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quinta-feira, 21 de abril de 2016

Validade e solidez dos argumentos


Comecemos com o termo «válido». Na linguagem quotidiana, as pessoas falam de alguém ter uma opinião válida ou de ter afirmações válidas. No discurso filosófico, contudo, o termo «válido» não se aplica a opiniões, nem a frases, nem a ideias. O termo válido é exclusivamente reservado à avaliação de argumentos. Só os argumentos podem ser válidos. Apesar de contrariar uma forma de falar e de pensar, até aqui não há problemas de maior. Trata-se de respeitar a linguagem técnica própria de cada disciplina. Contudo, os problemas começam quando apresentamos exemplos de argumentos válidos tais como este:
Qualquer fatia de queijo é mais inteligente do que um estudante de filosofia
O meu gato é uma fatia de queijo
Logo, o meu gato é mais inteligente do que um estudante de filosofia
Trata-se de um argumento completamente disparatado mas, apesar disso, do ponto de vista estritamente lógico, é um exemplo perfeito de argumento válido. O que se passa?

Definindo validade dedutiva
A validade é uma propriedade de argumentos bem construídos. No caso dos argumentos dedutivos - os mais usados em filosofia – a conclusão é apresentada como consequência necessária das premissas.
O que é intrigante para muitas pessoas é que um argumento pode ser válido mesmo que as suas premissas e conclusão sejam todas falsas. A validade é essencialmente uma característica da forma ou estrutura de um argumento. Por isso mesmo, no que respeita à validade, o conteúdo (a verdade ou a falsidade factual) das proposições que os compõem é irrelevante.
Consideremos a estrutura. O argumento que apresentámos sobre gatos, queijo e estudantes de filosofia é um exemplo de uma estrutura argumentativa com a forma:
Todos o A são B
(Qualquer fatia de queijo é mais inteligente do que um estudante de filosofia)
C é A
(O meu gato é uma fatia de queijo)
Logo, C é B
(Logo, o meu gato é mais inteligente do que um estudante de filosofia)
 No nosso exemplo, fatia de queijo é substituída por A e seres que são mais inteligentes do que qualquer estudante de filosofia é substituída por B.O meu gato é um termo substituído por C.
O que se deve notar é que não é preciso atribuir nenhum significado a estas variáveis para ver que este argumento temforma válida ou seja que é correcto. Sejam quais forem os termos que usemos para substituir aquelas variáveis a conclusão será sempre uma consequência necessária das premissas seconsiderarmos as premissas verdadeiras (embora não o sejam neste caso).A conclusão, correctamente obtida, só pode ser também verdadeira.
A noção de validade é neutral a respeito do conteúdo das proposições de um argumento. Não interessa qual é o conteúdo das proposições do argumento, não interessa o seu valor de verdade. Quando se trata da validade o que importa é a correcção lógica na ligação entre premissas e conclusão. O nosso exemplo é o de um argumento perfeitamente válido: se as suas premissas ridículas forem consideradas verdadeiras, a sua ridícula conclusão também terá de ser verdadeira porque da verdade (suposta ou factual) não pode logicamente derivar a falsidade. Que premissas e conclusão sejam ridículas não impede em nada que o argumento seja válido, bem construído. 

Argumentos sólidos ou bons
É evidente que em filosofia, nas ciências e noutras áreas do saber pretendemos mais do que rigor lógico do pensamento. Queremos argumentos bons com premissas e conclusão de facto verdadeiras ou pelo menos muito credíveis.
Dizer que um argumento é válido não significa dizer que é sólido. Estamos perante um argumento sólido quando e só quando (1) o argumento é válido e (2) as premissas são de facto verdadeiras (e por conseguinte, a conclusão também é verdadeira). Podemos colocar esta explicação sob a forma de um argumento condicional. Dizer que um argumento é sólido é dizer duas coisas que podem ser entendidas como premissas:
1)      Se as premissas do argumento são ditas verdadeiras, então a conclusão tem de ser verdadeira. (significa que o argumento é válido)
2)      As premissas do argumento são de (facto) verdadeiras.
3)      Por conseguinte a conclusão do argumento é verdadeira.

A importância da validade

Um argumento só é sólido se for válido mas ser válido não é suficiente para ser sólido. Um argumento para ser sólido tem de ser válido e também constituído por premissas de facto verdadeiras.
Apesar do que dissemos, há quem se interrogue sobre a grande importância atribuída à validade. No fim de contas, dirão alguns, um argumento válido pode ser absurdo no seu conteúdo e falso na sua conclusão. Na verdade, a solidez é o que realmente procuramos num argumento. Fixa, contudo, que a validade é um componente indispensável da solidez: não há solidez sem validade».
Baggini,Julian e S.Fosl,Peter, The philosopher’s toolkit,Blackwell,pp12-14.
Texto copiado daqui.

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Ver também:

terça-feira, 13 de outubro de 2015

A definição de Argumento





quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Argumentos sólidos e argumentos cogentes



Um argumento sólido é um argumento válido com premissas verdadeiras. vejamos o exemplo de um argumento obviamente mau, mas sólido:

Sócrates não era engenheiro.
Logo, Sócrates não era engenheiro.

Isto mostra que não basta um argumento ser válido e ter premissas verdadeiras para ser bom. Uma terceira condição para que um argumento seja bom é ter premissas mais plausíveis do que a conclusão. É isso precisamente que não acontece nos argumentos circulares.

O que é ser mais ou menos plausível? É o que um agente encara como mais ou menos provável, em função do seu estado cognitivo — isto é, em função das suas restantes crenças. Trata-se de uma noção epistémica (está ligada ao conhecimento), ao passo que a verdade é uma noção metafísica (está ligada à estrutura do real): a plausibilidade é relativa aos agentes, mas a verdade não. É verdade que a Terra se move ou não, independentemente do que as pessoas pensam sobre isso; mas um agente pode estar num estado cognitivo que não lhe permita saber que a Terra se move, e que lhe dê até boas razões para pensar que não se move.
Argumentar sem atender ao estado cognitivo das pessoas com quem argumentamos é perder tempo. Pois se não partirmos de premissas que tais pessoas considerem plausíveis, e mais plausíveis do que as conclusões a que desejamos chegar, os argumentos não persuadem — pois essas pessoas irão sempre rejeitar as premissas. Assim, argumentar é partir do que as pessoas consideram plausível e concluir validamente o que elas não aceitavam antes da nossa argumentação. Imaginemos duas pessoas a discutir a questão de saber se ter fé em Deus é racional na ausência de provas da existência de Deus. Para que esta discussão seja profícua é necessário que os argumentos usados por qualquer das partes se baseiem exclusivamente no que a outra parte considera plausível. Dito de forma mais clara: se eu sou crente e quero argumentar, perante um ateu, que a fé é racional na ausência de provas, só posso usar premissas que o ateu com quem estou a discutir considere plausíveis.


Concluindo, estas são as três condições necessárias da boa argumentação

1. usar argumentos válidos
2. usar premissas verdadeiras;
3. usar premissas mais plausíveis do que a conclusão

Chama-se “argumentos cogentes” aos que reúnem as três condições.