;
30. Relacionar a argumentação com a filosofia;
31. Definir a retórica;
32. Relacionar a retórica com a filosofia;
33. Caracterizar os sofistas;
34. Explicar  o conflito entre os filósofos e os sofistas na Grécia antiga;
35. Relacionar o nascimento da retórica com a emergência da democracia ateniense;
36. Caracterizar a democracia ateniense com base nos seus princípios fundamentais (Isonomia; Isocracia; Isegoria);
37. Analisar criticamente a democracia ateniense;
38. Compreender a importância dos sofistas nas sociedades gregas da antiguidade;
39. Comparar Sócrates com os sofistas;
40. Distinguir doxa e episteme;
42. Explicar a filosofia, na perspectiva socrática e platónica, como uma busca da verdade;
43. Explicar a crítica de Platão ao regime democrático.
44. Definir o conceito de falácia;
45. Distinguir paralogismo e sofisma.
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No teste não será necessário o uso de folha de teste.
O teste terá a duração de 90 minutos.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A nova retórica: retórica e filosofia



"A argumentação filosófica apresenta-se como um apelo à razão, que eu traduzo na linguagem da argumentação, ou aquela da nova retórica, como um discurso que se dirige ao auditório universal. Uma argumentação racional caracteriza-se por uma intenção de universalidade, ela visa convencer, ou seja, garantir a adesão de um auditório que, na mente do filósofo, encarna a razão."Perelman

Ao conceber a própria razão como um auditório, a tese de que a filosofia pode ser compreendida como um discurso dirigido a um auditório ganha sustentação. Segundo Perelman, os filósofos teriam-se, ao pretenderem apelar à razão, explícita ou implicitamente dirigido ao auditório universal. A argumentação filosófica, que se pretende racional e universal, difere das demais argumentações humanas não pela ausência do elemento retórico.
O facto de a razão ter sido considerada, ao longo da tradição ocidental, uma faculdade humana inata, iluminada por Deus, determinou, em grande medida, a rejeição da retórica. Perelman reconhece que os filósofos procuraram, quase sempre, negar que visavam convencer algum auditório com a sua argumentação. 
Querer adaptar-se a um auditório convinha ao sofista, ao demagogo, ao retórico, e não ao filósofo sério, que deveria estar preocupado com a verdade, e não com a eficácia da sua argumentação. Em vez da adesão de um auditório, os filósofos preferiram buscar uma espécie de ascese, para melhor atingir a verdade. 
Em vez de opor filosofia e retórica, Perelman sustenta que a filosofia também pode ser compreendida retoricamente. Mas isso não significa que devamos abrir mão da ideia de razão e da pretensão de universalidade. Isso acontece porque, para Perelman, a argumentação filosófica difere dos outros argumentos retóricos por causa do auditório ao qual ela se dirige. 
Em vez de um discurso ad hominem, o filósofo  dirige-se a toda humanidade e o seu discurso é antes ad humanitatem, através de uma argumentação que, segundo Perelman, pode-se qualificar de racional.
ALVES, Marco Antônio Sousa.-A nova retórica de Chaïm Perelman: considerações sobre a racionalidade, atensão decisionismo/legalismo, e o Estado Democrático de Direito. Trabalho apresentado no SeminárioTeoria da Argumentação e Nova Retórica, PUC-MG, Belo Horizonte, 2009. Disponível em:

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Argumentos sólidos e argumentos cogentes



Um argumento sólido é um argumento válido com premissas verdadeiras. vejamos o exemplo de um argumento obviamente mau, mas sólido:

Sócrates não era engenheiro.
Logo, Sócrates não era engenheiro.

Isto mostra que não basta um argumento ser válido e ter premissas verdadeiras para ser bom. Uma terceira condição para que um argumento seja bom é ter premissas mais plausíveis do que a conclusão. É isso precisamente que não acontece nos argumentos circulares.

O que é ser mais ou menos plausível? É o que um agente encara como mais ou menos provável, em função do seu estado cognitivo — isto é, em função das suas restantes crenças. Trata-se de uma noção epistémica (está ligada ao conhecimento), ao passo que a verdade é uma noção metafísica (está ligada à estrutura do real): a plausibilidade é relativa aos agentes, mas a verdade não. É verdade que a Terra se move ou não, independentemente do que as pessoas pensam sobre isso; mas um agente pode estar num estado cognitivo que não lhe permita saber que a Terra se move, e que lhe dê até boas razões para pensar que não se move.
Argumentar sem atender ao estado cognitivo das pessoas com quem argumentamos é perder tempo. Pois se não partirmos de premissas que tais pessoas considerem plausíveis, e mais plausíveis do que as conclusões a que desejamos chegar, os argumentos não persuadem — pois essas pessoas irão sempre rejeitar as premissas. Assim, argumentar é partir do que as pessoas consideram plausível e concluir validamente o que elas não aceitavam antes da nossa argumentação. Imaginemos duas pessoas a discutir a questão de saber se ter fé em Deus é racional na ausência de provas da existência de Deus. Para que esta discussão seja profícua é necessário que os argumentos usados por qualquer das partes se baseiem exclusivamente no que a outra parte considera plausível. Dito de forma mais clara: se eu sou crente e quero argumentar, perante um ateu, que a fé é racional na ausência de provas, só posso usar premissas que o ateu com quem estou a discutir considere plausíveis.


Concluindo, estas são as três condições necessárias da boa argumentação

1. usar argumentos válidos
2. usar premissas verdadeiras;
3. usar premissas mais plausíveis do que a conclusão

Chama-se “argumentos cogentes” aos que reúnem as três condições. 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A Retórica

A Retórica
Na antiguidade o campo da lógica informal foi ocupado pela retórica.
A retórica era cultivada como a arte da eloquência, ou seja como um conjunto de técnicas que visavam persuadir ou convencer um auditório através do discurso.
A retórica nasceu da necessidade de resolver conflitos através da argumentação: nos tribunais e nas assembleias políticas e o seu aparecimento é um verdadeiro progresso civilizacional na Grécia antiga, porque permitiu que o debate substituísse a violência quando estavam em causa conflitos de interesse que excitavam as paixões dos envolvidos.
Cedo se formou um grupo de cultores da retórica, os sofistas. Estes foram durante muito tempo os principais educadores das elites das grandes cidades gregas e em especial de Atenas, o berço da democracia.
Sócrates e Platão entraram em conflito aberto com os sofistas acusando-os de  praticarem a retórica como uma arte da ilusão e da manipulação, uma fonte de perversão que urgia combater sem vacilar.
Para estes filósofos a busca da verdade e a consequente libertação dos homens da ignorância e da superstição era uma das principais metas da filosofia. 
Os sofistas, por sua vez, visavam que os seus discursos fossem eficazes, ou seja, que produzissem efeitos políticos que, no fundo, permitissem exercer um poder efetivo sobre os cidadãos. Por isso defenderam uma ética relativista e pragmática: o bom deve estar submetido ao útil (pragmatismo) e o saber vale pelos seus efeitos práticos, pelo que não existe nenhum saber superior à opinião (doxa) e entre as opiniões vence a que for aceite pelo público, ou seja, a que for melhor defendida.
É neste contexto que se dá o julgamento de Sócrates que teve como desfecho a sua condenação à morte.





Depois deste conflito entre Platão (e Sócrates) e os sofistas, Aristóteles procede a uma verdadeira reabilitação filosófica da retórica. Na sua obra Retórica, procede a uma sistematização do campo temático desta disciplina, procurando apresentá-la como um complemento da Lógica e afastando-a do domínio da manipulação sofística.

"Para muitos, a retórica pouco mais é do que mera manipulação linguística, ornato estilístico e discurso que se serve de artifícios irracionais e psicológicos, mais propícios à verbalização de discursos vazios de conteúdo do que à sustentada argumentação de princípios e valores que se nutrem de um raciocínio crítico válido e eficaz. Mas a restauração da retórica ao seu velho estatuto de teoria e prática da argumentação persuasiva como antiga e nova rainha das ciências humanas tem vindo a corrigir essa noção enganosa, revalorizando-a como ciência e arte que tão logicamente opera na interpretação dos dados que faz intervir no discurso, como psicológica e eficazmente se cumpre no resultante efeito de convicção e mobilização para a ação de um auditório através do discurso. 
No fundo, a retórica é um saber que se inspira em múltiplos saberes e se põe ao serviço de todos os saberes. E um saber interdisciplinar no sentido pleno da palavra, na medida em que se afirmou como arte de pensar e arte de comunicar o pensamento. E como saber interdisciplinar e transdisciplinar, a retórica está presente no direito, na filosofia, na oratória, na dialéctica, na literatura, na
hermenêutica, na crítica literária e na ciência.
A retórica é uma das artes práticas mais nobres, porque o seu exercício é uma parte essencial da mais básica de todas as funções humanas. Daí a especial atenção que Aristóteles lhe dedicou, corrigindo tendências sofísticas e codificando princípios metodológicos e técnicos que, com o evoluir da tradição,
se haveriam de consagrar num cânone retórico de grande fortuna e proveito.
Na retórica aristotélica nós encontramos o saber como teoria, o saber como arte e o saber como ciência; um saber teórico e um saber técnico, um saber artístico e um saber científico. 
No trânsito da antiga para a nova retórica, ela naturalmente transformou-se de arte da comunicação persuasiva em ciência hermenêutica da interpretação. O seu duplo valor como arte e ciência, como saber e modo de comunicar o saber, faz dela também um instrumento mediante o qual podemos inventar, reinventar e solidificar a nossa própria educação. O esforço transdisciplinar que hoje em dia se faz para melhor compreender o papel da retórica e da hermenêutica na crítica do texto filosófico e literário mostra-nos que estas são duas áreas do saber intrinsecamente ligadas à essência da praxis humana.
O justo relevo dado por Chaim Perelman à vertente argumentativa desta arte colocou mais uma vez a Retórica de Aristóteles na moda, e as traduções que dela se fazem sucedem-se em ritmo acelerado nas mais diversas línguas."
Manuel Alexandre Júnior, prefácio da obra de ARISTÓTELES, Retórica, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2005.

Deve-se confrontar esta apresentação com artigos/ documentos:
A emergência da Retórica
A argumentação filosófica e a busca da verdade
A Democracia Grega e o Movimento Sofista - Apresentação

Para mais informação sobre os sofistas, clique AQUI

O triângulo retórico


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Os sofistas





Quem eram os SOFISTAS?
Quanto aos sofistas, seria obrigatório considerar que este termo designa um antigo grupo de sábios que teve uma relevância inquestionável na sociedade grega em meados do século V a.C. Costuma-se afirmar que os sofistas eram dotados de uma notável capacidade retórica. No entanto, dada definição não chega a demonstrar claramente a real importância destes sábios. J. V. Luce chega a afirmar que o termo sophistes podia ser empregue com a mesma conotação, sem que com tal emprego incorresse em erro, para poetas, carpinteiros, médicos e estadistas.
Porém, mesmo diante desse pequeno impasse devemos lembrar que o termo sofista é, grosso modo, uma derivação do termo sophos, que significa “sábio, perito, especialista”. Em consonância com isso, cabe ainda informar que o poeta Ésquilo disse, certa vez, que “não é aquele que sabe muitas coisas que é sophos, mas aquele cujo conhecimento é útil”. Por esse prisma, é válido aceitar que, ao atingir-se o real alcance da afirmação de Ésquilo, os Sofistas seriam, num sentido restrito, aqueles que são úteis à pólis – à cidade – já que a sua zona de ação estaria de acordo com os interesses práticos da sociedade, ou seja, agiriam sempre com vista a um conhecimento útil. Não se conformavam ao meramente abstrato, ao que não tivesse fins políticos claros.
Tal carga semântica referente à utilidade atribuída à prática dos Sofistas é perceptível quando se assevera que já em meados do século V a.C estes eram conhecidos como 'professores' errantes que viajavam de cidade em cidade oferecendo cursos de instrução numa grande variedade de assuntos. Precisamente por ter o seu campo de ação no âmbito do que fosse público é que os Sofistas conseguiram colocar-se numa posição de distinção no que se refere às consequências das ideias defendidas por eles:

"Não há outro movimento que se possa comparar com a Sofística quanto à duração das suas consequências. Não que, de um golpe, tenha modificado a vida cultural grega; antes, já vimos que os círculos afetados por ela ao princípio eram de certa maneira restritos. Mas o mundo de ideias que ela fez desintegrar nunca mais voltou a formar uma verdadeira unidade, e as perguntas que formulava, as dúvidas que suscitava, não puderam ser silenciadas [...]. (LESKY, História da literatura grega." Tradução Manuel Losa. 3.ed. Lisboa, Calouste Gumbenkian, 1995, p.317)

Diante disso, é inegável a importância e a repercussão dos Sofistas não apenas para a filosofia, mas para os diversos aspectos sociais envolvidos no domínio sofístico.
Não obstante, ao longo da história ocidental, o termo 'sofista' ganhou um sentido pejorativo. E tal conotação pejorativa começou a ganhar notoriedade  ainda na Antiguidade. Desta forma, se antes sábio e sofista foram termos sinonímicos, já no século V a.C. a palavra 'sofista' passou a designar aquele que convence por meio de sofismas. 
O sofisma, a rigor, seria um argumento não conclusivo, mas, que a despeito de sua imprecisão, utilizaria elucubrações pouco louváveis, que teriam por intuito apenas fins meramente retóricos. .
Os sofistas, principalmente por causa da visão socrático-platónica, estariam inexoravelmente no âmbito da relatividade e do subjetivismo. Nesse sentido, tal relatividade e subjetivismo concorreriam para que as dúvidas se tornassem mais arraigadas no inconsciente coletivo, como dogmas inquestionáveis, ou pseudo-sofia, já que, de acordo com os detratores dos sofistas, a pretensão de alcançar uma certeza não teria relevância alguma para estes últimos. Esta característica conflituaria com a busca da verdade, tão em voga na filosofia grega. 
Decerto, este último atributo foi provavelmente o mais forte para caracterizar o tom pejorativo, muitas vezes de ofensa, atribuído ao termo sofista.
No entanto, mesmo as críticas socrático-platónicas deixam a desejar ao não perceberem que essa espécie de relativismo, defendido pelos Sofistas, tinha como consequência lógica o entendimento de que a verdade para eles significava algo que, por excelência, era pragmático ou que fosse útil a um indivíduo ou a comunidade.
Luiz Roberto Alves dos Santos, "Ética Sofística: o Papel Educativo da Relativização dos Valores"
(Texto adaptado).

Os sofistas
O movimento sofístico surge na Grécia no século V a.C. e deve ser compreendido como um movimento que responde às necessidades de ampliar e renovar as estruturas sócio-político-culturais da época, proporcionando aos jovens uma nova educação, centrada principalmente no domínio da linguagem e do discurso. São professores no sentido político e o seu ensino dirige-se aos jovens que querem aceder a posições políticas importantes, ligando-se, por isso, à arte de viver e de governar. São técnicos de retórica.
Praticam o método antilógico ou a antilogia. Este método antilógico ou antilogia consiste no seguinte exercício: dar ao aluno a tarefa de defender uma tese, ou uma causa, fazendo-o desenvolver toda a argumentação a seu favor. Depois, pedir ao mesmo aluno que, relativamente a essa tese ou causa, desenvolvesse uma argumentação inversa, isto é, de ataque, que a deitasse por terra. Com este método, os sofistas procuravam fomentar o espírito e a capacidade de argumentar. O ensino sofístico encontrava-se essencialmente ligado à argumentação e à retórica ou, mais precisamente, à capacidade de usar a palavra e de fazer discursos persuasivos e convincentes, discursos que permitissem que quem os fizesse atingisse os objetivos perseguidos.
Contudo, a par dos partidários e entusiastas deste tipo de ensino, cedo surgiram, por parte dos filósofos, fortes críticas e acusações à pedagogia com que eles procuravam formar a juventude. Esta crítica acabou por dar dos sofistas a imagem de 'filósofos malditos' e de os lançar no descrédito.
No entanto, há que assinalar a importância dos sofistas dizendo que o grande legado que eles nos deixaram se pode resumir na valorização da palavra, do discurso e do diálogo como forma de regulação da vida dos homens e como arma e instrumento fundamental nos jogos de poder com que a todo o momento a vida em sociedade nos confronta , a crença na capacidade dos homens substituírem, nas suas relações, o regime de força e de violência por um regime da persuasão, a ideia de que o estabelecimento de uma comunidade entre pessoas humanas se funda não na imposição dogmática, mas na capacidade das pessoas falarem, debaterem e ouvirem-se umas às outras, numa palavra, a convicção de que a resolução dos problemas humanos só encontra uma solução humana se mediada pela linguagem e pelos poderes dialógicos - eis o grande legado que os sofistas nos deixaram.
Rui Alexandre Grácio, Vocabulário crítico de argumentação, Grácio Editor, Coimbra, 2013, pp. 121-122.

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Consultar também:
A importância dos sofistas
"O Elogio a Helena" - Um exemplo da arte de discursar de Górgias

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A lógica Informal: o domínio da argumentação


Introdução

A importância da lógica para a Filosofia
A lógica desempenha dois papéis na filosofia: clarifica o pensamento e ajuda a evitar erros de raciocínio. A filosofia ocupa-se de um conjunto de problemas. Os filósofos, ao longo da história, têm dado resposta a esses problemas, tentando solucioná-los. Para isso, apresentam teorias e argumentos. A lógica permite assumir uma posição crítica perante os problemas, as teorias  e os argumentos da filosofia:
1. A lógica permite avaliar criticamente os problemas da filosofia. Se alguém quiser reflectir sobre o problema de saber por que razão a cor azul dos átomos verdes é tão estridente, o melhor a fazer é mostrar que se trata de um falso problema. Para isso são necessários bons argumentos; não basta afirmar que se trata de um falso problema.
2. A lógica permite avaliar criticamente as  teorias dos filósofos. Será que uma dada teoria é plausível? Como poderemos defendê-la? Quais são os seus pontos fracos e quais são os seus pontos fortes? E porquê?
3. A lógica permite avaliar criticamente os  argumentos dos filósofos. São esses argumentos bons? Ou são erros subtis de raciocínio? Ou baseiam-se em premissas tão discutíveis quanto as suas conclusões?
A lógica representa para a filosofia o que o laboratório representa para o cientista empírico: é o palco onde as ideias se testam e avaliam criticamente. Sem esta atitude crítica não há atitude filosófica. Logo, sem lógica não pode haver uma verdadeira atitude filosófica.
Desidério Murcho “O lugar da lógica na filosofia”, Plátano Editora





A Lógica Informal
A Lógica Informal é uma tentativa de desenvolver uma lógica que possa ser usada para avaliar, analisar e aprimorar os raciocínios informais que ocorrem nas relações interpessoais, na publicidade, nos debates políticos, nos argumentos legais e nos comentários sociais encontrados nos jornais, na televisão, na Internet e noutras formas de comunicação de massa.
Em muitos casos o desenvolvimento da lógica informal motiva-se pelo desejo de desenvolver um modo de análise e avaliação do raciocínio comum que seja capaz de se tornar parte do ensino geral, e de compor e aprimorar o raciocínio público, a discussão e o debate. Neste sentido, os interesses da lógica informal têm grande proximidade com os interesses do Movimento Pelo Pensamento Crítico, cujo objetivo consiste em desenvolver um modelo de ensino que dê maior ênfase à investigação de caráter crítico.
O campo da lógica informal consiste no seguinte:

1. uma explicação das regras de comunicação de que depende o intercâmbio argumentativo;

2. uma distinção entre tipos diferentes de diálogos em que os argumentos possam ocorrer, e os modos pelos quais eles determinam os movimentos adequados e inadequados na argumentação (por exemplo, as diferenças entre a discussão científica e a negociação que caracteriza os acordos coletivos);

3. a avaliação da consequência lógica, que explica quando se pode dizer que uma frase é consequência lógica de outra, e o que isto significa;

4. critérios gerais para o bom argumento que podem estar associados à teoria da consequência lógica, e que especificam os critérios gerais dos argumentos dedutivos, e indutivos;

5. definições de esquemas argumentativos positivos que circunscrevem bons padrões de raciocínio (apelos razoáveis à autoridade, ataques razoáveis contra a pessoa, etc.);

6. algumas explicações teóricas das falácias e do papel que elas podem (e não podem) ter na compreensão e avaliação de argumentos informais;

7. uma explicação do papel que o auditório (pathos), o orador (ethos) e outras noções retóricas deveriam ter ao analisar e avaliar argumentos;

8. uma explicação das obrigações dialéticas que a argumentação comporta em certos contextos específicos.

Demonstração e argumentação
Na lógica moderna, oriunda de uma reflexão sobre o raciocínio matemático, os sistemas formais já não são correlacionados com uma evidência racional qualquer. O lógico é livre para elaborar como lhe melhor lhe parecer a linguagem artificial do sistema que constrói, para determinar os signos e combinações de signos (símbolos) que poderão ser utilizados. Cabe-lhe decidir quais são os axiomas, ou seja, as expressões sem prova consideradas válidas no seu sistema, e dizer quais são as regras de transformação por ele introduzidas e que permitem deduzir, das expressões válidas, outras expressões igualmente válidas no sistema. A única obrigação que se impõe ao construtor de sistemas axiomáticos formalizados e que torna as demonstrações coercivas é a de escolher signos e regras que evitem dúvidas e ambiguidades. Cumpre que, sem hesitar e mesmo mecanicamente, seja possível estabelecer se uma sequência de signos é admitida no sistema, se ela tem forma igual a outra sequência de signos, se é considerada válida, por ser um axioma ou uma expressão dedutível, a partir dos axiomas, de um modo conforme às regras de dedução. 
A busca da univocidade indiscutível chegou a levar os lógicos formalistas a construírem sistemas nos quais não há preocupação com o sentido das expressões: ficam contentes se os signos introduzidos e as transformações que lhes dizem respeito ficam fora de discussão. Deixam a interpretação dos elementos do sistema axiomático para os que o aplicarão e terão de se preocupar com sua adequação ao objetivo pretendido.
Quando se trata de demonstrar uma proposição, basta indicar mediante que procedimentos ela pode ser obtida como última expressão de uma sequência dedutiva, cujos primeiros elementos são fornecidos por quem construiu o sistema axiomático dentro do qual se efetua a demonstração. De onde vêm esses elementos, sejam eles verdades impessoais, pensamentos divinos, resultados de experiência ou postulados peculiares ao autor, eis questões que o lógico formalista considera alheias à sua disciplina. 
Mas, quando se trata de argumentar, de influenciar, por meio do discurso, a intensidade de adesão de um auditório a certas teses, já não é possível menosprezar completamente, considerando-as irrelevantes, as condições psíquicas e sociais sem as quais a argumentação ficaria sem objeto ou sem efeito.
Pois toda argumentação visa a adesão dos espíritos e, por isso mesmo, pressupõe a existência de um contacto intelectual.
Para que haja argumentação, é necessário que, num dado momento, se realize uma comunidade efetiva dos espíritos. É preciso que se esteja de acordo, antes de mais nada e em princípio, sobre a formação dessa comunidade intelectual e, depois, sobre o facto de se debater uma questão determinada.  
Perelman, Tratado da Argumentação. A Nova Retórica.Tradução Maria Ermantina Galvão G. Pereira,São Paulo, Martins Fontes, 1996. Primeira parte, §1






terça-feira, 12 de novembro de 2013

Teoria do Silogismo

O silogismo Categórico

Definição de Silogismo Categórico -  O silogismo categórico é uma inferência dedutiva, composta por três proposições categóricas - duas premissas e a conclusão – construídas com base em três termos e só três termos, dois dos quais - o termo maior e o termo menor – ocorrem nas premissas e na conclusão. O terceiro termo – o termo médio – ocorre em ambas as premissas, não podendo ocorrer na conclusão. O termo maior é o predicado da conclusão; O termo menor é o sujeito da conclusão. À premissa onde ocorre o termo maior, chama-se premissa maior; À premissa onde ocorre o termo menor, chama-se premissa menor. O silogismo tem a seguinte estrutura:










Regras de validade silogística

Regras para os termos

O silogismo tem três termos e só três termos.
2
Nenhum termo pode estar distribuído na conclusão sem o estar nas premissas.
3
O termo médio tem que estar distribuído pelo menos uma vez.
4
O termo médio não pode ocorrer na conclusão.
Regras para as proposições
5
De duas premissas afirmativas não se pode tirar uma conclusão negativa.
6
De duas premissas negativas nada se pode concluir.
7
A conclusão segue sempre a parte mais fraca: se uma das premissas é particular, a conclusão é particular; Se uma das premissas é negativa, a conclusão é negativa.
8
De duas premissas particulares nada se pode concluir.


As figuras do silogismo
Como existem quatro tipos de proposição (A;E;I e O), o termo médio pode ocorrer no silogismo em quatro posições diferentes, o que vai ter consequências ao nível da posição dos termos maior e menor e, também, no tipo de proposição que pode ocorrer em cada uma dessas quatro configurações do silogismo para que o mesmo seja válido, ou seja, não viole nenhuma das regras de validade silogística. A essas quatro configurações chama-se figuras do silogismo: 

As Figuras do Silogismo 
1ª Figura
SP
2ª Figura
PP
3ª Figura
SS
4ª Figura
PS
       M P
     S M
________________
       S P 

           P M
         S M
________________
        S P 
        M P
    M  S
_____________
     S P
    P M
   M S
______________
    P


Para além das quatro figuras do silogismo, temos ainda que considerar, no que respeita à configuração dos silogismos, a forma como os diversos tipos de proposição ocorrem no silogismo: a isto chama-se modo do silogismo. Torna-se assim possível analisar a estrutura formal de um silogismo e decidir da sua validade formal, atendendo apenas à sua figura e ao seu  modo.

Atendendo à combinação dos diversos elementos relativos à figura e ao modo do silogismo, chegamos à conclusão de que existem 256 silogismos possíveis. Destes só são válidos 24 e como neste número se contam 5 silogismos redundantes (um silogismo redundante é um silogismo que tem uma conclusão particular, quando poderia ter uma conclusão universal), chega-se à conclusão de que só existem 19 silogismos úteis, ou seja, com força demonstrativa.



Os Modos Válidos do Silogismo 
1ª Figura

AAA
EAE
AII
EIO
Redundantes:
AAI
EAO
2ª Figura

EAE
AEE
EIO
AOO
Redundantes:
EAO
AEO

3ª Figura

AAI
EAO
IAI
AII
OAO
EIO

4ª Figura

AAI
AEE
IAI
EAO
EIO
Redundante:
AEO

Fichas: