Se me pergunto, “posso suicidar-me?”, a minha
frase interrogativa pode revestir várias significações:
Questão de facto (f)
Se se trata-se de uma questão de facto, a
resposta positiva é evidente, uma vez que eu tenho, de facto, essa possibilidade
e, ao mesmo tempo, muitos meios ao meu dispor para o fazer (que vou inibir-me
de discriminar). Uma questão de facto está relacionada com um fenómeno
observável, ou com um conhecimento que se pode obter através dessa observação.
Questão de ordem técnica (t)
Se encarar a questão como tendo a ver com os meios
para alcançar um objetivo, que se prendem com a eficácia, então estamos perante
uma questão técnica, na qual não estará envolvido qualquer problema filosófico.
Por exemplo, posso não poder suicidar-me se estiver paralisado e não tiver ao
meu alcance um dispositivo técnico que me permita executar essa ação. Neste
caso, como acontece com todas as questões de ordem prática, a questão só admite
uma resposta.
Questão jurídica (j)
Se entendermos a questão como querendo referir-se ao
que é legal – “a lei permite que me suicide?” – a resposta é negativa. Até a
incitação ao suicídio é considerada um crime à luz da lei portuguesa.
Questão científica (c)
Se modificarmos um pouco a questão percebe-se melhor
quando pode assumir uma aceção científica: “Em que condições os seres humanos
se suicidam?”/ “O que pode levar um ser humano ao suicídio?” Estamos no campo da
psicologia e da sociologia.
Questão religiosa (r)
Encarada como questão religiosa, ela procura saber
se o suicídio está de acordo com os dogmas religiosos (os valores religiosos)
que orientam a vida do sujeito que assim se interroga. Poucas religiões toleram
o suicídio e sabendo quais os valores que são defendidos por uma determinada
religião, pode responder-se, sem qualquer lugar para dúvida, a esta questão, no
quadro dessa religião.
Questão filosófica (fil)
É filosófica toda a questão que coloca o problema do
sentido, da finalidade, do valor, da legitimidade, de uma situação, de um
fenómeno, ou de uma ação para o homem (para a razão humana/ o auditório
universal) e que não pode reduzir-se à explicação científica dos factos ou à
modificação técnica da realidade.
Assim, podemos colocar essa questão do ponto de
vista ético: “Podemos (moralmente) suicidar-nos?”/ “Moralmente, temos o direito
de nos suicidar?” E aqui o problema ganha uma ressonância muito diferente em
relação aos exemplos anteriores. Em primeiro lugar, não é possível responder
apenas com sim ou não, temos que argumentar a favor de uma tese
(posição/ opinião fundamentada), porque não é possível dar uma resposta que
seja aceite por todos os seres humanos, encarados como seres racionais. É
racionalmente possível argumentar de forma fundamentada em favor de teses
contrárias, pelo que estamos perante uma questão que se abre à discussão.
De facto, ao longo da história da filosofia surgiram posições filosóficas a
favor do suicídio e posições contra pelo que temos que analisar de forma
cuidadosa os argumentos que os filósofos apresentam para sustentar uma
ou a outra tese.
Vamos agora tentar aplicar todas estas distinções:
Exercício:
De entre as quinze questões apresentadas, decida quais são:
- de ordem filosófica
(fil);
- questões de
facto (f); científicas (c); técnicas (t); jurídicas (j) ou religiosas (r).
Deve justificar com uma frase cada uma das suas escolhas,
tendo em especial atenção aos casos em que atribui à mesma questão várias
qualificações.
Questão
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Categoria
(fil;f;c;t;j;r)
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Justificação da escolha
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1)
Porque existe o mal?
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2)
Qual é a diferença salarial, em média, entre homens e mulheres?
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3)
Podemos aprender a lidar construtivamente com a morte?
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4)O
Rap e o Grafiti, podem ser considerados arte?
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5)
A quando da formação do universo, como se deu o Big Bang?
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6) Como armazenar, de forma
segura para o ambiente, os resíduos nucleares?
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7) Porque é que as mulheres
devem ser consideradas iguais aos homens?
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8) Qual foi o filósofo que
disse: “Só sei que nada sei?”
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9) Como ser feliz?
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10) Quem deverá ter o
direito de paternidade de uma criança nascida fora do casamento?
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11) Como é que um homem
poderia engravidar?
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12) As bases de dados
informáticas são uma ameaça às nossas liberdades?
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13) As pessoas podem viver
separadas sem serem juridicamente divorciadas?
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14) Cristo existiu
historicamente?
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15) Abortar é pecado?
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François Brooks
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