sábado, 14 de janeiro de 2017

O Libertismo


Os argumentos do Libertismo

O Libertismo é a perspectiva de que pelo menos algumas das nossas acções são livres porque, na verdade, não estão causalmente determinadas. Segundo esta teoria, as escolhas humanas não estão constrangidas da mesma forma que outros acontecimentos do mundo. Uma bola de bilhar, quando é atingida por outra bola de bilhar, tem de se mover numa certa direcção a uma certa velocidade. Não tem escolha. As leis causais determinam rigorosamente o que irá acontecer. Contudo, uma decisão humana não é assim. Neste preciso momento, o leitor pode decidir continuar a ler ou parar de ler. Pode fazer qualquer uma destas coisas e nada o faz escolher uma delas. As leis causais não têm poder sobre si. Isto não é muito plausível. Ainda assim, esta forma de pensar foi defendida por diversos filósofos e propuseram-se vários argumentos a seu favor. 


O argumento da experiência.

Podemos começar com a ideia de que sabemos que somos livres porque cada um de nós apercebe-se imediatamente de ser livre cada vez que faz uma escolha consciente. Pense novamente no que está a fazer neste momento: ler uma página que está diante de si. Pode continuar a ler ou parar de ler. O que irá fazer? Pense na sensação que tem agora, enquanto pondera estas opções. Não sente constrangimentos. Nada o impede de seguir numa direcção nem o força a fazê-lo. A decisão é sua. A experiência de liberdade, poder-se-á dizer, é a melhor prova que podemos ter.

Isto pode não parecer muito um argumento, dado que a sua «sensação de ser livre» pode ser uma ilusão. Talvez se sinta livre apenas porque não está consciente das forças causais em acção. Ainda assim, considere o seguinte: antes de rejeitarmos uma crença em que temos uma grande confiança, devemos dispor de provas da sua falsidade em que tenhamos ainda mais confiança. E podemos ter uma confiança na nossa experiência de liberdade maior do que a que poderemos ter em quaisquer argumentos contra o livre-arbítrio.

Na sua discussão com Boswell, Samuel Johnson avançou esta ideia quando disse: «Estás mais certo de poder levantar o teu dedo como te apetecer do que de qualquer conclusão de uma dedução ou raciocínio. (…) Toda a teoria está contra o livre-arbítrio; toda a experiência está a seu favor.» E a experiência, pensava o Dr. Johnson, é mais certa do que meras teorias.

Aqui a ideia geral pode ser inatacável. Quando temos experiência directa de uma coisa, devemos querer provas muito fortes antes de deixarmos de acreditar nela. No entanto, o problema é que as provas contra o livre-arbítrio tendem a destruir a confiança na nossa experiência. José Delegado descobriu que podia levar as pessoas a fazer coisas estimulando electricamente o seu cérebro, como olhar por cima do seu ombro, e que depois elas davam razões para o que tinham feito, como «Estava à procura da minha almofada». Os pacientes de Delegado, que não sabiam que o seu cérebro estava a ser estimulado, tinham experiência de que os seus movimentos eram voluntários. Talvez sejamos como eles. Que diferença existirá entre nós e eles, a não ser o facto de sabermos qual é, no contexto experimental, o acontecimento electroquímico que causa a acção, enquanto na vida quotidiana ignoramos o que está a acontecer no nosso cérebro?

O argumento de que o universo não é um sistema determinista

Isaac Newton
O Determinismo [...] não está de acordo com a ciência atual. No apogeu da física newtoniana, pensava-se que o universo funcionava rigidamente segundo leis causais. Acreditava-se que as Leis da Natureza eram leis causais que especificavam as condições em que um estado de coisas tinha de se seguir a outro - o movimento das bolas numa mesa de bilhar era um modelo para o universo inteiro. Porém, a física newtoniana foi substituída por uma imagem diferente do funcionamento do universo.

Segundo a mecânica quântica, uma das bases da física atual, as regras que governam o comportamento das partículas subatómicas são irredutivelmente probabilísticas. As leis da teoria quântica não nos dizem «Dado X, Y tem de se seguir»; dizem-nos antes «Dado X, há uma certa probabilidade de Y se seguir». Assim, as Leis da Natureza podem dizer-nos que, em certas condições, uma certa percentagem de átomos radioativos irá decair, mas não nos dizem que átomos irão decair, mas não nos dizem que átomos irão decair. O facto de que uma certa percentagem vai decai pode estar determinado, mas o facto de que uma átomo particular vai decair não está determinado.

Alguns cientistas acreditam, por razões filosóficas, que a teoria quântica tem de acabar por ser suplantada por uma teoria diferente, ainda desconhecida, que seja determinista. Consideram repugnante a ideia de que o universo opera segundo princípios de acaso. Einstein, que fez a célebre afirmação «Deus não joga aos dados com o universo», foi em desses cientistas. No entanto, não se entrevê nenhuma nova teoria e, tanto quanto sabemos, a teoria quântica está aí para ficar.

Significará isto que não precisamos de nos preocupar com o Determinismo? Por vezes, saúda-se a teoria quântica como uma boa notícia para o livre-arbítrio. Se nem tudo está casualmente determinado, diz-se, então afinal podemos ser livres, já que as nossas ações podem contar-se entre aquilo que não está determinado.

No entanto, a física quântica não ajuda muito a defender o livre-arbítrio. Afina, as implicações da indeterminação quântica para o comportamento humano são tão reduzidas que, na prática, não fazem a menor diferença. Comparemo-las com as implicações da teoria quântica para os computadores. Os outputs de um computador são determinados pelos seus inputs e pelo seu programa. A mecânica quântica não implica que devemos deixar de confiar nos computadores - as operações de um computador, mesmo que não estejam completamente determinadas, estão suficientemente perto disso para que não haja diferença. Continuamos a obter os outputs esperados, dados os inputs corretos e o programa correto. Poder-se-á dizer algo semelhante dos seres humanos, o que será suficiente para o Argumento Determinista.

O argumento de que não podemos prever as nossas próprias decisões

Um tipo de argumento diferente a favor, do Libertismo baseia-se na ideia de que tudo o que está causalmente determinado é previsível, pelo menos em princípio. Como é óbvio, algo pode estar determinado mas não ser previsível na prática em virtude de não termos conhecimento suficiente. A árvore que vejo da janela está cada vez mais inclinada e mais tarde ou mais cedo vai cair. Não posso prever quando ocorrerá a queda, pois não sei o suficiente, por exemplo, sobre a árvore, o solo ou a quantidade de chuva que teremos nos próximos dias. Mas se soubesse todas essas coisas e compreendesse perfeitamente as Leis da Natureza, poderia presumivelmente prever quando irá cair a árvore.

Se as ações humanas estão causalmente determinadas, então deve ser possível, em princípio, prevê-las da mesma forma. Precisamos apenas de conhecer os factos pertinentes sobre a pessoa, as suas circunstâncias e as leis causais relevantes.

Mas há aqui um problema. Isto parece plausível apenas se estivermos a prever o comportamento de outra pessoa. Suponha-se que o nosso amigo, João está a decidir se há-de aceitar um emprego noutra cidade. Se tivermos informação suficiente sobre ele - sobre os acontecimentos que ocorrem no seu cérebro, entre outras coisas -, poderemos ser
capazes de prever qual será a sua decisão e quando irá tomá-la. Poderemos dizer, por exemplo, que amanhã às 22:07 João irá decidir aceitar o emprego. Deste modo, saberíamos o que João iria fazer antes de ele ter agido. Até aqui tudo bem.

No entanto, as coisas são diferentes quando se trata de prever as nossas próprias decisões. Suponha que é a pessoa que está a tentar decidir se há-de aceitar o emprego fora da cidade. Se possuir toda a informação relevante sobre si próprio, será capaz de prever o que irá decidir? Conseguirá prever que irá continuar a deliberar até amanhã às 22:07, altura em que irá decidir aceitar o emprego? Esta é uma ideia estranha. Para começar, se souber à partida o que vai decidir, as suas deliberações podem terminar já. Por que razão há-de continuar a pensar se já sabe o que vai fazer? Mas, nesse caso, a previsão de que vai continuar a deliberar será falsa. Além disso, o leitor pode ser uma pessoa maliciosa que detesta ser previsível. Assim, seja qual for a conclusão atingida acerca do seu comportamento futuro, poderá fazer o contrário apenas para provar a falsidade da previsão. A previsão, poderemos dizer, derrota-se a si mesma. Isto parece mostrar que há uma grande diferença entre prever o comportamento humano e prever outros acontecimentos do mundo físico. Podemos resumir o argumento desta maneira:
  1. Se o comportamento humano está causalmente determinado, então é previsível em princípio.
  2. Mas uma previsão sobre o que alguém irá fazer pode ser contrariada se a pessoa cujo comportamento está a ser previsto souber qual é a previsão e escolher agir de outra forma.
  3.  Logo, nem todas as ações humanas são previsíveis em princípio.
  4. E, por isso, nem todas as ações humanas estão causalmente determinadas.

Este é um argumento inteligente, mas será sólido? Há vários problemas nele. A primeira coisa que podemos observar é que as pessoas por vezes prevêem as suas próprias decisões, sem que isso as impeça de continuar a deliberar. Isto está sempre a acontecer.

Podemos prever corretamente que vamos acabar por recusar o emprego por não ser especialmente atraente, sabendo que já recusámos empregos melhores fora da cidade. Apesar de sabermos isto, podemos continuar a ponderar a oferta.

No entanto, é verdade que uma previsão introduz um novo elemento na situação e as pessoas podem reagir-lhe. Mas isto não significa que o resultado não esteja determinado. Precisamos apenas de esclarecer o que significa «previsível» neste contexto.

Devemos distinguir dois tipos de previsibilidade:

      a)  Previsível por um hipotético observador ideal que permanece fora do sistema                 e observa os acontecimentos, mas não interfere neles.
       b) Previsível pelos seres humanos no mundo real.

O Determinismo implica a previsibilidade no sentido a), mas não no sentido b). Com isto em mente, consideremos o caso em que prevejo que uma pessoa irá fazer algo e ela faz o oposto só para me contrariar. 

A minha previsão pode revelar-se errada. Ainda assim, um observador ideal poderia saber exatamente o que ia acontecer, incluindo a minha previsão e a resposta maliciosa dessa pessoa.

Este argumento, então, não prova que o nosso comportamento não esteja determinado. Mas há mais um argumento para apreciar. 

O argumento da responsabilidade

O pressuposto de que temos livre-arbítrio está profundamente enraizado nas nossas formas habituais de pensar. Ao reagir a outras pessoas, não conseguimos deixar de as ver como autoras das suas acções. Consideramo-las responsáveis, censurando-as caso se tenham comportado mal e admirando-as caso se tenham comportado bem. Para que estas reacções estejam justificadas, parece necessário que as pessoas tenham livre-arbítrio.

Outros sentimentos humanos importantes, como o orgulho e a vergonha, também pressupõem o livre-arbítrio. Alguém que conquista uma vitória ou tem um sucesso num exame pode sentir-se orgulhoso, enquanto alguém que desiste ou faz batota pode sentir-se envergonhado. Porém, se as nossas acções se devem sempre a factores que não controlamos, os sentimentos de orgulho e de vergonha são infundados. Estes sentimentos são uma parte inescapável da vida humana. Assim, uma vez mais, parece inescapável que nos concebamos livres.

Podemos, portanto raciocinar desta forma:

Não conseguimos deixar de admirar ou de censurar as pessoas pelo que fazem, nem conseguimos deixar de, por vezes, sentir orgulho ou vergonha pelo que fazemos.

Estas reacções – admiração, censura, orgulho e vergonha – não seriam apropriadas se as pessoas não tivessem livre-arbítrio.

Logo, temos de acreditar que as pessoas têm livre-arbítrio.

Dado que temos de ter essa crença, temo-la de facto: as pessoas têm livre-arbítrio.
RACHELS, James, Problemas da Filosofia, 1ª edição, 2009. Lisboa: Edições Gradiva, pp. 183-191

O determinismo faz sentido?




Supõe que estás na bicha de uma cantina e que, quando chegas às sobremesas, hesitas entre um pêssego e uma grande fatia de bolo de chocolate com uma cremosa cobertura de natas. Escolhes o bolo.

No dia seguinte perguntas-te: “Podia ter comido antes o pêssego” Que quer dizer isto? E será verdade?

Havia pêssegos quando estavas na bicha da cantina: e tiveste oportunidade de ter tirado antes um pêssego. Mas não é apenas isso que queres dizer. Queres dizer que podias ter tirado o pêssego em vez do bolo. Podias ter feito algo diferente daquilo que realmente fizeste. Antes de te teres decidido, estava em aberto se havias de tirar fruta ou bolo, e foi apenas a tua escolha que decidiu qual dos dois havias de comer.

Quando afirmas “podia ter comido antes o pêssego”, queres dizer que isso dependia apenas da tua escolha?

Mas isto ainda não parece suficiente: Não queres apenas dizer que, se tivesses escolhido o pêssego, teria sido isso que terias comido. Quando dizes “podia ter comido antes o pêssego”, também queres dizer que podias tê-lo escolhido – não há aqui 'ses' nenhuns.

Mas que quer isto dizer?

Não pode ser explicado fazendo notar outras ocasiões em que de facto escolheste comer fruta. O que estás a dizer é que podias ter escolhido um pêssego em vez de bolo de chocolate naquele momento, tal como as coisas realmente eram. Pensas que podias ter escolhido um pêssego mesmo que todas as restantes coisas fossem exactamente da mesma maneira até ao momento em que de facto escolheste bolo de chocolate.

Esta é uma ideia de “pode” ou “poderia” que aplicamos só às pessoas (e talvez a alguns animais). Quando dizemos “o carro podia ter chegado ao cimo da colina”, queremos dizer que o carro tinha potência suficiente para chegar ao cimo da colina se alguém o tivesse conduzido até lá.

Até ao momento em que escolhes nada determina irrevogavelmente qual será a tua escolha. Escolher o pêssego continua a ser para ti uma possibilidade em aberto até ao momento em que de facto escolhes bolo de chocolate. A tua escolha não está determinada à partida.

Algumas coisas que acontecem estão determinadas à partida. Por exemplo, parece estar determinado à partida que o Sol se levantará amanhã a uma certa hora. O Sol não se levantar amanhã e continuar a noite não é uma possibilidade em aberto. Tal não é possível porque apenas poderia acontecer se a Terra parasse de rodar, ou se o Sol deixasse de existir, e não se passa nada na nossa galáxia que pudesse fazer com que qualquer destas coisas acontecesse. Se não existir qualquer possibilidade de a Terra parar ou de o Sol não estar lá, não há qualquer possibilidade de o Sol não se levantar amanhã.

O que queres dizer é que não havia processos ou forças a operarem antes de fazeres a tua escolha que tenham tornado inevitável o facto de teres escolhido bolo de chocolate.

Se, na verdade, estivesse realmente determinado à partida que irias escolher comer bolo, como podia simultaneamente ser verdade que podias ter escolhido comer fruta? A verdade é que nada te teria impedido de comer um pêssego se o tivesses escolhido em vez do bolo.

Mas estes 'ses' não são o mesmo que dizer apenas que podias ter escolhido um pêssego. Não poderias tê-lo escolhido a não ser que a possibilidade continuasse aberta até a fechares com a tua escolha do bolo.

Algumas pessoas pensam que nunca é possível fazermos qualquer coisa diferente daquilo que de facto fazemos neste sentido absoluto. Reconhecem que aquilo que fazemos depende das nossas escolhas, decisões e desejos e que fazemos escolhas diferentes em circunstâncias diferentes. Mas afirmam que, em cada caso, as circunstâncias que existem antes de agirmos determinam as nossas acções e tornam-nas inevitáveis. O total das experiências, desejos e conhecimentos de uma pessoa, a sua constituição hereditária, as circunstâncias sociais e a natureza da escolha com que a pessoa se defronta, em conjunto com outros factores dos quais pode não ter conhecimento, combinam-se todos para fazerem com que uma acção particular seja inevitável nessas circunstâncias.

A ideia não consiste em que podemos conhecer todas as leis do universo e usá-las para prevermos o que irá acontecer. Em primeiro lugar, não podemos conhecer todas as circunstâncias complexas que afectam uma escolha humana. Em segundo lugar, mesmo quando chegamos a saber alguma coisa acerca dessas circunstâncias e tentamos fazer uma previsão, isso já é uma alteração nas circunstâncias, o que pode alterar o resultado previsto. Mas a previsibilidade não é o que está em questão.

A hipótese é que existem leis da natureza, tal como aquelas que governam o movimento dos planetas, que governam tudo o que acontece no mundo.

Se isso é verdade, então mesmo quando estavas a decidir que sobremesa irias comer já estavas determinado pelos muito factores que operavam sobre ti e em ti que irias escolher o bolo, Não poderias ter escolhido o pêssego, apesar de pensares que podias fazê-lo: o processo de decisão é apenas a realização do resultado determinado no interior da tua mente.

Se o determinismo é verdadeiro para tudo o que acontece, já estava determinado antes de nasceres que havias de escolher o bolo. A tua escolha foi determinada pela situação imediatamente anterior, e essa situação foi determinada pela situação anterior a ela, e assim sucessivamente, até ao momento em que quiseres recuar.

Mesmo que o determinismo não seja verdadeiro para tudo o que acontece – mesmo que algumas coisas aconteçam simplesmente, sem serem determinadas por causas que já existiam – continuaria a ser significativo se tudo aquilo que fizemos estivesse determinado antes de o fazermos.

Algumas pessoas pensam que, se o determinismo é verdadeiro, ninguém pode ser razoavelmente elogiado ou condenado por nada, tal como a chuva não pode ser elogiada ou condenada por cair. Outras pessoas pensam que continua a fazer sentido elogiar as boas acções e condenar as más, ainda que elas sejam inevitáveis. Afinal de contas, o facto de alguém estar determinado à partida a comportar-se mal não quer dizer que não se tenha comportado mal. Se rouba os teus discos, isso revela falta de consideração e desonestidade, quer tenha sido determinado, quer não. Alem do mais, se não o condenarmos, ou talvez até se não o castigarmos, voltará, provavelmente a fazê-lo.

Por outro lado, se pensarmos que aquilo que fez estava determinado à partida, isso parece-se mais com o castigo de um cão que roeu o tapete. Não quer dizer que o consideramos responsável por aquilo que fez: estamos apenas a tentar influenciar o seu comportamento no futuro. Por mim, não penso que faça sentido condenar alguém por algo que lhe era impossível não fazer.

Muitos cientistas acreditam hoje que o determinismo não é verdadeiro para as partículas básicas da matéria. – que numa dada situação existe mais de uma coisa que um electrão pode fazer. Se o determinismo também não for verdadeiro para as acções humanas, talvez isso deixe algum espaço para o livre arbítrio e para a responsabilidade. E se as acções humanas, ou pelo menos algumas de entre elas, não estiverem determinadas à partida?

Mas o problema reside em que, se a acção não estava determinada à partida pelos teus desejos, crenças e personalidade, entre outras coisas, parece que foi apenas algo que aconteceu, sem qualquer explicação. Mas, nesse caso, como pode ter sido algo feito por ti?

A acção livre limita-se a ser uma característica básica do mundo e não pode ser analisada. Há uma diferença entre algo que aconteceu, sem uma causa, e uma acção que se limita a ser realizada, sem uma causa.

Portanto, talvez o sentimento de que podias ter escolhido um pêssego em vez de uma fatia de bolo seja uma ilusão filosófica, que não podia ser correcta, fosse qual fosse o caso.

NAGEL, Thomas, Que Quer Dizer Tudo Isto? – uma iniciação à filosofia, 2ª edição, 2007. Lisboa: Gradiva, pp. 46-55