sábado, 7 de fevereiro de 2015

A acção do homem sobre a Natureza






“Em virtude da sua vinculação ao mundo pela corporalidade e da sua diferença em relação ao mundo mediante a consciência‑liberdade, o homem está chamado  a exercer uma função exclusivamente sua a respeito do mundo: a transformação da natureza.   A presença do homem no mundo representa, pois, uma ativação das possibilidades escondidas da natureza, que leva a resultados que a natureza, por si só, não podia conseguir. Às ilimitadas potencialidades objectivas da natureza corresponde a ilimitada potencialidade projetiva do homem. E vice‑versa: à possibilidade ilimitada de criar o novo, própria do homem, corresponde a possibilidade ilimitada da natureza de ser transformada.
A função do homem a respeito do mundo apresenta‑se polifacetada. Um dos seus aspectos mais evidentes é o de transformar as coisas do mundo pelo trabalho, isto é, por meio da produção dos bens de que o homem necessita para a sua própria sobrevivência. Mas deve sobretudo notar‑se que a função do homem em relação ao mundo não se pode reduzir à produtividade mediante o trabalho. O homem é curioso em saber como é o mundo, em conhecer o enigma do mundo; simplesmente em conhecê‑lo por o conhecer. Deste desejo de saber brotaram e continuam a brotar as grandes descobertas que assinalam as etapas do progresso humano. Ao procurar conhecer como é o mundo, o homem busca também, e sobretudo, conhecer‑se a si próprio: progredindo no conhecimento do mundo, desenvolve as suas próprias capacidades de conhecer e atuar, e assim progride no conhecimento dele mesmo. Quanto mais senhor da natureza o homem se toma, tanto mais relevante se faz o porquê último da sua atividade e da sua existência no mundo; isto é, quanto mais o homem emerge sobre a natureza tanto mais se encontra a si mesmo perante a questão última: o porquê último do mundo e da relação "homem‑mundo", o porquê derradeiro do próprio homem.
Finalmente, não podem esquecer‑se outros aspectos fundamentais da função do homem relativamente ao mundo, diferentes do trabalho e mais criativos: a arte em todas as suas formas, a linguagem, a cultura, etc. São atividades em que o homem exprime a sua interioridade, fazendo da natureza mero instrumento expressivo da sua subjetividade, estas atividades provêm, sim, de uma necessidade do homem, mas de uma necessidade diversa das biológicas: da necessidade que o homem sente de expressar‑se a si próprio criando uma beleza irredutível à da natureza, uma linguagem de que a natureza carece, uma cultura feita à medida do homem. Tudo isto quer dizer que o resultado principal da ação do homem sobre o mundo é o progresso do homem enquanto homem, precisamente no que é específico do homem e o diferencia da natureza. O homem é capaz de mudar a sua própria relação com a natureza; crescendo no domínio dela, muda‑se a si mesmo.”

J. ALFARO



Atividades:
1.  Faça, por palavras suas, o resumo do texto (não deve ultrapassar as duzentas palavras).
2.   Comente a seguinte afirmação: “Às ilimitadas potencialidades objectivas da natureza corresponde a ilimitada potencialidade projetiva do homem. E vice‑versa: à possibilidade ilimitada de criar o novo, própria do homem, corresponde a possibilidade ilimitada da natureza de ser transformada.”
3.   Identifique e caracterize as diversas formas de relação do homem com o mundo (com a Natureza), presentes no texto.

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