domingo, 2 de outubro de 2016

As diversas ordens (tipos) de questões: exercício


Se me pergunto, “posso suicidar-me?”, a minha frase interrogativa pode revestir várias significações:

Questão de facto (f)
Se se trata-se de uma questão de facto, a resposta positiva é evidente, uma vez que eu tenho, de facto, essa possibilidade e, ao mesmo tempo, muitos meios ao meu dispor para o fazer (que vou inibir-me de discriminar). Uma questão de facto está relacionada com um fenómeno observável, ou com um conhecimento que se pode obter através dessa observação.

Questão de ordem técnica (t)
Se encarar a questão como tendo a ver com os meios para alcançar um objetivo, que se prendem com a eficácia, então estamos perante uma questão técnica, na qual não estará envolvido qualquer problema filosófico. Por exemplo, posso não poder suicidar-me se estiver paralisado e não tiver ao meu alcance um dispositivo técnico que me permita executar essa ação. Neste caso, como acontece com todas as questões de ordem prática, a questão só admite uma resposta.

Questão jurídica (j)
Se entendermos a questão como querendo referir-se ao que é legal – “a lei permite que me suicide?” – a resposta é negativa. Até a incitação ao suicídio é considerada um crime à luz da lei portuguesa.

Questão científica (c)
Se modificarmos um pouco a questão percebe-se melhor quando pode assumir uma aceção científica: “Em que condições os seres humanos se suicidam?”/ “O que pode levar um ser humano ao suicídio?” Estamos no campo da psicologia e da sociologia.

Questão religiosa (r)
Encarada como questão religiosa, ela procura saber se o suicídio está de acordo com os dogmas religiosos (os valores religiosos) que orientam a vida do sujeito que assim se interroga. Poucas religiões toleram o suicídio e sabendo quais os valores que são defendidos por uma determinada religião, pode responder-se, sem qualquer lugar para dúvida, a esta questão, no quadro dessa religião.

Questão filosófica (fil)
É filosófica toda a questão que coloca o problema do sentido, da finalidade, do valor, da legitimidade, de uma situação, de um fenómeno, ou de uma ação para o homem (para a razão humana/ o auditório universal) e que não pode reduzir-se à explicação científica dos factos ou à modificação técnica da realidade.
Assim, podemos colocar essa questão do ponto de vista ético: “Podemos (moralmente) suicidar-nos?”/ “Moralmente, temos o direito de nos suicidar?” E aqui o problema ganha uma ressonância muito diferente em relação aos exemplos anteriores. Em primeiro lugar, não é possível responder apenas com sim ou não, temos que argumentar a favor de uma tese (posição/ opinião fundamentada), porque não é possível dar uma resposta que seja aceite por todos os seres humanos, encarados como seres racionais. É racionalmente possível argumentar de forma fundamentada em favor de teses contrárias, pelo que estamos perante uma questão que se abre à discussão. De facto, ao longo da história da filosofia surgiram posições filosóficas a favor do suicídio e posições contra pelo que temos que analisar de forma cuidadosa os argumentos que os filósofos apresentam para sustentar uma ou a outra tese.

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Vamos agora tentar aplicar todas estas distinções:

Exercício:
De entre as quinze questões apresentadas, decida quais são:
     - de ordem filosófica (fil);
     - questões de facto (f); científicas (c); técnicas (t); jurídicas (j) ou religiosas (r).
Deve justificar com uma frase cada uma das suas escolhas, tendo em especial atenção aos casos em que atribui à mesma questão várias qualificações.


Questão
Categoria
(fil;f;c;t;j;r)
Justificação da escolha
1) Porque existe o mal?



2) Qual é a diferença salarial, em média, entre homens e mulheres?


3) Podemos aprender a lidar construtivamente com a morte?


4)O Rap e o Grafiti, podem ser considerados arte?



5) A quando da formação do universo, como se deu o Big Bang?


6) Como armazenar, de forma segura para o ambiente, os resíduos nucleares?


7) Porque é que as mulheres devem ser consideradas iguais aos homens?


8) Qual foi o filósofo que disse: “Só sei que nada sei?”


9) Como ser feliz?


10) Quem deverá ter o direito de paternidade de uma criança nascida fora do casamento?


11) Como é que um homem poderia engravidar?


12) As bases de dados informáticas são uma ameaça às nossas liberdades?


13) As pessoas podem viver separadas sem serem juridicamente divorciadas?


14) Cristo existiu historicamente?


15) Abortar é pecado?




François Brooks

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