sábado, 29 de outubro de 2016

Filosofia para Totós



“Só desejo que a filosofia possa aparecer perante os nossos olhos em toda a sua unidade, tal como, nas noites sem núvens, toda a extensão do firmamento está estendida perante nós para a admirarmos! Essa seria uma visão próxima à que temos do firmamento. Pois então decerto que a filosofia iria extasiar todos os mortais que a amam; devíamos abandonar todas aquelas coisas que, na nossa ignorância acerca do que é realmente importante, nós acreditamos que são importantes [sem o serem].
Séneca (Filósofo estóico do século I d.C.).

Filosofia para Totós? Que conceito! É o oxímoro, uma contradição nos termos, ou pelo menos uma contradição evidente, um exercício de futilidade, tal como “Cálculo Avançado para Imbecis”, ou “Neurocirurgia para Desastrados”?

Não. De forma nenhuma. O filósofo antigo Sócrates (século V a.C.), ensinou que, quando estão em causa as Questões Últimas (as questões mais importantes) todos nós começamos por ser totós. Mas se estivermos humildemente conscientes do quão pouco de facto sabemos, então poderemos, de facto, começar a aprender.

De facto, Platão  (cerca de 428-347 a.C.), o mais próximo discípulo de Sócrates, conta-nos uma história interessante sobre o seu mestre: diz-nós que Sócrates soube que o oráculo de Delfos tinha dito que ele era o homem mais sábio de Atenas. Chocado com este anúncio inesperado, começou a procurar os homens que em Atenas tinham a maior reputação de serem sábios e começou a questioná-los de forma intensiva. Depressa descobriu que, em relação a assuntos-chave e verdadeiramente importantes, eles, realmente, pouco ou nada sabiam acerca daquilo que estavam convencidos conhecer. Com base nesta experiência, ele lentamente começou a compreender que a sua própria sabedoria deveria consistir na sua consciência de quão pouco de facto sabia acerca das coisas que mais importam e o quanto é importante procurarmos tudo o que pudermos acerca desses assuntos. Não é o intelectual arrogante é convencido que dá mostras de ter sabedoria, mas aquele que procura a verdade com uma curiosidade autêntica e com uma mente genuinamente aberta. [...]

A palavra filosofia significa apenas “amor à sabedoria”. Isto é fácil de entender quando compreendemos que o amor é um compromisso e que a sabedoria é procurarmos ver a vida por dentro, [de forma plenamente consciente]. A filosofia é, no seu melhor, um compromisso apaixonado de procurar e abraçar as verdades mais fundamentais e as perspectivas mais penetrantes sobre a vida.

Aristóteles (384-322 a.C) também teve uma compreensão profunda que nos pode também guiar aqui. Este grande pensador, discípulo de Platão durante muitos anos e preceptor de Alexandre o Grande (muito antes de ele ser conhecido dessa forma, uma vez então ainda era o pequeno Alexandre), escreveu numa das suas obras mais importantes que “a filosofia começa com o espanto”. E ele estava certo. Se nos permitirmos sentir espanto acerca das nossas vidas, acerca daquelas coisas que temos como garantidas, e acerca daquelas grandes questões que frequentemente conseguimos  ignorar à medida que nos entregamos aos afazeres corriqueiros da vida quotidiana, estaremos a começar a comportar-nos como verdadeiros filósofos. Se pensarmos empenhadamente nessas questões e disciplinarmos o nosso raciocínio, de tal forma que possamos fazer verdadeiros progressos, começaremos a agir como bons filósofos. Mas não podemos verdadeiramente agir como filósofos se não começarmos a viver de acordo com as nossas descobertas filosóficas. Para sermos filósofos no sentido mais profundo, temos que pôr em ação a nossa sabedoria.\

Tom Morris, Philosophy for Dummies.

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