quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O problema da Felicidade

A FELICIDADE É UM PROBLEMA FILOSÓFICO


1. A felicidade é um valor racional que se fundamenta em sentimentos de ordem e equilíbrio e em vivências harmónicas de carácter psíquico e social. Não em estados eufóricos e jubilosos momentâneos.

2. Só uma teoria filosófica pode responder à questão de saber o que é a felicidade, ou seja, apenas uma teoria argumentativa coerente e coesa, de carácter universal, vinculando todos os homens e todas as sociedades, pode dar conta de saber o que é a felicidade, não para este ou aquele, para esta ou aquela organização social, mas para a totalidade da humanidade.

3. Não para este ou aquele tempo, mas para o todo evolutivo da humanidade. Do mesmo modo, só a filosofia se encontra capacitada - pela própria natureza dos seus estudos e pelo seu alcance universal, reflector ao homem de todos os tempos, isto é, da humanidade - a integrar este conceito numa visão universal do homem. Uma ética humana, racional, não religiosa.

4. A felicidade é, assim, um problema filosófico, não de sociologia ou economia, ciências que teorizam aspectos parcelares da atividade humana, muito menos de ciência política, que teoriza os modos de organização do Estado com o objectivo de evitar um maior mal no seio da sociedade, e não a forma de generalização da felicidade entre os cidadãos.

5. A felicidade não é também um conceito da psicologia. A psicologia tem como objecto de estudo o comportamento, a mente e a personalidade individuais. A felicidade é um sentimento universal e complexo, que supera a experiência individual e conjuntural e se eleva a um estatuto de universalidade antropológica.

6. A psicologia responde à questão sobre a felicidade a partir da situação de ciência concreta, limitada ao tempo e aos estudos do psicólogo e ao espaço da pesquisa científica - ambos condicionados pelo atual modo de pensar individualista e hedonista.

7. A psicologia evidencia o que o homem é empiricamente falando, como age e reage a estímulos, como se comporta face a obstáculos e se organiza individual e socialmente, tendo em conta as suas necessidades e e as instituições sociais em que se integra.

8. A felicidade, mais do que um desejo, uma motivação, como limitadamente a explica a psicologia, é um valor racional, uma aspiração ideal, sentimentos racionalidade complexos, cruzamento de inúmeros estímulos, emoções, desejos, necessidades, atravessando simultaneamente todos os conceitos da psicologia e desta transbordando para a filosofia, único estudo que possui a cultura do passado e a visão geral para a definir como conceito central da ética. Neste sentido, para além dos estudos feitos pela psicologia (inquéritos circunstanciais sobre o que um número limitado de indivíduos, focalizados num tempo e num espaço particulares, pensa ser a felicidade), a felicidade estabelece o sentido último unificante de todos os estudos de psicologia, a todos enlaçando de um modo substancial, isto é, filosófico.

9. A felicidade é, assim, um conceito central da Ética, porventura superior, já que estabelece e orienta a prática do Bem. Deste modo, enquanto conceito supremo da vida ética, todos os outros se lhe submetem: o amor-próprio, o dever moral, o bem quotidiano, a liberdade, a justiça, a forma ética de vida... 

10. Neste sentido, a felicidade consiste no estado racional e sentimental superior da existência, reitor último e causa primeira dos comportamentos avulsos. Todos os nossos passos se orientam para a aquisição do estado de felicidade e dela só desistimos quando, por experiência quotidiana, constatamos não haver possibilidade de a conquistarmos ou atingirmos.
Miguel Real, Nova Teoria da Felicidade, Publicações D. Quixote, Alfragide, 2013, pp.25-28.


____Atividades:____________________
1. De acordo com o texto, o que é uma teoria filosófica? (deve responder por palavras suas, não se deve limitar a transcrever passagens do texto).
2. Porque é que a felicidade é um problema filosófico? Justifique.
3. Elabore um mapa conceptual interpretativo do texto.

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